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Uruguai: comemoração da legalização da maconha tem música e fumaça

Desde o começo da tarde, centenas de pessoas marcharam do centro da capital uruguaia até o Palácio Legislativoo, onde o clima era de celebração

11 dez 2013 - 12h00
(atualizado às 12h21)
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Usuários e simpatizantes da droga se reuniram em frente ao Congresso uruguaio para esperar a aprovação da lei
Usuários e simpatizantes da droga se reuniram em frente ao Congresso uruguaio para esperar a aprovação da lei
Foto: Denise Mota / Especial para Terra

Por 16 votos a favor e 13 contra, o Senado uruguaio aprovou na noite de terça-feira, às 23h, projeto de lei impulsionado pela coalizão governista Frente Ampla que regulariza a plantação, o armazenamento, a distribuição, a venda e o consumo da maconha. Trata-se do primeiro país a legalizar toda a cadeia de produção da droga, sob controle estatal.

A votação começou por volta das 11h. Às 18h, coletivos pertencentes a diversos movimentos sociais e simpatizantes se reuniram em uma passeata que teve início no centro de Montevidéu e caminhou até o Palácio Legislativo, onde a lei estava em debate.

O trio elétrico dos festejos, decorado com bexigas verdes e folhas de maconha feitas de papelão
O trio elétrico dos festejos, decorado com bexigas verdes e folhas de maconha feitas de papelão
Foto: Denise Mota / Especial para Terra

Às 20h em ponto, os manifestantes chegaram ao Congresso ao som de tambores e de uma espécie de “trio elétrico” decorado com bexigas verdes e folhas de maconha feitas de papelão, de onde saíam palavras de ordem e canções pop e reggae. A bandeira com as cores do arco-íris, símbolo do movimento GLBT, cobriu os participantes que se sentaram nas escadarias do Congresso, assim que chegaram da passeata.

Quem dançava, cantava, conversava e fumava muita maconha - com orgulho e alívio - eram jovens, em sua maioria, mas também havia pais com crianças pequenas, pessoas de idade mais avançada e gente com cara e roupa de quem voltava do trabalho e decidiu aderir à movimentação.

Integrantes do grupo de candombe Swahili - a banda sonora principal dos festejos nas ruas de Montevidéu - comemoraram a legalização da droga
Integrantes do grupo de candombe Swahili - a banda sonora principal dos festejos nas ruas de Montevidéu - comemoraram a legalização da droga
Foto: Denise Mota / Especial para Terra

“Acho que vai funcionar. Há muitos consumidores que estavam à espera dessa oportunidade de cultivar sua maconha em casa e assim evitar as bocas de fumo. Não há nada de mau nisso”, opinou Lucía Menini, 35 anos, uma das bailarinas do grupo de candombe Swahili - a banda sonora principal dos festejos -, enquanto se concentrava em frente ao Congresso à espera dos manifestantes. Usuária de cannabis desde os 17, Menini conta que joga vôlei há 15 anos, algo que segundo ela combate o estigma de que maconha e saúde não são compatíveis.

“Com a legalização, agora, penso que inclusive vai diminuir a sedução, a tentação dos mais jovens em consumir porque deixa de ser algo proibido. A adolescência gosta dessa coisa rebelde, e a maconha deixou de ser isso. À minha filha de 11 anos, digo os prós e os contras da droga”, afirmou Santiago Pereira, 39 anos, um dos líderes desse grupo de candombe - música tradicional do país, com origem africana.

A estudante Lucía Figueroa, 25 anos, e o restaurador de móveis Marcelo Frávega, 42 anos, acompanharam movimentação em frente ao Congresso
A estudante Lucía Figueroa, 25 anos, e o restaurador de móveis Marcelo Frávega, 42 anos, acompanharam movimentação em frente ao Congresso
Foto: Denise Mota / Especial para Terra

Marcelo Frávega, 42 anos, é restaurador de móveis e contou que desde 1996 tinha guardada uma bandeira colorida com uma folha de maconha desenhada à espera de que pudesse ser exibida sem medo publicamente. “Este é um dia que eu nem sonhava que chegasse”, disse. Para sua amiga, a estudante de desenho de indumentária Lucía Figueroa, 25 anos, “fumar maconha vai continuar sendo mal visto, ou considerado algo transgressor pela sociedade”. Mas Frávega considerou que a grande mudança é que “agora vamos poder cultivar maconha em casa, com tranquilidade”.

Sob gritos de guerra como “autocultivo” e “se acaba, se acaba”, com relação à proibição prestes a terminar, os manifestantes circundaram parte do Congresso uruguaio ao som de candombe e depois ficaram à espera da decisão final dos senadores na praça 1º de Maio, em frente ao Palácio Legislativo. Uma pequena parte entrou no edifício para acompanhar de perto a votação, que decidiria a aprovação do projeto de lei somente três horas depois, às 23h. 

<a data-cke-saved-href="http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/reportagem-internacional/iframe2.htm" href="http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/reportagem-internacional/iframe2.htm">veja o infográfico</a>

“Que a lei votada hoje vai mudar o Uruguai, sim, vai mudar. Agora é necessário ver o que o governo vai fazer com isso. Se transformar tudo isso em um mercado a mais, comprando sementes transgênicas, não acho que será uma mudança para melhor. Nós, que estamos na rua com os jovens, temos que assumir a responsabilidade dessa situação, formar redes, para controle das sementes que são trazidas, para que isso possa funcionar como um projeto que realmente tenha condições de dar certo”, disse Viviana González, 24 anos, professora de literatura e educadora sexual que vive em Canelones, a 50 km da capital.

“Hoje, o que acontece aqui é que estão se abrindo cabeças para algo que já existia”, considerou Luis Cardoso, desempregado. “É uma festa tranquila.”

Centenas de jovens dançam e cantam após legalização da maconha no Uruguai:

Fonte: Especial para Terra
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