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América Latina

30 anos: engenheiro que projetou Itaipu revê sua trajetória

A central de Itaipu completou 30 anos de atividade como a hidrelétrica que mais energia elétrica gera do mundo

25 mai 2014 - 00h49
(atualizado às 00h56)
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Paul Folberth foi o engenheiro que liderou o projeto de Itaipu, a maior hidrelétrica em produção do mundo
Paul Folberth foi o engenheiro que liderou o projeto de Itaipu, a maior hidrelétrica em produção do mundo
Foto: EFE

De piloto do Exército alemão na Segunda Guerra Mundial, a prisioneiro dos soviéticos e finalmente emigrante sem dinheiro no Canadá, assim foi a trepidante juventude de Paul Folberth, antes de chegar a ser o engenheiro que liderou o projeto de Itaipu, a maior hidrelétrica em produção do mundo.

Folberth, nascido na Romênia mas naturalizado alemão, repassou com a agência EFE sua intensa vida durante uma visita a Assunção para comparecer aos atos de comemoração do 30º aniversário da represa que ele projetou, encravada no caudaloso Rio Paraná, que marca a fronteira entre Brasil e Paraguai, países que administram a hidrelétrica.

Aos 19 anos, Folberth servia como piloto para a Alemanha nazista, mas no final da guerra foi enviado para defender Berlim, que em 1945 foi tomada pelos soviéticos, que semanas depois o detiveram em uma das ruas transformadas em ruínas pela batalha.

O jovem soldado foi enviado a um campo de concentração junto com os outros derrotados, mas graças a uma das médicas que lhe atendeu antes de ser condenado a trabalhos forçados e que lhe disse que com seus 38 quilos "melhor era morrer em casa", conseguiu escapar e voltar a se encontrar com sua família.

Folberth concentrou todos seus esforços em estudar engenharia civil na Alemanha, algo que o ajudou a "esquecer os horrores do Exército nazista durante a Guerra", e em 1951, sem dinheiro e sem saber uma palavra de inglês embarcou para o Canadá onde lhe tinham prometido um emprego como desenhista até que aprendesse o idioma.

Na América do Norte, o engenheiro começou sua brilhante carreira que o levaria a projetar Itaipu, então a maior hidrelétrica do mundo, encarregada de abastecer de energia limpa Brasil e Paraguai.

A central de Itaipu completou 30 anos de atividade como a hidrelétrica que mais energia elétrica gera do mundo, apesar de a China ter construído uma usina de maior capacidade, mas que ainda não alcançou o nível da represa sul-americana.

No dia 5 de maio de 1984, a primeira de suas atuais 20 turbinas foi conectada ao sistema elétrico do Paraguai e começou a trabalhar efetivamente, dez anos depois da assinatura do tratado constitutivo para dar vida à obra na fronteira com o Brasil.

A hidrelétrica teve um custo de US$ 27 bilhões e 16 anos de trabalho de cerca de 30 mil pessoas. Hoje, a Itaipu Binacional fornece 75% da energia consumida pelo Paraguai e 17% da demandada do Brasil.

"Como engenheiro não me impressionou, só era maior que outras. Só tivemos que ser mais cuidadosos", assegura Folberth, que investiu quatro anos no projeto da represa que em dezembro bateu pelo segundo ano consecutivo o recorde mundial de produção de energia, ao conseguir um valor de 98,5 milhões de megawatts por hora (MWh).

O especialista lembrou que a maior complicação da gigante obra foi pensar como construir a sala de máquinas no leito de um dos rios mais caudalosos do mundo.

"Em outras represas, o desvio de água para isso provocou tremendas catástrofes e era o que mais nos preocupava", acrescentou. Folberth afirma que o "segredo" está no fechamento das comportas que são usadas para expulsar o excedente de água.

"No Paquistão, Índia e EUA, aconteceram tremendas catástrofes por fixar as comportas com parafusos que cediam com a vibração. Eu decidi soldá-los à estrutura", disse enquanto desenha em um caderno planos em perspectiva do muro da usina.

Aos 88 anos, Folberth assegura que não mudaria nada do projeto original e relembra o dia em que a obra terminou: "Não tínhamos medo, mas sim a sensação de ter completado um grande desafio".

O engenheiro participou também no projeto da represa de Yacyreta, que o Paraguai compartilha com a Argentina; e em outras obras hidráulicas em um total de 14 países. Seu último trabalho foi como consultor das obras do Canal do Panamá em 2008.

Folberth prevê um bom futuro para a energia hidrelétrica e que os Estados vão continuar construindo-as "em todos os lugares possíveis porque é mais barato".

EFE   
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