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Paraguai se divide entre eliminação de símbolos e homenagem a ditador

10 nov 2016 - 06h05
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Um recente projeto de lei pretende fazer desaparecer de edifícios e praças placas em homenagem à ditadura de Alfredo Stroessner no Paraguai (1954-1989), um país no qual ainda hoje, 27 anos depois, os simpatizantes do ditador defendem o regime.

O projeto foi aprovado no Senado no último dia 3 de novembro, mesmo dia em que durante a ditadura se festejava o aniversário de Stroessner. Alguns seguidores do ditador ainda lembram o dia como "data feliz".

A iniciativa, que será debatida agora na Câmara dos Deputados, estabelece que deverão ser eliminadas todas as placas que expressem "elogios ou lisonjas" em relação ao ditador, explicou à Agência Efe a senadora Esperanza Martínez, uma das autoras do projeto.

As placas retiradas serão transferidas ao Museu das Memórias, no centro de Assunção. No lugar delas serão colocadas outras que lembrem "personalidades, locais e fatos históricos que mereçam ser lembrados pelos cidadãos", diz o texto do projeto.

Para Martínez, a medida faz parte de um processo que se iniciou após a queda do ditador, quando o nome da cidade de Puerto Presidente Stroessner para Ciudad del Este, ou da Praça Strossner em Assunção para Carmen de Lara Castro, que lutou contra o regime.

Apesar disso, as placas elogiando o ditador, definido pela senadora como uma "figura nefasta", ainda seguem nas fachadas de edifícios públicos da capital.

"Stroessner foi uma figura política que governou por muitos anos no Paraguai. Seu autoritarismo penetrou na sociedade e, por isso, hoje ainda há setores nostálgicos em relação à mão dura dos militares, da violência e do controle", afirmou Martínez.

A ditadura militar de Stroessner, a mais longa do Cone Sul, deixou 425 desaparecidos, prendeu 20 mil pessoas, que em sua maioria sofreu tortura, e forçou 20.814 paraguaios a irem ao exílio, de acordo com a Comissão da Verdade e Justiça do Paraguai.

O Partido Colorado, que governou durante a ditadura, é o mesmo que está atualmente no poder. A senadora lembrou que o presidente do país, Horacio Cartes, se referiu ao dia 3 de novembro em 2015 como "data feliz", fato criticado por ONGs de direitos humanos.

"Não fizeram uma autocrítica, um pedido público de desculpas", lamentou Martínez.

Por outro lado, em maio, um grupo de estudantes de um colégio da capital provocou uma forte polêmica ao arrancar uma placa com o nome de Stroessner da fachada do prédio da instituição, uma ação tachada de "vandalismo" por parte dos pais.

Mas o precedente mais icônico da retirada de símbolos stronistas foi a queda da estátua do ditador do Cerro Lambaré, em Assunção, construída nos anos 80 pelo escultor espanhol Juan de Ávalos.

Após a eliminação da estátua, em 1991, o artista paraguaio Carlos Colombiano localizou os fragmentos da escultura e criou um novo monumento para alertar o país sobre o perigo de deixar ressurgir um novo regime autoritário, lembrou à Efe Lia Colombiano, museóloga e filha do autor.

A nova estátua, com Stroessner "esmagado", está agora na Praça dos Desaparecidos, junto ao palácio do governo de Assunção, apesar de Lia ter afirmado que as "consequências de 35 anos de ditadura seguirem presentes".

"Impressões digitais da ditadura temos muitas, e é impossível apagá-las. O que não há é uma construção política de memória. Temos muitos nostálgicos, e muitos jovens que não sabem nada do que ocorreu", avaliou.

Tanto Lia como Martínez defenderam que a memória seja construída a partir de espaços educativos, de arte e cultura para evitar que o pesadelo da ditadura e a repressão volte a se repetir.

EFE   
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