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“O reencontro foi maravilhoso", diz neto de Avó de Maio

Em primeira coletiva de imprensa, Ignacio Hurban, neto de Estela de Carlotto, revelou que descobriu que era adotado há apenas dois meses

8 ago 2014 - 16h43
(atualizado às 17h48)
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<p>Guido Montoya Carlotto fala em sua primeira aparição pública ao lado da avó, Estela de Carlotto, em Buenos Aires, em 8 de agosto</p>
Guido Montoya Carlotto fala em sua primeira aparição pública ao lado da avó, Estela de Carlotto, em Buenos Aires, em 8 de agosto
Foto: David Fernández / EFE

Ignácio Hurban, neto da líder das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, mostrou-se publicamente pela primeira vez após descobrir sua verdadeira identidade. A apresentação aconteceu durante uma coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira, na sede da Associação, e tendo a avó recém descoberta ao seu lado. 

“Estou emocionado! Faz pouco que aconteceu tudo isso. É maravilhoso e imagino que tudo que está acontecendo fechará algumas feridas que foram abertas há muito tempo. Eu tenho a sorte de fazer parte desse pequeno processo de cicatrização”, essas foram as primeiras palavras de Guido Montoya de Carlotto.

Após o vazamento de informações por parte da juíza responsável pelo caso, María Servini de Cubría, que não teria respeitado o acordo de sigilo revelando a identidade de Guido Carlotto, fez-se hoje sua aparição oficial.

”Houve um erro claro nesse caso, pois as coisas correram de forma completamente diferentes em outros casos”, pontua Guido sobre a revelação precipitada de sua identidade.

“Que eu esteja aqui hoje tem a ver com somar o meu grãozinho de areia às buscas. (…) Uma coisa é o aspecto público e outra coisa é o aspecto pessoal e interno de restabelecer um vínculo com a minha família”, explica o pianista de 36 anos.

Sobre sua dupla identidade, o rapaz foi firme em declarar que já está acostumado com seu nome Ignácio e que pretende mantê-lo, mas que entende que existe uma família que há 30 anos o chama por outro nome e irá respeitá-los. “Eu me sinto bem com a verdade!” e completa dizendo que “Há dois dias atrás eu tinha uma vida extraordinariamente feliz e agora, querendo ou não, entrarei nos livros de história e vou ter de arcar com isso”. 

O jovem Ignácio Urbán, ou Guido Montoya Carlotto, cresceu na zona rural da província de Buenos Aires, em Olavarría. Seus pais adotivos não tinham nenhuma ligação com a arte, o que não impediu que Guido seguisse uma carreira musical. O talento artístico sempre lhe era questionado, conta o rapaz, que nesse momento tampouco sabia dizer de onde vinha o “dom”.

“Certamente algumas questões do âmbito do intangível, como o porquê de estar relacionado à arte se o meio em que eu me criei não tem nada a ver com isso”, exemplifica Guido parte das dúvidas que tinha sobre sua verdadeira identidade.

Há pouco menos de dois dias, o músico finalmente soube quem eram seus pais biológicos e, para sua surpresa, Oscar Montoya também era músico. Natural da Patagônia, o militante assassinado durante a ditadura militar empresta seu nome a uma sala de música em Santa Cruz, outra cidade do sul argentino.

O processo de descoberta

Com 36 anos completados no último dia 2 de junho, o jovem conta que foi justamente nessa data que tomou conhecimento de haver sido adotado. Segundo ele, a história que seus pais lhe contaram tinha muitas brechas que o deixaram intrigado. 

“Aconteceu comigo o que deve acontecer com todos aqueles que se descobrem adotados. Nasceram alguuns ruídos na minha cabeça, umas borboletas que pairavam fora do meu campo de visão. Comecei a pensar, dar-me conta de algumas coisas. Então, resolvi começar o processo de busca”, conta o neto de Estela de Carlotto.

<p>Neto e av&oacute; participam da primeira coletiva de imprensa juntos</p>
Neto e avó participam da primeira coletiva de imprensa juntos
Foto: David Fernández / EFE

E se o maior medo de sua avó, Estela, era de morrer sem poder abraçá-lo, por sua vez, o maior medo de Guido, ao iniciar os processos de busca, era de nunca saber a verdade sobre seus pais biológicos. 

A busca sobre a qual ele fala, durou apenas 18 dias, a contar do momento da realização da coleta de sangue para o teste de DNA. Então, há dois, Claudia Carlotto, sua irmã, informou-lhe que ele era o neto desaparecido da líder das Avós de Maio.

“Eu estava tranquilo tocando piano, tomando mate e me entretendo com alguns biscoitos, quando recebi a ligação de Claudia muito emocionada, contando-me o resultado dos exames”, relembra. 

O reencontro

Ele aconteceu nesta quinta-feira na cidade de La Plata, onde Estela de Carlotto passou toda sua vida e onde nasceu Laura, a mãe de Guido.

“Eu estava meio escondido durante esses dias para poder ter um encontro mais íntimo. Eu queria conhecer a eles antes de estar aqui falando com vocês”, declara aos jornalistas durante a coletiva de imprensa desta sexta-feira. 

O neto recuperado 114, e o mais famoso de todos eles, conta que estranhou um pouco a proximidade física e até mesmo os numerosos abraços que a nova família troca entre si, mas que logo se acostumou com a dinâmica. 

“O reencontro foi maravilhoso, muito lindo, sempre que existe amor, um abraço (...) Faz dois dias que sei quem sou, ou seja, quem eu era, é um pouco inesperado tudo isso, mas eu recebi manifestações de afeto tão bonitas que facilitaram muito o processo em si”, desabafa Guido.

Fonte: Especial para Terra
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