Com cubanos, Venezuela volta à lista de tráfico de pessoas
Lista é do governo dos Estados Unidos e cita condições de trabalho de cubanos - em especial médicos - no país da América do Sul
Os Estados Unidos denunciaram nesta sexta-feira a Venezuela por descumprir os requisitos mínimos na luta contra o tráfico de pessoas, ao incluir o país sul-americano novamente em sua lista negra sobre o tema, onde Cuba permanece desde 2003.
Washington havia retirado a Venezuela da lista há dois anos, mas considerou que o país não tem um plano definido na luta contra o tráfico de humanos e, por isso, "não está fazendo esforços significativos para cumprir os padrões mínimos" para atacar o problema, afirmou o Departamento de Estado em um relatório.
A Venezuela se junta a Malásia, Tailândia, Síria, Irã e Coreia do Norte como os países com as piores classificações do relatório anual do Departamento de Estado sobre tráfico de pessoas, o que pode acarretar sanções, como o fim da ajuda não humanitária americana.
No entanto, o secretário de Estado, John Kerry, fez uma autocrítica, ao declarar que seu país também não está isento de sofrer o flagelo do tráfico.
"Se os gritos dos que são escravizados ao redor do mundo fossem um terremoto, os tremores seriam sentidos em cada país e em cada continente simultaneamente (...) incluindo o nosso. Não estamos isentos", afirmou o chefe da diplomacia americana durante a cerimônia de apresentação do relatório.
No documento, os Estados Unidos reconhecem que as autoridades venezuelanas prenderam acusados de tráfico sexual e trabalho forçado, mas criticou Caracas pela falta de condenações e de relatórios de cooperação internacional no tema.
De acordo com o relatório, alguns dos 30 mil cubanos - principalmente médicos - que trabalham em programas sociais na Venezuela, envolvidos na cooperação entre Caracas e Havana, são submetidos a longas horas de trabalho, baixos salários e represálias contra suas famílias caso se queixem.
Em Cuba, na lista negra desde 2003, o documento denunciou condições de trabalho forçado e exploração sexual de crianças, embora tenha reconhecido a intenção de Havana de se adaptar aos requerimentos das Nações Unidas contra o tráfico de pessoas.
A escala do tráfico mundial de pessoas parece estar aumentando. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, o tráfico gera receitas anuais de US$ 150 bilhões, US$ 99 bilhões das quais são provenientes da indústria do sexo.
Estimativas apontam entre 20 e 27 milhões de pessoas vivendo em situação de escravidão moderna ao redor do mundo.
Por outro lado, as condenações no mundo por tráfico humano aumentaram de 7.705 em 2012 para 9.460 em 2013, e mais de 44.000 vítimas foram identificadas.
"Isto é um apelo à ação, é um apelo à consciência, é um lembrete do que acontece em muitos lugares obscuros que precisam de luz", disse Kerry.
Na América Latina, Bolívia e Panamá foram incluídos no grupo de países sob observação especial, posição compartilhada com nações caribenhas como Jamaica, Haiti, Guiana e Suriname.
A maioria dos países da região não respeita os níveis mínimos estipulados pela lei americana de proteção às vítimas de tráfico do ano 2000, mas fazem esforços para alcançá-los, disse o relatório.
Dos 188 países avaliados, 15 tiveram uma redução em sua nota em relação ao ano passado, enquanto outros 15 melhoraram sua classificação, devido aos esforços para eliminar o tráfico.
O Chile avançou para topo da lista, junto com os próprios Estados Unidos e com o Reino Unido.
As autoridades chilenas "fortaleceram os esforços" policiais e judiciais e melhoraram o atendimento às vítimas, indicou o Departamento de Estado.
O relatório reconheceu uma heroína da região: Jhinna Pinchi, uma jovem peruana que escapou em 2009 de uma rede de prostituição e depois conseguiu a condenação de seus sequestradores na justiça de seu país.