Mujica é mais popular fora do Uruguai do que no próprio país
Professor uruguaio fala sobre eleições acirradas e afirma que é muito provável que seja realizado um segundo turno
A coalizão governista Frente Ampla (FA) pode sair do poder do Uruguai após uma década. Isso se dá principalmente por conta da entrada de um novato na corrida presidencial, Luis Lacalle Pou, que concorre ao cargo pelo conservador Partido Nacional, também chamado de Partido Blanco.
O filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), que venceu as primárias do partido por defender uma renovação política, disse, durante uma propaganda eleitoral, que "viemos tirar a maioria da Frente Ampla, viemos governar e governar bem".
A Frente Ampla, por sua vez, aposta no ex-mandatário Tabaré Vázquez (2005-2010) como sucessor de José Mujica, que ficou conhecido internacionalmente por seu estilo simples de vida, que inclui uma rotina em sua fazenda onde planta legumes e flores. Desde as primeiras pesquisas eleitorais, realizadas no começo deste ano, a diferença entre a intenção de votos a Lacalle Pou e Vázquez caiu de quase 25 para quase 5 pontos percentuais.
De acordo com a consultoria Factum, "pela primeira vez em quatro anos, não se pode dar por seguro que Tabaré Vázquez será o próximo presidente da República. A eleição está aberta".
Em entrevista à ANSA, o professor uruguaio de ciências políticas da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Hugo Borsani, explica por que a disputa deste ano será acirrada e quais mudanças devem ocorrer no país caso o candidato conservador seja escolhido, dando fim ao período da FA no poder.
Borsani também acredita que Mujica é muito mais popular fora do Uruguai do que entre seus habitantes e que a política de regulamentação de plantio e venda de maconha devem ser mantida pelos novos governos.
Segundo o especialista, existe a chance de um partido conservador voltar ao poder no Uruguai, mas não é possível afirmar qual será o resultado final das eleições presidenciais.
No entanto, é possível afirmar que haverá 2° turno (em novembro) e todas as últimas pesquisas dão empate técnico entre o candidato do governo (Frente Ampla), o ex-presidente Tabaré Vázquez, e o candidato do Partido Nacional, o deputado Luis Lacalle Pou (filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle), o qual poderíamos chamar de um candidato de centro-direita.
Desde as eleições de 2004, nas que venceu pela primeira vez a Frente Ampla, o eleitorado se divide mais ou menos em duas metades, os eleitores da Frente Ampla por um lado e os eleitores dos dois partidos tradicionais (Nacional e Colorado) mais o pequeno Partido Independente, por outro.
Nas últimas eleições essa diferença foi mínima e houve um 2° turno muito disputado entre o atual presidente (José) Mujica e Luis Alberto Lacalle, pai do atual candidato do partido Nacional.
Tudo indica que essa disputa acirrada se verá novamente este ano. Também é altamente provável que o partido que vença a disputa presidencial não conte com maioria absoluta no Legislativo. Isto é claro no caso de um triunfo de Lacalle, que certamente faria algum tipo de aliança de governo com o outro partido tradicional, o Partido Colorado.
Isso também é muito provável no caso de um novo triunfo da Frente Ampla, que deve se manter como a principal força política. Essa seria a primeira vez que a esquerda teria que governar sem contar com maioria legislativa.
