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Rituais de iniciação ao tráfico são realizados no México

Grupos usariam até consumo de órgãos de vítimas nos processos de iniciação de novos integrantes

23 abr 2014 - 09h06
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<p>Imagens ligadas a religiões como Santa Muerte são bastante populares entre membros de carteis</p>
Imagens ligadas a religiões como Santa Muerte são bastante populares entre membros de carteis
Foto: BBC

Depois de sete anos de guerra contra o tráfico de drogas, mexicanos acreditavam que já tinham visto de tudo. Mas não.

De vez em quando, aparecem histórias dramáticas que nunca deixam de surpreender e, nos casos mais extremos, incluem até sacrifício humano.

A última foi revelada em março, quando foi noticiado que o grupo "Os Cavaleiros Templários" extraía órgãos de suas vítimas como ritual de iniciação de seus novos integrantes.

Autoridades reconheceram que estão investigando os depoimentos de pessoas que afirmam ter participado de cerimônias lideradas pelo falecido Nazario Moreno, conhecido como El Chayo ou El Más Loco, fundador do cartel.

Os rituais seriam convocados durante a noite em um lugar seguro. Eles eram chamados de "jantar", disse o comissário para a Segurança e Desenvolvimento de Michoacán, Alfredo Castillo. Mas estavam longe de ser um encontro normal.

"Como um processo de iniciação, utilizavam órgãos, neste caso, o coração, onde as pessoas eram obrigadas a comer", disse Castillo à MVS Notícias.

Moren morreu em 9 de março, durante um confronto com fuzileiros navais. Anos antes, em novembro de 2010, ele havia sido declarado morto pelo governo do ex-presidente Felipe Calderón.

Cerimônias cruéis

Os Templários, no entanto, não são os únicos a fazer cerimônias cruéis para testar seus novos membros, ou como uma maneira de subir na organização.

Em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR) e à antiga Secretaria de Segurança Pública, um ex-membro da Familia Michoacana, antecessora dos Templários, afirmou que os candidatos a ingressar no grupo tiveram que desmembrar os corpos de seus adversários.

Em Tamaulipas, os Zetas sequestravam passageiros de ônibus que circulavam no município de San Fernando e, em alguns casos, obrigavam-nos a lutar entre si até a morte usando marretas. Os sobreviventes eram recrutados como pistoleiros.

Em Morelos, o treinamento da organização dos irmãos Beltran Leyva para os membros adolescentes consistia em atingir com uma tábua de madeira uma pessoa nua e pendurada pelos pés.

Capazes de tudo

O que pretendem os cartéis com tanta crueldade na iniciação de novos recrutas?

É uma maneira de testar os candidatos, disse à BBC David Pavón-Cuéllar, pesquisador da Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo.

"Tenta-se detectar fraquezas ou considerações sobre o sujeito que poderão impedi-lo de realizar um trabalho futuro como um assassino", disse ele.

Os cartéis costumam usar métodos de convencimento que são semelhantes às aplicadas nas Forças Armadas e pela polícia, disse Pavon-Cuellar.

Pretende-se criar uma sensação de força entre os novos recrutas, juntamente com um sentimento de unidade.

Um elemento importante nos rituais é criar um novo indivíduo, disse o especialista. "Trata-se de deixar para trás todos os limites ou escrúpulos que podem chegar a impedir o trabalho dentro dos cartéis".

"A iniciação tem sempre um caráter de purificação ou libertação do que havia antes. É iniciada uma nova perspectiva, uma nova lei, uma nova escala de valores".

O objetivo desta transformação é clara: "Eles buscam gerar seres capazes de tudo que você precisa", disse Pavon-Cuellar.

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