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Transgêneros querem inclusão nas Forças Armadas da Venezuela

29 ago 2013 - 05h25
(atualizado às 05h33)
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A jovem cabeleireira Gabriela Castillo, de 23 anos, sonha em voltar às Forças Armadas sem ter que ir "disfarçada" ao quartel. Ao completar 18 anos, ela se alistou na Marinha da Venezuela e permaneceu ali durante cinco meses "dentro do armário", conta.

Ninguém sabia que Angel Castillo atendia pelo nome de Gabriela ao sair do Forte Militar. "Esperava ansiosa os dias de folga para poder me vestir como eu me sentia confortável, para liberar-me", relata.

"Até que desisti, porque estava atuando como homem para ser aceita, e não como realmente sou", relata.

Gabriela é uma das ativistas da Associação Civil Divas da Venezuela que acredita que a inclusão de transgêneros nas Forças Armadas, que ela chama de "reduto machista e homofóbico", é uma oportunidade para abrir o debate sobre os problemas relacionados à exclusão social da comunidade transgênera.

"Assim como os homens e mulheres são chamados a defender nossa pátria, nós transsexuais sentimos o mesmo dever".

Debate polêmico

O ingresso de homossexuais e transgêneros às Forças Armadas não está oficialmente proibido, porém, a incorporação de jovens com este perfil não é aceita no momento da seleção.

Aquele cuja orientação sexual for diferente à heterossexual deve adotar como premissa a "discrição" para poder usar a farda verde-oliva ou o uniforme de marinheiro, que tanto atrai Gabriela Castillo.

"Ser homossexual não é uma barreira social logo de entrada, porque é possível esconder sua preferência sexual. No caso dos transsexuais, o preconceito é imediato", diz.

O debate ocorre na esteira de uma nova polêmica protagonizada entre governistas e opositores no Parlamento venezuelano há alguns dias.

O deputado chavista Pedro Carreño, militar reformado, utilizou a suposta opção sexual do principal ícone da oposição, o governador Henrique Capriles, para reforçar acusações de envolvimento do partido Primeiro Justiça ─ do qual Capriles é membro ─ com uma rede de corrupção e de exploração sexual.

"É problema deles o que fazem com sua bunda, mas têm que ser sérios (...) homossexual, aceite o desafio maricón (de responder as acusações de corrupção)", disse Carreño, ao atacar a Capriles durante sessão no Parlamento.

As declarações do deputado foram repudiadas por ambos grupos políticos e reabriram o debate sobre a diversidade sexual no país das misses.

"(As declarações de Carreño) são reflexo de uma sociedade machista e homofóbica, mas vemos esse episódio como uma oportunidade de avançar no processo de despatriarcalização da sociedade", afirmou à BBC Brasil Edwin Rodriguez, ativista da Aliança Sexo Gênero-Diverso Revolucionária (ASGDRE).

Rodriguez participa das discussões para definir as políticas públicas da missão Mamá Rosa, programa social criado pelo ex-presidente Hugo Chávez para promover a igualdade de gênero.

Além da inclusão nas Forças Armadas, o movimento LGBT exige um programa de inclusão no mercado de trabalho e, ainda, que seja desengavetado um projeto de Lei para que a homofobia e a transfobia sejam tipificados como crime de ódio.

A comunidade "sexo-diversa" vê nesta lei uma plataforma para revelar casos de assassinatos de origem homofóbica. "Muitas transsexuais são assassinadas por causa de sua identidade de gênero, mas acabam entrando nas cifras de violência comum", afirma Rodriguez.

Pressão evangélica

A pauta da comunidade LGBT sobre direitos trabalhistas e civis ─ matrimônio homossexual e adoção de crianças ─ estaria parada no Congresso devido a pressões da bancada evangélica, que apesar de não ser numerosa, exerce forte influência junto às lideranças do Parlamento.

O Conselho Evangélico da Venezuela indica que se a pauta da "sexo-diversidade" entrar em debate no Parlamento, o grupo deverá atuar. "Eles querem notoriedade. Temos coisas muito mais importantes para discutir no país", afirmou à BBC Brasil o diretor-executivo da entidade, o pastor César Mermejo.

"Se isso acontecer, vamos exigir participar deste diálogo para mostrar as implicações éticas, os riscos morais e sociais dessa reivindicação", acrescentou.

A resistência à inclusão de transsexuais no mercado laboral e à vida social sem discriminação incentiva a prostituição, alimenta a violência e facilita o caminho de acesso às drogas, na opinião de Gabriela Castillo.

Ao assumir sua nova identidade de gênero, aos 15 anos, Gabriela foi rejeitada pela família e passou a viver nas ruas de Caracas. Antes de ser cabeleireira, foi prostituta, período em que foi vítima de agressões físicas. Algumas de suas colegas foram mortas enquanto trabalhavam.

"A exclusão dos transgêneros determina que nossos destinos sejam nas ruas ou num salão de beleza", afirma. "Nossa luta é para ocupar qualquer outro espaço de trabalho, sem sofrer discriminação", acrescentou.

Com base em informação da imprensa local, a Associação Civil Divas da Venezuela afirma que 20 transsexuais foram assassinados de 2004 até agora. O grupo credita, no entanto, que o número é ainda maior.

Gabriela conta que por pouco não se converteu em estatística. Hoje, ela diz ter "educado" sua família sobre a diversidade sexual, mas continua vivendo num abrigo em Caracas ─ onde chegou há mais de dois anos ─ especializado em atenção a transgêneros que vivem nas ruas.

"Minha vida mudou porque o comandante Hugo Chávez foi o único presidente sensível, que nos aceitou e abriu as portas para mudanças. Se não fosse por ele continuaríamos jogadas nas ruas", afirma.

No abrigo, Gabriela conta ter recebido ajuda psicológica para deixar as drogas e ter sido levada a deixar a prosituição. "Tomei força para buscar um trabalho. Voltei a estudar e hoje vejo um futuro."

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