Sergio Massa, o jovem peronista que desponta como sucessor de Cristina Kirchner
Ex-chefe de gabinete da presidente argentina que virou opositor, foi o candidato mais votado nas primárias do dia 11
Uma nova figura emergiu na política argentina a partir das eleições primárias do último domingo. Trata-se do jovem prefeito da cidade de Tigre, a 30 quilômetros da capital, Sergio Massa, 41 anos. Ex-chefe do gabinete da presidente Cristina Kirchner (2008-2009), Massa foi o candidato mais votado na estratégica província de Buenos Aires no último dia 11. A vitória já o credencia como possível candidato do peronismo para suceder Cristina em 2015.
Sergio Massa é o nome por trás do novo partido peronista argentino, o Frente Renovador, fundado este ano para contrapor o kirchnerismo dentro da linha ideológica do ex-presidente Juan Domingo Perón. Chamado de “dissidente” por alguns e de “traidor” por outros, o fato é que o jovem prefeito agora é o principal candidato opositor à Câmara dos Deputados nas eleições de outubro.
A eleição primária de domingo passado serviu para definir os candidatos para as eleições legislativas de outubro, quando serão renovadas metade das vagas da Câmara e um terço do Senado. Mais além, o pleito serve também como termômetro para as eleições presidenciais de 2015, quando termina o segundo mandato de Cristina Kirchner.
A presidente já negou, mas alguns opositores insistem que, se o kirchnerismo vencer as primárias e conservar maioria nas duas casas legislativas, poderá promover uma reforma na Constituição que permita a re-reeleição. Massa é contra e, segundo dizem, esse foi um dos motivos que teria afastado o jovem político do setor governista.
No final desta semana, o deputado Carlos Kunkel, considerado ultra-kirchnerista, disse que aposta que, em 2015, a Argentina terá um presidente peronista apoiado pelo kirchnerismo.
Massa teve 35% dos votos na província de Buenos Aires (o que exclui a capital), contra 30% do candidato de Cristina, Martín Insaurralde. O resultado é importante porque o distrito tem quase 38% dos 11 milhões de eleitores da Argentina. Os pré-candidatos que obtiveram menos de 1,5% dos votos válidos foram eliminados.
Ponderado e jovial, Massa comemorou o resultado com moderação, dizendo que não recebeu um cheque em branco, mas sim uma demonstração de confiança. O seu partido, Frente Renovador, nasceu da insatisfação de integrantes e apoiadores do governo kichnerista.
"O povo avaliou o esforço de um grupo de jovens e de uma gestão comprovada que decidiu montar um espaço diferente que permitiu que essa alternativa política tivesse respaldo", disse Massa.
Nascido em 28 de abril de 1972 em San Martín, na província de Buenos Aires, Massa se define como integrante da geração que jogava futebol na rua e aproveitava seu bairro como uma extensão do pátio de casa. Uma clara referência a uma de suas principais bandeiras de campanha: a segurança pública.
“Comecei a militar desde muito jovem, com 16 anos. A política entrou na minha vida cedo, como uma vocação que crescia à medida que comecei a descobrir que poderia ajudar os outros, que era uma ferramenta mais efetiva para resolver injustiças e desigualdades”, diz o próprio Massa em perfil publicado no site do partido.
Sergio Massa é casado com Malena e tem dois filhos, Milagros e Tomás. É prefeito de Tigre desde 2007, mas ocupou seu primeiro cargo público bem antes: foi eleito deputado provincial pelo Partido Justicialista aos 27 anos.
Sobre os quase dois anos como chefe de gabinete de Cristina Kirchner, Massa resume: “uma experiência na qual aprendi muito”.
Oposição, pero no mucho
Sergio Massa é, assim como Cristina Kirchner e o ex-presidente Carlos Menem, peronista. Ou seja, integra o grande Movimento Nacional Justicialista, por vezes chamado apenas de Partido Justicialista, fundado e liderado a partir das ideias de Juan Domingo Perón. O peronismo é dividido em diversas correntes, sendo o kichnerismo uma delas. Foi com o grupo político nascido a partir de Néstor Kirchner que Massa rompeu em 2009.
Derrota, pero no mucho
Apesar de o resultado das primárias ser interpretado como uma forte derrota da presidente Cristina Kirchner, a Frente para a Vitória (FPV) se manteve como a maior força política em número de votos em todo país. No entanto, o problema (para o oficialismo) é que a FPV perdeu em quatro (Buenos Aires, Córdoba, Santa Fé e na cidade de Buenos Aires) dos cinco distritos mais importantes da Argentina.
Depois das primárias, Cristina Kirchner ignorou os discursos de derrota e afirmou que o kirchnerismo está em condições de manter e até de ampliar sua maioria no Congresso. Ela ainda lembrou que o seu partido é o único presente em todos os distritos eleitorais do país.