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Quatro pontos sobre o referendo da Bolívia neste domingo

21 fev 2016 - 11h47
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Evo Morales, presidente da Bolívia
Evo Morales, presidente da Bolívia
Foto: Dean Mouhtaropoulos / Getty Images

Neste domingo, cerca de 6,5 milhões de bolivianos irão às urnas para dizer se querem ou não uma reforma constitucional para permitir que o presidente Evo Morales dispute mais um mandato na eleição de 2019.

Evo, de 56 anos, foi eleito pela primeira vez em 2005 e está cumprindo agora seu terceiro mandato seguido.

O governo costuma afirmar que este é seu segundo mandato, a partir da nova Constituição implementada na gestão do presidente boliviano.

País com cerca de 10 milhões de habitantes, de maioria indígena, a Bolívia tem vivido tempos de estabilidade econômica, com inflação controlada e crescimento em torno dos 4%, segundo dados oficiais e privados.

As últimas pesquisas de opinião divulgadas no início deste mês de fevereiro indicaram que Evo e sua gestão teriam em torno de 60% de aprovação popular.

No entanto, analistas destacam que episódios negativos recentes podem refletir no resultado de domingo – casos da notícia sobre uma suposta ex-namorada do presidente, que seria ligada a uma empresa chinesa com contratos com o governo, e da morte de seis pessoas em um protesto, nesta semana, na municipalidade de El Alto, antigo reduto eleitoral de Evo, em La Paz.

A suposta ex-namorada - e um suposto filho que teriam tido juntos - dominou as redes sociais dos bolivianos nos últimos dias.

Evo reconheceu que teve um filho com a empresária Gabriela Zapata, em 2007, e que a criança teria falecido. "Essa poderia ser a primeira eleição na qual Evo não teria índices acima dos 50% ou 60% dos votos favoráveis", disse à BBC Brasil o analista político José Luis Gálvez, do instituto Equipos Mori.

Segundo ele, antes mesmo desses episódios, pesquisa do instituto indicava um virtual empate entre o "sim" e o "não" em torno dos 40%, com cerca de 19% de indecisos.

"A maioria aprova a gestão de Evo, mas esse apoio pode não ser refletido no respaldo à mudança constitucional para que ele busque mais um mandato", disse Galvez.

Para o pesquisador Roberto Laserna, do Centro de Estudos da Realidade Econômica e Social (CERES), o governo "transformou" a campanha do referendo em um "verdadeiro plebiscito" da sua gestão.

"A campanha do 'sim' envolveu claramente a figura do presidente e sua administração. E a campanha do 'não' se fixou mais na defesa no respeito às leis, a constituição já em vigor", disse por telefone falando de Cochabamba.

Entenda o referendo de domingo nestes cinco pontos:

O que está em jogo no referendo?

A possibilidade ou não de Evo Morales disputar mais um mandato presidencial.

Se o "sim" vencer, abrindo caminho para a reforma constitucional, Evo, que assumiu a Presidência em 2006, disputaria novo cargo em 2019.

Para analistas, se o sim vencer, mesmo que apertado, o presidente terá também poder político e a ausência de opositores fortes para o restante do atual mandato.

"A situação será diferente se o 'não' vencer", disse Laserna. "Muitos poderão interpretar que se está acabando um ciclo político."

Qual a situação da Bolívia hoje?

Um dos países mais pobres da América do Sul, a Bolívia registrou nos últimos tempos avanços sociais atribuídos à gestão de Evo, segundo organismos como a Cepal, por exemplo.

A estabilidade da economia, com controle de gastos e aumento do consumo, também marca a gestão de Morales, segundo governistas e opositores.

No entanto, análises do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Trabalho (CEDLA), de La Paz, criticam a informalidade no mercado de trabalho e fato de os investimentos dependerem principalmente do setor público, com menor presença do setor privado na economia.

Como anda a economia?

Existe preocupação em relação aos efeitos da queda do preço internacional do petróleo e do gás na economia local. A Bolívia é um dos principais exportadores de gás da América do Sul.

No entanto, o ministro da Economia e Finanças Públicas, Luis Arce, afirma que a estabilidade econômica "não está sendo afetada" por essa conjuntura. Segundo ele, a Bolívia se preparou nos momentos de alta das commodities para dias como os atuais, "economizando e não expandindo os gastos".

O presidente do Banco Central, Marcelo Zabalaga, disse, por sua vez que o período entre 2006 e 2015 (gestão Evo) foi "o mais próspero da Bolívia".

Ele destacou a inflação média de cerca de 5% nesse período, o forte aumento dos níveis das reservas do Banco Central e o "crescimento econômico sustentável".

Segundo analistas, os bolivianos "não percebem no bolso" possíveis efeitos da queda no preço do gás e da expectativa de possível desaceleração da economia a partir deste ano.

O que pode acontecer depois do referendo?

Analistas entendem que dependerá da diferença no resultado entre o "sim" e o "não" e onde o não poderá prevalecer.

"Se o 'não' vencer nos redutos eleitorais tradicionais de Evo e do MAS (Movimento ao Socialismo), sua base política, então a oposição poderá tentar capitalizar o resultado e voltar a ter protagonismo", disse o analista Roberto Laserna.

José Luis Gálvez lembrou que se o 'não' vencer, Evo continuará sendo presidente até 2019, "o que significa certo grau de estabilidade" – ainda que indique uma rejeição a que ele se perpetue no cargo.

Se o "sim" vencer, entendem os analistas, Evo sairá fortalecido junto ao eleitorado e dentro de sua base política.

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