Vitrines com "jovens grávidas" causa polêmica na Venezuela
A ideia é chamar a atenção para uma taxa de gravidez na adolescência que as entidades dizem ser uma das piores da América do Sul
Uma exposição que mostra manequins de alunas grávidas em um centro comercial em Caracas tem chocado consumidores e provocado um debate sobre a educação sexual na Venezuela.
Duas instituições de caridade locais vestiram três manequins em uma vitrine como meninas com barrigas abauladas usando uniformes azuis que são tradicionalmente de crianças em idade escolar, de até 15 anos.
A ideia é chamar a atenção para uma taxa de gravidez na adolescência que as entidades dizem ser uma das piores da América do Sul. A cada três minutos, uma menina menor de 18 anos engravida no país e 23 por cento de todos os nascimentos ocorrem nesta faixa etária.
"Eu acho que é horrível, horrível. Se eu fosse mãe, eu não gostaria que a minha filha visse isso", disse a estudante Kelly Hernández, de 18 anos, escandalizada, tampando a boca com a mão ao olhar duas vezes a vitrine nesta quarta-feira.
Sua amiga Auriselvia Torrealba, de 20 anos, foi mais compreensiva, enxergando um propósito maior na polêmica campanha.
"Sim, incomoda ver isso em uma vitrine. Mas é a verdade. Você vê meninas grávidas o tempo todo nas ruas. Então, isso obriga você a pensar sobre o problema, não é?"
Enquanto o governo socialista da Venezuela diz que a educação e os direitos das crianças melhoraram durante seus 15 anos no poder, agências não-governamentais dizem que a educação sexual deve ser melhorada e que os pais precisam levar o assunto mais a sério.
As duas instituições beneficentes por trás da campanha, Fundana e Construindo Futuros, estão muito satisfeitas com a polêmica e a publicidade em torno da exibição.
"É incrível ver como as pessoas reagem quando passam perto. Isso é um tabu na Venezuela, queremos que as pessoas falem sobre isso", disse a presidente da Construindo Futuros, Thalma Cohen. "Algumas pessoas ficam com raiva e reclamam. Outras nos cumprimentam."
A exibição durará um mês e poderá ser estendida para outros shoppings em todo o país.
A campanha ocorre dias após uma agência de direitos das mulheres da Organização das Nações Unidas (ONU) expressar "profunda preocupação" com a Venezuela sobre o elevado número de gravidez na adolescência e a mortalidade maternal associada a isso.