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Neto de Estela Carlotto descreve emoção de encontrar avó

"Imensamente feliz", escreveu Ignacio Hurbán nas redes sociais

7 ago 2014 - 20h56
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<p>Ignacio Hurbán é filho de Laura Carlotto e Walmir Montoya, dois integrantes do grupo guerrilheiro Montoneros, assassinados durante a ditadura argentina</p>
Ignacio Hurbán é filho de Laura Carlotto e Walmir Montoya, dois integrantes do grupo guerrilheiro Montoneros, assassinados durante a ditadura argentina
Foto: Twitter

Com três palavras publicadas nesta quinta-feira em sua página no Facebook, o músico e compositor argentino Ignacio Hurbán resumiu a descoberta de sua verdadeira identidade e o primeiro encontro com a avó, Estela Carlotto, presidenta da organização Avós das Praça de Maio.

"Abraço. Imensamente feliz", escreveu Hurbán ao comentar o primeiro encontro com a avó, que descobriu nesta semana que seu décimo quarto neto estava vivo.

A organização que Estela comanda é integrada por mulheres de mais de 70 anos e funciona como uma verdadeira agência de detetives: elas buscam as 500 crianças desaparecidas na ditadura argentina (1976-1983), muitas delas nascidas em cativeiro, que hoje são homens e mulheres de meia-idade.

Até agora, as avós da Praça de Maio encontraram 114 netos – o último deles, Guido Montoya Carlotto – filho de Laura Carlotto e Walmir Montoya, dois integrantes do grupo guerrilheiro Montoneros, assassinados na ditadura.

Laura, filha de Estela, estava grávida quando foi sequestrada, torturada e morta. O corpo dela foi entregue à família (caso raro, na Argentina da época, em que 30 mil opositores ao regime desapareceram sem deixar rastro). No entanto, o filho de Laura, que nasceu enquanto ela estava presa, sumiu.

Com o retorno da democracia, as avós da Praça de Maio criaram um banco de sangue, com amostras genéticas de todos os parentes dos desaparecidos da ditadura, para que busca tivesse continuidade depois da morte delas.

Ignacio Hurbán, como muitos outros filhos de desaparecidos, começou a duvidar de suas origens e submeteu-se a um exame de DNA. Descobriu que, na verdade, era Guido e que suas duas avós estavam vivas: Estela Carlotto, de 83 anos, em Buenos Aires, e Hortensia Montoya, de 91 anos, em Santa Cruz, no extremo sul da Patagônia argentina.

Quarta-feira, um dia após ter descoberto que seu décimo quarto neto estava vivo, Estela e seus três filhos se encontraram com ele. Na véspera, ela tinha dito que sempre teve esperança de poder “abraçá-lo antes de morrer”. Estela esperou 36 anos, mas o abraço finalmente aconteceu. Começa agora um longo processo, em que Ignacio, com a ajuda de psicólogos da organização, terá que assumir a nova identidade e reescrever sua própria história.

Estela Carlotto pediu à imprensa que respeite a privacidade de Ignacio – normalmente, a identidade dos netos descobertos é mantida em segredo, até que eles se sintam prontos para torná-la pública ou em casos em que são obrigados a prestar depoimento na Justiça.

Pela legislação argentina, o desaparecimento de pessoas e o sequestro de crianças na ditadura são crimes que não prescrevem. Se os pais adotivos participaram direta ou indiretamente do ocultamento da verdadeira identidade das crianças sequestradas ou sabiam que eram filhos de desaparecidos são considerados “apropriadores” e processados.

Por essa mesma razão, muitos filhos de desaparecidos, com medo de ser responsáveis pela punição da única família que conheceram, temem fazer o teste de DNA ou esperam a morte dos pais adotivos para fazê-lo. No caso de Ignacio, os “apropriadores” morreram e ele foi entregue a outro casal, que trabalhava em uma fazenda.

Estela Carlotto pediu à Justiça que espere um tempo, antes de convocar o neto dela para depor, como costuma fazer em muitos casos, para dar à pessoa o tempo necessário para assimilar a nova realidade.

Agência Brasil Agência Brasil
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