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ANÁLISE-Matar o líder pode não ser suficiente para acabar com Estado Islâmico

28 out 2019 - 17h30
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O assassinato por forças dos Estados Unidos do líder do Estado Islâmico Abu Bakr al-Baghdadi é de considerável importância, mas as razões subjacentes à existência de seu grupo jihadista permanecem e os ataques no Oriente Médio e além provavelmente não serão interrompidos.

Jovens assistem à notícia sobre morte de líder do Estado Islâmico em Najaf, no Iraque
27/10/2019 REUTERS/Alaa al-Marjani
Jovens assistem à notícia sobre morte de líder do Estado Islâmico em Najaf, no Iraque 27/10/2019 REUTERS/Alaa al-Marjani
Foto: Reuters

A morte de Baghdadi nas mãos dos Estados Unidos provavelmente causará a fragmentação do Estado Islâmico, deixando quem emerge como seu novo líder com a tarefa de reunir o grupo extremista como força de combate.

Há dúvidas se a perda de seu líder afetará as capacidades do grupo, disseram analistas da região. Mesmo que enfrente dificuldades na transição da liderança, a ideologia subjacente e o ódio sectário que ela promoveu permanecem atraentes para muitos.

Antes os militantes sunitas do grupo andavam em veículos blindados, mostravam rifles, bandeiras negras e realizavam atos de crueldade espetaculares, mas agora são prisioneiros ou estão dispersos e seu líder foi perseguido em um túnel durante uma invasão pelas forças especiais norte-americanas.

"Operacionalmente, isso não afeta muito, eles já estão quebrados e, globalmente, seus ataques recuaram", disse Rashad Ali, membro sênior residente do Institute for Strategic Dialogue, um think tank de Londres. "Eles estão concentrados principalmente nas fronteiras entre Iraque e Síria."

"Não faz muita diferença além do simbolismo", disse ele. "Se você pensa que importa matar um terrorista sem abordar as causas que levaram essa ideologia a se firmar, você está enganado."

Mas algumas dessas questões estão muito expostas hoje. Os muçulmanos sunitas no Iraque estão revoltados com o tratamento recebido por uma elite xiita dominante que eles vêem sob a influência do Irã e das milícias apoiadas pelo Irã que agora vagam sem controle por suas províncias.

RECRUTAMENTO

Na Síria, o recrutamento para grupos como o Estado Islâmico é incentivado pela morte de sunitas pelas forças do governo sírio apoiadas pelo Irã e pela Rússia.

A eficácia do Estado Islâmico surge da lealdade de seus membros à ideologia islâmica ultra-fanática, e isso pode não ser muito afetado pela morte de seu líder, disse Fadhil Abu Ragheef, analista político iraquiano e especialista em segurança.

Ele disse que o Conselho Shura, do Estado Islâmico, de nove homens, deve se reunir e nomear um líder dentre cinco candidatos.

Entre os candidatos à frente estão Abu Abdullah al-Jizrawi, um saudita, e Abdullah Qaradash, um iraquiano e um dos braço direito de Baghdadi, também um ex-oficial do exército de Saddam Hussein. Também é mencionado Abu Othman al-Tunisi, um tunisiano.

"O novo líder começará a trabalhar para reunir o poder do grupo, contando com novos recrutas e combatentes que fugiram das prisões na Síria. Ele deve lançar uma série de ataques de retaliação pelo assassinato de Baghdadi", disse Abu Ragheef.

É possível que quem quer que assuma o cargo de chefe do grupo, que, segundo especialistas, pode ser alvo de disputas internas, leve a uma dissidência em meses, por ser inaceitável por razões de nacionalidade para algumas facções.

"Com certeza eles lutarão entre si por recursos. Eu prevejo que a facção iraquiana vencerá porque eles têm mais dinheiro", disse o analista iraquiano Hisham al-Hashemi, especialista em grupos jihadistas.

Uma fonte de segurança com conhecimento de grupos militantes no Iraque disse que o assassinato de Baghdadi fragmentaria a estrutura de comando do grupo por causa das diferenças entre personalidades importantes e falta de confiança entre os membros do grupo que foram forçados a ir à clandestinidade quando o califado desabou.

"Estamos cientes de que matar Baghdadi não levará ao desaparecimento do Estado Islâmico porque, eventualmente, eles escolherão alguém para o trabalho", disse a fonte. "Mas, ao mesmo tempo, quem segue Baghdadi não estará em posição de manter o grupo unido."

OPERAÇÕES

O novo líder tentará reestruturar o grupo, incentivando os seguidores a iniciar operações não apenas no Iraque, mas em outros países, para elevar o moral dos seguidores existentes e novos, disse a fonte.

O Estado Islâmico atraiu seguidores na África, Ásia e Europa. Incidentes como o de Londres, onde agressores usavam armas facilmente obtidas, como veículos a motor e facas, mostram que a falta de apoio organizacional não é um obstáculo.

No sudeste da Ásia, onde o Estado Islâmico espalhou sua influência, as autoridades acreditam que as idéias do grupo terão que ser combatidas mesmo após a morte de Baghdadi.

"Sua morte terá pouco impacto aqui, já que o principal problema continua sendo a disseminação da ideologia do Estado Islâmico", disse à Reuters o chefe de contraterrorismo da polícia da Malásia, Ayob Khan Mydin Pitchay.

"O que mais nos preocupa agora são os ataques de 'lobo solitário' e aqueles que são radicalizados pela internet. Ainda estamos vendo a disseminação dos ensinamentos do grupo online. As publicações e revistas do Estado Islâmico de anos atrás estão sendo reproduzidas e compartilhadas novamente," disse.

No Iraque, onde Baghdadi proclamou seu califado da mesquita Grand al-Nuri em 2014, as autoridades adotaram uma política de mirar figuras de alto escalão do Estado Islâmico como uma maneira eficaz de manter o grupo na defensiva.

Hashemi argumenta que mais é necessário.

"Eles têm a capacidade de se reagrupar. A maneira de impedir isso é através da promoção real da democracia e da sociedade civil, abordando verdadeiramente as queixas, enfim, criando um ambiente que repele o terrorismo", afirmou.

"Matar líderes é definitivamente uma coisa boa, mas não impede seu retorno", acrescentou.

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