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México ganha site que promete ajudar no combate à corrupção

Ferramenta digital garante anonimato para quem enviar documentos sobre ilegalidades cometidas por autoridades

18 mar 2015 - 10h11
(atualizado às 17h35)
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Acabar com o medo que os mexicanos têm de denunciar atos de corrupção e abuso de poder é o principal objetivo da Mexicoleaks, ferramenta através da qual os cidadãos poderão divulgar para determinados veículos da imprensa e algumas organizações documentos sobre atos ilícitos cometidos por autoridades.

De acordo com a editora geral do portal de notícias "Animal Político", Dulce Ramos, a plataforma pretende eliminar as barreiras que os denunciantes podem vir a ter. Não haverá mais "medo de serem identificados, de divulgarem acordos secretos, de represálias políticas ou em relação à própria segurança, porque se os passos para o envio de um vazamento forem seguidos adequadamente, é impossível saber a origem da denúncia", declarou ela.

O "Animal Político" é um dos seis veículos de comunicação e duas organizações que participam da Mexicoleaks. A plataforma para denúncias anônimas teve início nesta semana, e em apenas alguns dias já recebeu mais de 50 documentos.

A ideia, que partiu da organização holandesa Free Press Unlimited, já existe em outros países e acabou de chegar ao México, onde a corrupção é uma das principais preocupações da população.

A editora explicou o funcionamento: o denunciante deve fazer o upload do arquivo que pretende divulgar e em seguida decidir se disponibilizará o documento para somente um membro da aliança, para vários ou todos. "Nós recebemos o arquivo através de um sistema criptografado, com toda a segurança desenvolvida para isto", afirmou.

Em seguida, a informação fica disponível na plataforma, e, caso seja identificada como "de interesse público e jornalístico", é aberta uma investigação para averiguar o conteúdo, mas o informante se mantem totalmente protegido. Existe a possibilidade de um diálogo ser estabelecido. As mensagens, no entanto, "expiram" e desaparecem em seguida, explicou Dulce.

Caso a denúncia chegue a vários veículos, estes precisaram entrar em contato para acordar como serão conduzidas as investigações, algo que, na opinião de Dulce, poderá ser muito positivo para a imprensa mexicana.

A editora explicou que "a relação histórica entre os veículos de comunicação mexicanos não é das melhores". Os profissionais da área frequentemente se olham com suspeita, pois "não estão acostumados a formar alianças, apesar de terem os mesmos objetivos", acrescentou.

"A imprensa certamente se esforçará o máximo possível para trazer à tona todos os casos de corrupção denunciados. No entanto, a Mexicoleaks não será garantia de punição, afinal é necessário que o Poder Judiciário e os ministérios públicos" também abram investigações, disse.

"Podemos fazer nosso trabalho bem documentado, com rigor, investigando, perguntando e contrastando, mas no final das contas a responsabilidade acaba sendo das autoridades", acrescentou Dulce.

Além do "Animal Político", participam da Mexicoleaks as revistas "Emeequis" e "Processo", "Periodistas de a Pie", "Más de 131" e a equipe de investigação da jornalista Carmen Aristegui.

A participação de Carmem gerou polêmica, porque a rádio para a qual trabalha, a MVS, se opôs à proposta e chegou a despedir dois funcionários. Após fazê-lo, a rádio teve seu site invadido por hackers, que publicaram um comunicado, sem nenhuma identificação, dizendo que, "involuntariamente, a MVS já pertence à Mexicoleaks, pois seus documentos e e-mails, além de outras informações estarão disponíveis na plataforma".

Além desses veículos de comunicação, também participam da Mexicoleaks as organizações Projeto sobre Organização, Desenvolvimento, Educação e Pesquisa (Poder) e Rede em Defesa dos Direitos Digitais (R3D).

Luis Fernando García, diretor da Rede em Defesa dos Direitos Digitais (R3D), explicou que a missão da aliança é defender o exercício dos direitos humanos através da tecnologia e afirmou que "a Mexicoleaks é precisamente uma ferramenta que facilita o exercício de direitos".

"O direito das pessoas que possuem uma informação de interesse público de se pronunciar, assim como o direito das mídias de divulgá-las e de proteger suas fontes", acrescentou.

De acordo com o diretor, essa nova ferramenta servirá para "fomentar a cultura de propagação da informação de interesse público, independentemente dos acordos de sigilo".

"Os 'divulgadores' são muito importantes em uma democracia e esta não é uma atividade ilegal, pelo contrário, é protegida pela liberdade de expressão, que conta com o reconhecimento de organismos de direitos humanos em nível internacional", garantiu García.

García assegurou que, caso seja necessário, acompanharão e defenderão os veículos que tiverem algum problema em função das informações divulgadas.

EFE   
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