Após 20 anos, Etiópia diz estar pronta para paz com Eritreia
Adis Abeba aceitou ceder território contestado ao país vizinho
Passados 20 anos do início da guerra de fronteira entre Etiópia e Eritreia, no "Chifre da África", Adis Abeba surpreendeu o mundo nesta quarta-feira (6) ao anunciar que quer a paz.
O governo etíope, chefiado desde abril pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed, disse que aceita integralmente os termos do acordo assinado em 2000, na Argélia, mas que nunca havia entrado em vigor. A única condição é que Asmara também concorde com o tratado.
A vontade de voltar à normalidade nas relações entre os dois países havia sido expressada por Ahmed no dia de sua posse, em 2 de abril, para colocar fim a um conflito que muitos analistas africanos consideram o último resquício do período colonial.
Independente da Etiópia desde 1993, a Eritreia entrou em guerra com o país vizinho em 1998, pela posse da região de Badme, que ajudaria Asmara a conquistar sua independência econômica, mas representava para Adis Abeba um acesso ao Mar Vermelho.
Em dezembro de 2000, após a morte de 70 mil a 100 mil pessoas no conflito, o presidente eritreu, Isaias Afewerki (no poder até hoje), e o primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, firmaram um acordo de paz em Argel. A Etiópia, no entanto, mantém desde então uma presença militar em Badme, que foi recomendada à Eritreia por uma comissão internacional da ONU, em 2002.
A motivação por trás da decisão de Ahmed, segundo observadores locais, é sua vontade de estabilizar seu país, afetado por graves dificuldades econômicas, por uma pesada dívida externa e pela escassez de investimentos estrangeiros. Outro sinal disso é a recente revogação do estado de emergência que estava em vigor desde fevereiro, por causa dos protestos que derrubaram o premier Hailemariam Desalegn.
Adis Abeba aguarda agora o posicionamento da Eritreia, cujo governo é acusado de violações dos direitos humanos e provocou um êxodo que engrossaria a crise migratória no Mediterrâneo. Em 2018, dos 13.769 migrantes forçados que desembarcaram na Itália, 2.228 são eritreus, atrás apenas dos tunisianos (2.916) no ranking.