Miss assassinada em Honduras pensava em carreira política
Morte de jovem de 19 anos, que representaria seu país nesta semana no Miss Mundo, gerou comoção no país; 'foi um crime de machismo', diz amigo
No mesmo dia em que sua morte foi noticiada, María José Alvarado deveria estar dentro de um avião rumo a Londres. Na capital britânica, a Miss Honduras de apenas 19 anos de idade participaria do Miss Mundo - o concurso que todos os anos escolhe a mulher mais bonita e carismática entre candidatas dos quatro cantos do planeta.
Porém, uma semana antes, no dia 13 de novembro, sem que o mundo se inteirasse, a jovem e sua irmã mais velha, Sofía Alvarado Trinidad, de 23 anos, tinham suas vidas brutalmente ceifadas na cidade de Santa Bárbara, no oeste do país.
Os corpos das jovens foram encontrados na terça-feira, cinco dias depois do desaparecimento, no vilarejo de Cablotales, informou a polícia hondurenha.
Plutarco Antonio Ruíz, o namorado de Sofía, confessou o assassinato à polícia. Os investigadores também apreenderam a arma do crime. Segundo eles, Ruíz agiu motivado por uma crise de ciúmes após ver a namorada "dançando com outra pessoa ou algo do tipo".
"Tínhamos seu vestido pronto, seus trajes tradicionais", disse o apresentador Salvador Nasrallah, diretor do programa que inflou a fama da jovem, X-O Da Dinero, da rede Televicentro.
"Este não é um crime passional: isto é machismo."
'Tranquila e honesta'
Na última quinta-feira, María José comparecera à festa de aniversário de Plutarco Ruíz a convite de sua irmã. Terminada a comemoração, a miss se deslocaria à capital hondurenha, Tegucigalpa, a 200km de distância. De lá, viajaria para a Europa.
Aos 19 anos recém-completados, María José, nascida em uma família de classe média baixa, há muito tempo se preparava para a competição – e não só desde que foi coroada Miss Honduras, em abril deste ano.
Sua carreira em concursos de beleza começou aos 15 anos, quando ela ainda cursava o Ensino Médio. Depois de vencer o Miss Teen Honduras, em 2012, María José tornou-se um rosto conhecido em seu país.
Sua fama cresceu quando começou a trabalhar como modelo no programa X-O Da Dinero.
"Nós a contratamos quando ela tinha apenas 16 anos", disse Nasralla à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
María José costumava ir a cada três semanas a Tegucigalpa, onde gravava três edições do programa. Sua tarefa era aparecer, entregar prêmios e fazer propaganda de produtos.
"Era uma menina normal, agradável e honesta", disse Nasrallah, enfatizando a última característica. "Era uma daquelas mulheres que um homem vê e pensa: eu quero ela para mim."
O apresentador diz que a personalidade da jovem não mudou quando foi coroada Miss Honduras. Ele confessa que chegou a desaconselhar a menina a participar "desses concursos", por causa do que considera "gente mal intencionada" nesse meio.
Mas Nasrallah afirma que María José era "tranquila", "uma menina do bem", que nunca teve problemas. No dia de seu trágico fim, "infelizmente, ela estava no lugar errado na hora errada", diz.
Aspirações
Como uma jovem prestes a entrar no que viriam a ser as fases mais produtivas da vida, María José não se dedicou apenas à carreira de modelo; tinha ambições mais altas.
No site oficial do Miss Mundo 2014 - onde ainda aparece entre as participantes -, ela é descrita como uma estudante "com aspirações a uma carreira no governo, especificamente como uma diplomata pelo seu país".
Ela estava prestes a se formar em um curso técnico em informática no Centro Politécnico do Norte, em Santa Bárbara.
E no seu tempo livre, segundo a descrição do Miss Mundo, gostava "de fazer esportes, como vôlei e futebol, e dançar a punta, um estilo de música e dança garifuna (da etnia local originada da mescla de povos caribenhos, africanos e nativos) presente em celebrações e festividades".
Durante toda a quarta-feira, a foto do perfil da instituição na rede social Facebook foi substituída por uma imagem de María José junto a seus colegas. Nela, a jovem aparece com a faixa de Miss. Uma fita preta de luto aparecia em cima do registro.
María José deveria ter feito, na última sexta-feira, um exame obrigatório para todos os estudantes do país. Na avaliação, os alunos devem fazer uma prova escrita, e recitar e explicar uma estrofe do hino nacional do país.
Por isso, Teresa Muñoz, a mãe da jovem, ainda lembra do conselho que deu à filha na véspera: "Minha filha, acho melhor você não sair de casa porque amanhã você tem prova", disse a mãe.
"E ela disse que eu não deveria me preocupar, porque eles a trariam de volta."
Porém, naquele dia, María José não voltou para casa – e nunca mais voltaria.