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Autoridades não descartam suicídio de procurador argentino

Alberto Nisman acusou a presidente de acobertar o Irã por seu suposto envolvimento no atentado que deixou 85 mortos e 300 feridos em 1994

19 jan 2015 - 10h15
(atualizado às 11h40)
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Promotor argentino Alberto Nisman, que investigava um atentado a bomba de 1994 em Buenos Aires, durante reunião com jornalistas em seu gabinete, em Buenos Aires, em julho de 2013
Promotor argentino Alberto Nisman, que investigava um atentado a bomba de 1994 em Buenos Aires, durante reunião com jornalistas em seu gabinete, em Buenos Aires, em julho de 2013
Foto: Marcos Brindicci / Reuters

As autoridades argentinas investigavam nesta segunda-feira a morte do procurador Alberto Nisman, que acusou há alguns dias a presidente Cristina Kirchner de acobertar o Irã no atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994, classificada como uma aparente suicídio pelo secretário de segurança.

"Todos os caminhos levam ao suicídio", declarou o secretário de Segurança, Sergio Berni.

O funcionário indicou que a presidente Kirchner foi notificada do caso, e afirmou que as perícias foram feitas "com absoluta transparência em frente ao juiz, à procuradora, e com a presença de testemunhas e da família de Nisman", disse o canal de notícias TN.

Já a procuradora Viviana Fein, encarregada de investigar a morte de seu colega, pediu prudência.

"Estamos investigando ainda, é preciso ter muita cautela", disse Fein, confirmando que o corpo foi encontrado pela mãe de Nisman no banheiro de seu aparamento, em um edifício com segurança particular no luxuoso bairro de Puerto Madero.

O ministério de Segurança da Argentina divulgou um comunicado no qual detalha que Nisman "foi encontrado sem vida na noite de domingo em seu apartamento do 13º andar da torre Le Parc", de Puerto Madero, no coração de Buenos Aires.

Segundo as autoridades, Nisman tinha dez agentes da polícia para fazer sua proteção pessoal e foram eles que "alertaram sua secretária durante a tarde devido à falta de resposta aos insistentes telefonemas".

"Ao constatar que o homem também não respondia à campainha da casa e que o jornal de domingo ainda estava no corredor, decidiram avisar os familiares", disse o comunicado.

Os seguranças buscaram a mãe do procurador, a levaram ao edifício e, ao tentar entrar, a mulher constatou que a porta estava fechada com a chave colocada na fechadura por dentro.

Os familiares pediram ajuda a um chaveiro para entrar no apartamento.

"No início da noite, a mãe entrou na casa acompanhada por um dos seguranças, encontrando o corpo de Nisman no interior do banheiro de seu quarto, bloqueando a porta de entrada ao mesmo".

"Junto ao corpo de Nisman, que estava no chão, foi encontrada uma arma de fogo calibre 22, além de uma cápsula de bala", indicou.

O procurador Nisman, de 51 anos, iria se apresentar nesta segunda-feira no Congresso para dar detalhes de sua dura denúncia contra a presidente Kirchner e seu chanceler Héctor Timerman, acusados por ele na quarta-feira passada de acobertar o Irã por seu suposto envolvimento no atentado contra a AMIA, que deixou 85 mortos e 300 feridos em 1994.

O governo negou a denúncia do procurador, chamando-o de mentiroso e atribuindo a atuação de Nisman a uma operação dos serviços de inteligência.

Nisman havia sido designado em 2004 por Néstor Kirchner como procurador especial para o caso AMIA, um ano após a anulação de um julgamento por irregularidades na investigação.

Em um relatório de 300 páginas, Nisman pediu uma investigação contra Kirchner, que supostamente teria favorecido a assinatura em 2013 de um Memorando de Entendimento entre Argentina e Irã para poder interrogar os acusados em um terceiro país e avançar em um caso estancado há 20 anos.

A acusação de Nisman foi o último de uma série de confrontos entre funcionários de alto escalão e a justiça argentina sobre o esclarecimento deste atentado.

Além da investigação, Nisman havia pedido um embargo preventivo de bens no valor de 200 milhões de pesos (23 milhões de dólares) de Kirchner, de Timerman e de outros funcionários.

A denúncia foi recebida com cautela por grupos da comunidade judaica, embora ao longo da semana tenham pedido que as provas que Nisman tinha fossem divulgadas.

Segundo o procurador, a posição do governo de Kirchner obedecia a seu interesse pelo petróleo iraniano porque "buscava restabelecer relações comerciais de Estado a Estado, sem prejuízo dos intercâmbios que já existiam em nível privado".

A deputada opositora Patricia Bullrich disse estar consternada com a morte do procurador e afirmou que este ocorrido é "uma grave afronta à institucionalidade do país".

"Um procurador morto antes de dar um relatório ao Congresso em um caso onde há terrorismo internacional me parece de uma enorme gravidade", acrescentou Bullrich.

A deputada disse ter falado no sábado com Nisman três vezes e ele mencionou que havia recebido várias ameaças.

"Disse que se sentia tranquilo e contou que explicou a situação a sua filha de 15 anos", disse a deputada em declarações ao canal C5N.

Para a audiência desta segunda-feira o procurador solicitava que seu comparecimento ocorresse em particular, mas parlamentares governistas exigiam que a audiência fosse pública e transmitida pela televisão.

O governo argentino rejeitou a denúncia "vil" do procurador.

"Depois de anos contando com o apoio político do (falecido ex-presidente) Néstor Kirchner e da atual presidente, o procurador acusa vilmente a política mais ativa (...) em relação ao julgamento e castigo dos responsáveis pelo brutal atentado terrorista", afirmou Timerman em uma declaração na quinta-feira.

A assinatura de um memorando de entendimento com o Irã - denunciado como inconstitucional pela AMIA e por outras organizações judaicas - aumentou a tensão nas relações entre o governo de Kirchner e esta comunidade, integrada por 300.000 membros, a maior da América Latina.

O governo defendeu o acordo bilateral com o Irã para investigar os acusados de planejar o ataque.

Cinco ex-funcionários iranianos, entre eles um ex-presidente, atuais ministros e líderes religiosos locais, têm uma ordem de captura internacional da Interpol a pedido da justiça argentina.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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