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Bispos dizem que Argentina está 'doente de violência'

Em declaração considerada excepcionalmente dura, os bispos da Igreja Católica argentina assumiram a existência do caos na região

9 mai 2014 - 21h33
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<p>Igreja afirmou que 'corrupção é câncer social' no país</p>
Igreja afirmou que 'corrupção é câncer social' no país
Foto: Reuters

O documento, divulgado após a Conferência Episcopal, que reuniu cem religiosos na província de Buenos Aires, advertiu contra a insegurança pública, as drogas e a corrupção no país.

"Os delitos não só aumentaram em quantidade, mas também em agressividade. Uma violência cada vez mais feroz e sem compaixão provoca lesões graves e chega em muitos casos ao homicídio", diz o documento da 107ª assembleia da conferência episcopal.

Ante o contexto de alta popularidade do papa argentino Francisco e da crescente preocupação do país com a questão da segurança pública, a declaração dos bispos parece ter tido maior relevância na Argentina.

No documento, os religiosos afirmam que a "corrupção tanto pública quanto privada é um verdadeiro câncer social, causante da injustiça e da morte". E destacam: "Desviar dinheiro que deveria ser destinado ao bem do povo provoca ineficiência nos serviços básicos como saúde, educação e transporte".

Os bispos afirmam ainda que geralmente estes "delitos prescrevem (...) garantindo a impunidade". Eles pediram "independência judicial" e "que juízes e promotores tenham os meios para cumprir sua missão".

Os bispos criticaram ainda a "lentidão da justiça", com "metade dos presos" esperando a sentença e sem poder, afirmar, pagar por advogados. "A lentidão da justiça deteriora a confiança dos cidadãos em sua eficácia."

A declaração desta sexta era esperada no país e teve forte repercussão na imprensa local, com destaque nos sites de notícias e nas emissoras de rádio e de televisão. "Em um duro documento, a Igreja advertiu que a Argentina está doente de violência", destacou o jornal La Nación em seu site.

O tema também foi comentado nas redes sociais. A agrupação política La Campora, que reúne jovens e não tão jovens, que apoiam a presidente Cristina Kirchner, rebateu a declaração no Twitter: "A Argentina não está doente".

A deputada opositora Patricia Bullirch, por sua vez, publicou a declaração em sua conta na rede social e o conteúdo foi retuitado por seus seguidores.

Preocupação argentina

A segurança pública, junto com a inflação, é apontada como uma das principais preocupações dos argentinos, segundo pesquisas de opinião.

A Igreja Católica argentina costuma criticar questões do cotidiano e da política argentina nas homílias das missas e nas afirmações públicas - fato que costumava gerar fortes polêmicas quando o papa Francisco era o cardeal de Buenos Aires e fazia ressalvas que eram interpretadas como indiretas às medidas do governo do kirchnerismo.

Ele costumava criticar a pobreza e iniciativas específicas do poder central, como o casamento gay, que entrou em vigor durante a atual gestão política.

Desde que ele passou a ocupar a cadeira do Vaticano, a relação com a presidente Cristina Kirchner, que o visitou duas vezes na Santa Sé, é apontada por analistas como "mais fluida".

Na campanha eleitoral para o Congresso, no ano passado, foram espalhados em Buenos Aires cartazes com a foto da presidente ao lado do papa e do candidato governista ao Parlamento.

Ao mesmo tempo, as igrejas passaram a ficar mais cheias de fiéis após a nomeação de Francisco. Nos últimos dias, uma exposição sobre a trajetória do jesuíta que virou papa provoca filas na Feira do Livro de Buenos Aires.

A declaração dos bispos, chamada "Felizes os que trabalham para a paz", foi acompanhada por uma oração de São Francisco de Assis para que seja rezada nas igrejas do país no dia 25 de maio, data nacional. São Francisco inspirou o nome Francisco para Jorge Bergoglio.

Na declaração, os bispos fazem mais de uma referência ao pontífice. Ao falar, por exemplo, sobre os pobres, afirmaram que o papa Francisco "alertou para a globalização da indiferença".

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