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Crise na Venezuela se agrava com ataque de helicóptero a Suprema Corte em novo capítulo 'estrelado' por ator-piloto

Aeronave teria disparado granadas e tiros contra prédio do Supremo Tribunal de Justiça e Ministério do Interior em Caracas; grupo se apresenta como 'coalizão de militares, policiais e civis'; governo diz que foi 'ataque terrorista'.

28 jun 2017 - 08h51
(atualizado às 08h58)
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Óscar Pérez foi acusado pelo governo venezuelano de ter ligações com a CIA e com embaixada dos EUA
Óscar Pérez foi acusado pelo governo venezuelano de ter ligações com a CIA e com embaixada dos EUA
Foto: Reprodução/Instagram

Um helicóptero dispara contra o Supremo Tribunal de Justiça e o Ministério do Interior da Venezuela. Quatro granadas são lançadas e 15 tiros disparados - ninguém é ferido.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chama o ocorrido de "ataque terrorista". A culpa recai sobre um inspetor de polícia, que também é "piloto, paraquedista, mergulhador e ator", e se apresenta, em um vídeo, como "guerreiro de Deus". O governo diz que ele tem ligações com a CIA.

Esses desdobramentos, ocorridos ontem em Caracas, dão um tom de surrealismo à situação no país vizinho ao Brasil, marcada por tensão e uma onda protestos contra o governo que já deixou quase 80 mortos.

O helicóptero também chegou a sobrevoar o Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano. Não há informações sobre vítimas.

Vídeos circularam nas redes sociais mostrando um helicóptero azul com um emblema da polícia sobrevoando o edifício do Supremo Tribunal de Justiça.

Também foram compartilhadas imagens dos tripulantes da aeronave segurando um cartaz no qual se leem a palavra "liberdade" e o número 350, em referência ao artigo da Constituição venezuelana sobre desobediência civil.

Por trás da ação está um grupo que reúne militares, policiais e civis.

O único integrante identificado até agora foi o inspetor Óscar Pérez, do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (CICPC), que o governo acusou de ter ligações com a CIA, a agência de inteligência americana, e a embaixada dos Estados Unidos.

Segundo o ministro de Informação da Venezuela, Ernesto Villegas, Pérez roubou um helicóptero pouco depois de publicar em suas redes sociais um vídeo em que fala do governo como "transitório e criminoso" e diz fazer uma ação para "devolver o poder ao povo democrático".

Villegas afirmou que quatro granadas - uma não explodiu - foram lançadas e 15 tiros disparados.

Pérez e o helicóptero seguem em paradeiro desconhecido.

Além disso, o ministro associou Pérez ao ex-ministro do Interior Miguel Rodríguez Torres, agora crítico do governo.

Horas antes, os deputados da Assembleia Nacional, controlada pela oposição, enfrentaram agentes da Guarda Nacional e denunciaram o cerco do palácio legislativo por parte dos simpatizantes do presidente.

Helicóptero foi filmado atacando Ministério do Interior e Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela
Helicóptero foi filmado atacando Ministério do Interior e Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela
Foto: BBC News Brasil

Crise

A divulgação das imagens do helicóptero aprofundou a tensão em um país dividido, onde o governo acusa a oposição de estar tramando um golpe de Estado.

Nas redes sociais, Pérez publicou um vídeo em que lê um comunicado. Ele fala de "um combate contra a morte de inocentes que lutam por seu direito contra a fome".

"Somos uma coalizão de militares, policiais e civis em busca do equilíbrio e contra este governo transitório criminoso", disse Pérez no vídeo à frente de quatro homens encapuzados.

O grupo, que diz não pertencer a nenhum partido político, se define como "nacionalista, patriota e institucionalista" e contrário "à tirania".

Villegas descreveu a ação como "um ato subversivo" e um "ataque armado". Para ele, Pérez "levantou armas contra a Constituição".

Já Maduro classificou o episódio como "ataque terrorista contra as instituições do país".

Segundo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, unidades especiais das Forças Armadas foram destacadas para capturar grupo responsável por ataque
Segundo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, unidades especiais das Forças Armadas foram destacadas para capturar grupo responsável por ataque
Foto: BBC News Brasil

Em comunicado do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ na sigla espanhola), o presidente do tribunal, Maikel Moreno, recusou e condenou o "ataque terrorista" que pôs "em perigo a integridade física dos trabalhadores e trabalhadoras que se encontravam dentro de suas salas".

O Supremo Tribunal de Justiça vem sendo muito criticado pela oposição e pela procuradora-geral do país, Luisa Ortega. O órgão é acusado de ceder a exigências do Executivo, que está promovendo agora uma nova Constituinte para reformar o Estado e redigir uma nova Constituição.

As propostas são criticadas pela oposição e inclusive por alas do próprio chavismo, que acusam o governo de ter se transformado em uma "ditadura". O Executivo, por sua vez, afirma que seus rivais políticos estão promovendo um golpe e uma intervenção estrangeira.

A onda de protestos foi motivada por decisões recentes do TSJ. A mais polêmica delas ocorreu no início de abril, quando o tribunal assumiu as funções do Parlamento. O próprio tribunal anulou a medida logo depois em meio a intensa pressão.

Policial e ator

De acordo com a imprensa venezuelana, Pérez é um agente altamente treinado, parte da Brigada de Ações Especiais (BAE), tendo chegado a ocupar a chefia de operações da Divisão Aérea da instituição.

Nos vídeos que circularam nas redes sociais logo depois do episódio, o policial é o único que mostra seu rosto.

O grupo sobrevoou a sede do Ministério do Interior e realizou 15 disparos contra uma festa com 80 convidados.

Logo depois, se dirigiu ao Supremo Tribunal de Justiça, onde, além de disparar enquanto uma sessão era realizada, lançou pelo menos quatro granadas.

Em vídeos compartilhados em sua conta no Instagram, Pérez mostra sua coleção de armas de grosso calibre.

"Fazemos um apelo a todos os venezuelanos do leste ao oeste, de norte ao sul (...) para reencontramos com nossas Forças Armadas e, juntos, recuperarmos nossa amada Venezuela", disse ele na terça-feira.

Em outro momento da gravação, ele pede que Maduro e todos seus ministros renunciem.

"Neste dia, estamos realizando uma ação aérea-terrestre com o único fim de devolver o poder ao povo democrático, e assim cumprir as leis, para restabelecer a ordem constitucional", acrescenta Pérez.

Em pronunciamento em cadeia nacional, Maduro afirmou que "vamos capturar os que realizaram este ataque armado".

Segundo ele, "todas as unidades especiais das Forças Armadas Nacionais estão destacadas para capturar este grupo".

Pérez também ganhou destaque por outra faceta de sua vida, pois teve uma incursão pelo cinema.

Em 2015, foi ator do filme venezuelano Morte suspendida, que conta a história de um sequestro e como policiais do esquadrão de elite acabam por resgatar o refém.

O longa-metragem se baseia nas atividades do CICPC. Na ocasião de seu lançamento, Pérez chegou a dar entrevistas à imprensa local.

Uma delas foi ao jornal Panorama, ao qual disse que era "piloto de helicóptero, mergulhador e paraquedista. Também sou pai, marido e ator (...). Sou um homem que sai às ruas sem saber se vai voltar para casa porque a morte faz parte da evolução", afirmou ele na ocasião.

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