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Uruguai: discrição de Tabaré se opõe à "fofura" de Mujica

Favorito no segundo turno, Tabaré Vázquez apresenta uma série de diferenças de estilo em relação ao atual presidente, mas também é apontado como esquerdista

28 nov 2014 - 10h47
(atualizado às 11h37)
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<p>O candidato presidencial Tabaré Vázquez</p>
O candidato presidencial Tabaré Vázquez
Foto: Andres Stapff / Reuters

A partir de primeiro de março, o Uruguai - e o mundo - "deverão prescindir das grandes conversas e do aspecto sedutor de um Mujica para passar a um estadista que até agora teve um relação bastante distante com os meios de comunicação. A maneira que Tabaré Vázquez tem de fazer as coisas não é declarativa”, afirma Cecilia Custodio, autora de El Método Tabaré, livro lançado nesta semana. Nele, a escritora opõe a discrição do candidato favorito no segundo turno à "fofura" característica do atual presidente. 

Ao longo de 14 meses, Custodio conversou com pessoas que conhecem o candidato de perto, que trabalharam com ele, e se dedicou a estudar o modus operandi do provável sucessor de José “Pepe” Mujica. De acordo com as últimas pesquisas divulgadas por vários institutos, Vázquez, 74, registra cerca de 54% das intenções de voto, enquanto seu opositor, o candidato Luis Lacalle Pou, 41, do tradicional Partido Nacional, alcança 41% da preferência dos eleitores que voltarão às urnas no próximo domingo. Em 2004, Tabaré Vázquez foi votado por 50,4% da população.

Oncologista, Vázquez comandou o Uruguai entre 2005 e 2010, quando se constituiu no primeiro presidente de esquerda do país. Terminou o mandato com popularidade de 80%, índice superior aos 65% registrados por Mujica atualmente - apesar de toda a repercussão atingida internacionalmente pelo ex-guerrilheiro por conta do seu modo de viver e das iniciativas impulsionadas durante o seu governo, como a estatização da produção de maconha.

<p>De acordo com pesquisas, ele registra 54% das intenções de voto</p>
De acordo com pesquisas, ele registra 54% das intenções de voto
Foto: Andres Stapff / Reuters

“Quem rompeu com todos os padrões foi Mujica, e Mujica só há um. Também seria preciso ver - e isso teria de ser perguntado a Vázquez - se ele tem algum interesse em ser 'popular' como foi Mujica, ou se deseja exatamente o contrário”, relativiza Custodio, com certa ironia.

Reservado, pouco afeito a interações com a imprensa, Tabaré Vázquez é um “self made man” que saiu do humilde bairro operário de La Teja, no subúrbio de Montevidéu, para se transformar em um dos médicos mais bem-sucedidos de seu país, além de ter sido o primeiro prefeito de esquerda da capital, Montevidéu (entre 1990 e 1994), e exitoso presidente de time de futebol.

Apesar das diferenças de estilo com relação a Mujica, “continua um governo de esquerda. Se as pessoas votam em um modelo que transcende as figuras, ou se votam nessas figuras é algo que só poderemos saber talvez em 2019”, diz Custodio, com relação ao ano em que terminará o próximo mandato. O novo governo, prevê, deve ter segurança e educação como prioridades principais - são as duas preocupações mais importantes expressas pelos uruguaios, segundo pesquisas de opinião. “Vázquez vai colocar seus ministros para trabalhar, e o que emerge da investigação que fiz para o livro é que, quando Tabaré assume o comando, o compromisso é de que o trabalho seja feito.”

O modo como lidera sua equipe é outra diferença com relação a Mujica, aponta Custodio, que conversou com dois filhos de Vázquez, além de assessores e ministros, em um total de 22 entrevistas oficiais, listadas ao final do volume. “O mandato à distância, que se reflete nas entrevistas que fiz, também é uma maneira de criar mito, porque o exercício vertical de poder realizado por Vázquez faz com que pouca gente possa chegar ao líder e, ao ter pouco acesso, especula-se muito sobre como ele é. Essa foi a maneira de governar escolhida duas vezes por ele, tanto na Prefeitura como na Presidência, e tudo isso faz pensar que será exatamente igual em uma terceira ocasião.”

Outra característica é que os escolhidos pelo oncologista costumam se rodear de silêncio e, tal como seu chefe, em geral optam por declarações esporádicas e espartanas. “No livro, fica claro que muitas vezes o silêncio é autoimposto por essas pessoas. Mas ao longo das páginas é possível inferir que muitas vezes Tabaré mandou calar ou realizou gestões para que não acontecesse o que ele não queria que acontecesse (e vice-versa).”

Fonte: Especial para Terra
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