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América Latina

Enterrado corpo de promotor que denunciou governo da Argentina

29 jan 2015 - 16h17
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O promotor argentino Alberto Nisman, encontrado morto com um tiro na cabeça depois de acusar o governo de proteger os acusados de um atentado contra uma associação judaica em 1994, foi sepultado nesta quinta-feira num cemitério localizado no oeste da grande Buenos Aires.

Carro fúnebre com corpo do promotor argentino Alberto Nisman chega ao cemitério La Tablada, nos arredores de Buenos Aires, na Argentina, nesta quinta-feira. 29/01/2015
Carro fúnebre com corpo do promotor argentino Alberto Nisman chega ao cemitério La Tablada, nos arredores de Buenos Aires, na Argentina, nesta quinta-feira. 29/01/2015
Foto: Martin Acosta / Reuters

Ocorrida em 18 de janeiro, a morte de Nisman ocupa desde então a primeira página dos jornais, já que ainda não está claro se foi um suicídio ou um assassinato, em meio a uma trama obscura que envolve os serviços de inteligência do país.

Dias antes da sua morte, o promotor, responsável pela investigação da explosão na Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que deixou 85 mortos, havia acusado a presidente argentina, Cristina Kirchner, de ter participado de um complô para ocultar os iranianos acusados do atentado.

"Venho enterrar um pedaço da República, porque o que aconteceu é muito sério e muito grave", declarou a deputada opositora Patricia Bullrich a jornalistas na entrada do cemitério pertencente à comunidade judaica.

Bullrich disse que fez vários contatos com Nisman no dia anterior à sua morte para combinar os detalhes do seu testemunho perante uma comissão do Congresso Nacional em 19 de janeiro para explicar os fundamentos de sua denúncia contra o governo.

Nisman, de 51 anos, alegou que a assinatura de um memorando de entendimento entre Argentina e Irã em 2013, que iria possibilitar interrogar os acusados do atentado contra a Amia, foi na verdade uma manobra para "desincriminar" o Irã e promover o comércio bilateral.

Cristina classificou a denúncia de Nisman como "absurda".

O governo acredita que agentes de inteligência demitidos há pouco tempo e que colaboravam com Nisman podem ter lhe passado informações falsas e instigado sua morte.

As duas filhas do promotor e sua ex-mulher destacaram em dois anúncios fúnebres publicados nesta quinta-feira no jornal La Nación seu compromisso com o trabalho na promotoria, criada em 2004 exclusivamente para a investigação do atentado.

"Hoje te damos adeus, sabendo de tua dedicação ao trabalho. Esperamos que possa estar em paz", escreveram suas filhas, Iara e Kala.

"Te dou adeus desejando que encontre a paz que a tua entrega ao trabalho não te permitiu usufruir plenamente”, disse sua ex-mulher, a também advogada Sandra Arroyo Salgado.

O cortejo com o corpo do promotor foi acompanhado por dezenas de pessoas que se despediram com aplausos, pedidos de justiça e cartazes com a frase "Todos somos Nisman".

(Reportagem de Eliana Raszewski)

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