Governo e oposição da Venezuela discutem saída para crise
Delegados do governo e da oposição na Venezuela se encontraram nesta terça-feira, no prédio da vice-presidência em Caracas, para iniciar a segunda reunião de diálogo de paz visando acabar com mais de dois meses de protestos contra o presidente Nicolás Maduro.
A reunião tenta estabelecer uma agenda de trabalho entre governo e oposição, que exige como temas prioritários uma lei de anistia aos presos políticos, o desarmamento dos paramilitares governistas e o estabelecimento de uma comissão da verdade independente para esclarecer as circunstâncias das 41 mortes e centenas de violações dos direitos humanos ocorridas durante as manifestações.
O governo, que rejeita a possibilidade de anistia e nega a existência das milícias, exige que a oposição se afaste dos grupos opositores violentos e reconheça a legitimidade de Nicolás Maduro.
"Na presença dos chanceleres (de Brasil, Colômbia e Equador) iniciaremos a primeira sessão de trabalho preparatório. Ao sair, informaremos o que conversamos", disse no Twitter o secretário-executivo da aliança opositora, Ramón Guillermo Aveledo, antes da reunião.
Previamente ao encontro, os chanceleres de Brasil, Colômbia e Equador se reuniram - separadamente - com os delegados do governo e da aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
A MUD defende que a "lei de anistia" seja o tema central da negociação, para "que todos os que estão presos e detidos pela perseguição política (...) sejam libertados", disse na segunda-feira o deputado opositor Tomás Guanipa, do partido Primeiro Justiça, liderado pelo ex-candidato à presidência Henrique Capriles.
A onda de protestos já deixou 175 detidos, incluindo dois prefeitos opositores e o líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, promotor da estratégia "La salida" (A saída), que busca forçar a renúncia de Maduro com os protestos de rua.
A oposição exige ainda a libertação, entre outros, do ex-comissário Iván Simonovis, preso há dez anos e condenado por homicídio por sua suposta participação na tentativa de golpe contra o então presidente Hugo Chávez, em 2002.
A MUD também pede a desmobilização dos chamados "coletivos", grupos armados identificados com o chavismo acusados de atirar contra os manifestantes.
Finalmente, a oposição exige a designação de uma comissão da verdade independente, que investigue os 120 supostos casos de violação dos direitos humanos durante os protestos; e a renovação dos juízes com mandato vencido no Tribunal Supremo de Justiça e no Conselho Nacional Eleitoral.
Segundo pesquisa da consultoria Hinterlaces publicada nesta terça-feira, 90% dos venezuelanos apoiam os diálogos de paz entre o governo e a oposição, mas somente 54% acham que ajudarão a resolver os problemas do país,
A pesquisa foi realizada depois do primeiro encontro do diálogo, na quinta-feira passada, e demonstra que a mensagem opositora tem uma repercussão levemente superior à do governo, apesar de a maioria dos entrevistas acreditar que o presidente Maduro está sinceramente interessado em pacificar o país (45%), contra 33% que acham o mesmo da oposição.