UE, Uruguai, Argentina e Canadá comemoram acordo EUA-Cuba
Diversos líderes enviam mensagens aos dois países que abriram relações políticos
A alta representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini, elogiou nesta quarta-feira em comunicado a decisão de Estados Unidos e Cuba de normalizar suas relações bilaterais, quebradas desde 1961.
"Esses movimentos representam uma vitória do diálogo sobre o confronto. Com esse espírito iniciamos no começo deste ano o diálogo político", declarou Mogherini em comunicado, no qual também lembrou a aproximação da UE com Cuba.
UE e Cuba iniciaram no começo deste ano uma nova etapa para normalizar sua relação política após várias tentativas fracassadas de superar suas diferenças em questões centrais para Bruxelas como o respeito aos direitos humanos e a evolução democrática da ilha.
Após quase duas décadas de relações praticamente bloqueadas, ambas partes realizaram este ano duas rodadas negociadoras que buscaram reiniciar uma relação bilateral até agora infestada de desencontros.
Mogherini afirmou hoje que "a UE procura ampliar as relações com todas as partes da sociedade cubana, promover o progresso econômico e social, o diálogo dinâmico e reforçar o respeito dos direitos fundamentais".
Além disso, comentou que a reação do governo do presidente cubano Raúl Castro "nos faz sentir otimistas sobre uma mudança real, e esperamos que se abra o caminho para a retomada plena das relações entre Estados Unidos e Cuba" em interesse de ambas partes.
As relações entre a UE e Cuba estão regidas pela chamada "posição comum", uma política unilateral e restritiva, aprovada pela UE em 1996 por proposta do então presidente do governo espanhol, José María Aznar.
A supressão dessa "posição comum" exige que seja uma decisão adotada por unanimidade pelos 28 países do bloco, uma vez que o Conselho da UE considere que este é o passo adequado.
Na semana passada, a pedido de Cuba, foi adiada a terceira rodada de negociação prevista para janeiro a fim de alcançar esse acordo bilateral de diálogo político e de cooperação.
Canadá reconhece que facilitou reconciliação
O primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, confirmou nesta quarta-feira que o Canadá facilitou as reuniões entre funcionários governamentais de Estados Unidos e Cuba durante as quais os dois países decidiram restabelecer suas relações bilaterais.
"O Canadá está feliz por ter sido anfitrião de representantes de EUA e Cuba, o que lhes permitiu a discrição necessária para realizar essas importantes conversas", disse Harper em comunicado.
O primeiro-ministro canadense também parabenizou os dois países "por seu bem-sucedido diálogo e negociações, que levarão à normalização de suas relações".
Harper declarou, além disso, que "o Canadá apoia um futuro para Cuba que abranja totalmente os valores fundamentais de liberdade, democracia, direitos humanos e o Estado de direito".
Em seu comunicado, o primeiro-ministro canadense não deu detalhes sobre quando ou onde aconteceram as reuniões entre os funcionários americanos e cubanos.
A intervenção do Canadá na reconciliação dos dois países aconteceu apesar de as relações de Ottawa com Havana não passarem por seu melhor momento.
"Uruguai contribuiu com 'grão de areia'"
O Uruguai contribuiu com um "humilde grão de areia" para o restabelecimento das relações entre Cuba e Estados Unidos, disse nesta quarta-feira o presidente do país sul-americano, José Mujica, que também contou que recebeu um telefonema de um "amigo americano" para agradecê-lo.
Sem especificar quem ligou para ele, Mujica comparou o significado político da aproximação entre Obama e Raúl Castro com a queda do Muro de Berlim, mas na América Latina.
"Acabou o bloqueio. É um passo positivo. Nisso tudo, o Uruguai contribuiu com seu humilde grão de areia, não mais, tentando ajudar uma política que estava congelada", disse 'Pepe' em uma entrevista coletiva improvisada no aeroporto, quando chegava a Montevidéu vindo da Argentina, onde participou hoje na cúpula semestral do Mercosul.
Com essas palavras, o presidente uruguaio se refere às repetidas vezes em que pediu a Obama a libertação dos três espiões cubanos, o que aconteceu hoje, e à sua ajuda ao colaborar com o programa de fechamento da prisão de Guantánamo.
Em março, Mujica se mostrou aberto a acolher como refugiados no Uruguai seis detentos da prisão que fica em território cubano e foi criada pelo presidente Bush em 2002 para manter os suspeitos de terrorismo fora da jurisdição dos tribunais federais americanos.
"Nós pensamos assim e não vamos cair na história de que os Estados Unidos obedeceram ao nosso pedido. Sabemos claramente quais são nossas proporções. O Uruguai contribuiu com seu grão de areia em um problema que é complexo", acrescentou Mujica.
Ainda sobre essa questão, afirmou não ter "a petulância" de que a "ilustre" participação do Uruguai foi determinante para resolver positivamente o problema entre os dois países, "mas nós não escondemos em nenhum momento o que pensamos".
Além disso, Mujica confessou que, em seus últimos encontros com Raúl Castro, que o aconselhou em sua decisão de acolher os presos de Guantánamo no Uruguai, "sabia que havia um barulho de aproximação" com os EUA, mas que "não era fácil" para nenhum "dos dois lados".
"Parece-me bom que as relações se normalizem e os focos de tensão diminuam. O problema mais grave agora é o narcotráfico na América Central", disse Pepe, que acredita que a aproximação entre EUA e Cuba representa uma nova etapa das relações no Caribe, mas que não resolve todos os problemas.
Cristina elogia "decisão inteligente" de Obama
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, elogiou nesta quarta-feira a "decisão inteligente" do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de retomar as relações com Cuba, rompidas desde 1961.
"Estamos muito felizes como argentinos, como sul-americanos, como militantes políticos, por tudo isto que acreditávamos que nunca iríamos ver", declarou Cristina ao término da cúpula semestral do Mercosul que aconteceu hoje na cidade argentina de Paraná.
"É um momento importante e uma decisão inteligente de Obama", acrescentou a presidente argentina.
Cristina lembrou perante seus colegas do Mercosul que o presidente americano anunciou hoje que será aberta uma embaixada dos EUA em Havana, que enviará ao Congresso o debate sobre o embargo econômico e destacou a intervenção do papa Francisco como mediador entre ambos países.