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Estímulo à fertilidade se torna política de estado em Cuba

Problemas econômicos e de habitação, imigração e emancipação feminina influenciam diretamente na baixa reprodução na ilha

27 jun 2015 - 10h11
(atualizado às 12h00)
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Grafite com imagem do herói revolucionário Ernesto "Che" Guevara e uma bandeira cubana, em Havana, Cuba, em maio
Grafite com imagem do herói revolucionário Ernesto "Che" Guevara e uma bandeira cubana, em Havana, Cuba, em maio
Foto: Enrique de la Osa / Reuters

A fecundidade se transformou em assunto de estado em Cuba, um país envelhecido e sem boas garantias de renovação populacional onde, após diversos estudos e censos, o governo já fala em estimular o nascimento de dois ou mais filhos e custear um programa nacional para tratamentos de fertilidade.

Dos círculos acadêmicos e científicos, o fenômeno saltou com força há poucos anos à opinião pública e entrou na agenda do Conselho de Ministros, instância que em outubro do ano passado aprovou uma política para lidar com o complexo problema demográfico, começando por estimular a fecundidade.

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O Centro de Estudos de População e Desenvolvimento do país afirma que a encruzilhada econômica e social enfrentada pelo país devido ao galopante envelhecimento tem sua principal origem na fertilidade, abaixo do nível de renovação populacional (menos de um filho por mulher) há 36 anos.

"Muitas das minhas amigas não querem um segundo filho, e outras sequer estão cogitando o primeiro. Acho que o que mais pesa são os problemas econômicos", disse à Agência Efe Iselmys González, uma havanesa de 28 anos, mãe de uma menina de dois e que, por enquanto, não pretende ter mais filhos.

González garante que sua gravidez, como a da maioria de suas amigas, foi um "acidente", e ela a levou adiante por razões médicas porque, em um cenário diferente, "sinceramente não teria tido o bebê, teria esperado mais anos".

Casais consultados pela Efe em Havana opinaram que os problemas de habitação e os econômicos em um país que sofre uma profunda crise desde os anos 90 e onde os salários são insuficientes, influenciam diretamente na baixa reprodução.

No entanto, o diretor do Centro de Estudos de População e Desenvolvimento, Juan Carlos Alfonso, comentou no último mês de maio que a baixa fecundidade não pode ser atribuída somente à crise econômica ou à emigração, pois tem múltiplas causas, entre elas a emancipação feminina na Cuba socialista.

Em termos médicos, a endocrinologista Kenia Rodríguez ressaltou que muitas cubanas adiam a maternidade para depois dos 35 anos, o que, unido à prática de abortos (legal e gratuito em Cuba) e algumas doenças de origem infecciosa e endócrina, está incidindo no "aumento" da população infértil da ilha.

"O que está nas estatísticas é que entre 16% e 18% dos casais em idade reprodutiva sofrem com infertilidade, mas a partir de estudos preliminares se infere que há até 20% em casais analisados, o que significa que poderia haver muito mais", explicou Rodríguez, que dirige o principal centro de fecundação in vitro de Cuba.

Entre 2006 e 2013, mais de 200 crianças nasceram graças à técnica de fecundação in vitro no hospital Hermanos Amejeiras, em Havana, onde no ano passado foram atendidos 1.152 casais, dos quais 28% iniciaram tratamento em laboratório.

Segundo a experiência de Rodríguez, em Cuba há uma aceitação "total" da fecundação in vitro e uma clara vontade política por parte do governo, que promove um programa nacional e gratuito de reprodução assistida que inclui quatro instituições de alta tecnologia, duas delas abertas em 2014 fora da capital.

"O Estado destinou muitos recursos para isto, é uma prioridade, e está sendo feita uma análise para saber o que é preciso fazer para melhorar os resultados", argumentou a endocrinologista.

Cuba promete expandir a internet no país:

Segundo o que foi anunciado pelo Conselho de Ministros, outra prioridade do governo de Raúl Castro será a implementação de "políticas fiscais e de preços" que favoreçam a natalidade, embora ainda não tenham sido divulgadas medidas concretas.

A professora Luisa Iñíguez, especialista em Geografia Humana da Universidade de Havana, considera que as políticas de população aplicadas deveriam ser "flexíveis" ou "focadas" em conseguir o efeito desejado em um país de crescente heterogeneidade.

"Acredito que o 'onde' é bastante importante", comentou Iñíguez, que percebeu casos de maior fecundidade em mulheres em áreas urbanas precárias e rurais, e questiona a relação direta entre a questão econômica e a perspectiva de filhos em Cuba.

Por outro lado, Iñíguez acredita que os casais ligados ao emergente setor privado, uma área que promete maiores receitas que a estatal, poderão ter mais incentivos e filhos, embora não seja um tema estudado.

Maylín Saavedra, de 30 anos e recém empregada em um negócio privado, disse à Agência Efe que na realidade esse setor "freia" a fertilidade, pois há poucas "garantias" para o cumprimento da lei de maternidade cubana.

"Subentende-se que te darão poucas das facilidades que a lei permite e, como é lógico, as pessoas têm medo de perder o trabalho", opinou Saavedra.

EFE   
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