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Congresso dos EUA terá deputadas muçulmanas e indígena gay

Eleitores americanos foram às urnas para renovar as 435 cadeiras da Câmara, 35 dos 100 senadores e escolher 36 dos 50 governadores

7 nov 2018 - 07h50
(atualizado às 07h52)
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As eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, que ocorreram nesta terça-feira, 6, e vão eleger representantes para as 435 cadeiras da Câmara e um terço do Senado, além de 36 dos 50 governadores, tornarão o novo Congresso mais diverso. O perfil dos candidatos que concorreram a uma vaga na Câmara ou no Senado aponta para maior participação feminina e jovem.

Prédio do Congresso dos Estados Unidos
04/05/2017 REUTERS/Yuri Gripas
Prédio do Congresso dos Estados Unidos 04/05/2017 REUTERS/Yuri Gripas
Foto: Reuters

Os primeiros resultados da eleição mostraram o novo perfil eleito: os americanos elegeram as duas primeiras deputadas federais muçulmanas, a primeira mulher indígena (e gay) ao Congresso, além das primeiras deputadas latinas pelo Estado do Texas e da deputada mais jovem da história dos Estados Unidos. Também foi eleito o primeiro governador abertamente gay dos EUA. Todos são democratas.

Rashida Tlaib e Ilhan Omar serão as primeiras mulheres muçulmanas no Congresso - eleitas por Michigan e Minnesota, respectivamente.

Ayanna Pressley se tornou a primeira mulher negra eleita por Massachusetts para o Congresso. O 10º distrito eleitoral da Virgínia trocou uma mulher republicana por uma democrata, Jennifer T. Wexton, que acabou com quase quatro décadas de controle republicano na região que fica no norte do Estado.

O Texas elegeu as primeiras latinas a assumirem uma cadeira pelo Estado: Veronica Escobar e Sylvia Garcia.

Os americanos também elegeram a primeira mulher indígena ao Congresso: a democrata Sharice Davids, eleita pelo Kansas. Ela também é abertamente gay.

O democrata Jared Polis ganhou as eleições no Colorado e será o primeiro governador abertamente gay no País.

Com 28 anos, a democrata Alexandria Ocasio-Cortez é a mais jovem a chegar na Câmara dos Deputados, eleita por Nova York.

Pesquisa de boca de urna divulgada na terça-feira, 6, pela CNN aponta que 55% dos eleitores rejeitam Trump enquanto 44% aprovam o governo do presidente - o que indica uma maior participação dos democratas nas urnas. A mudança no perfil esperado do novo Congresso é basicamente entre os candidatos democratas, o que deve tornar os dois partidos americanos ainda mais opostos, não só na ideologia, mas na cara que seus representantes terão.

Na Pensilvânia, por exemplo, há três mulheres democratas com chance de ganhar cadeiras dos republicanos na Câmara. O desempenho democrata na Câmara mostra o novo perfil do partido que deve prevalecer para a eleição de 2020: com maior diversidade racial e de gênero e mais à esquerda. Os dois partidos então se tornam mais radicais diante da próxima eleição presidencial.

O número de candidatas concorrendo este ano bateu recorde, tanto na Câmara como no Senado. Segundo o Center for American Women and Politics, da Rutgers University, 237 mulheres disputaram uma vaga na Câmara e 23 no Senado. Há Estados em que a disputa ao Senado se dá entre duas mulheres, como Nova York, Nebraska, Wisconsin e Minnesota. Atualmente, de 100 senadores, 23 são mulheres.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante encontro com membros do Congresso na Casa Branca, em Washington, EUA
28/02/2018
REUTERS/Kevin Lamarque
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante encontro com membros do Congresso na Casa Branca, em Washington, EUA 28/02/2018 REUTERS/Kevin Lamarque
Foto: Reuters

Na história do Senado americano há apenas 52 mulheres. As primeiras pesquisas de boca de urna divulgadas pela CNN apontam que 78% dos eleitores consideravam importante eleger mulheres e 71% responderam favoravelmente à eleição de minorias raciais.

"Embora haja mais mulheres republicanas concorrendo, a trajetória (de aumento do número de candidatas) é bastante linear", avalia Michele Swers, professora de governo americano da Georgetown University, citando a diferença entre o aumento do número de democratas e republicanas na disputa. Segundo ela, o número de mulheres candidatas ao Congresso tem crescido desde 1992 - ano considerado como crucial para aumento da participação feminina no Legislativo americano -, mas segue relativamente estagnado para os republicanos.

Há um aumento no número de mulheres negras na disputa, com destaque também para as candidatas democratas. Jamil Scott, professora-assistente de governo na Universidade Georgetown, destaca que 11% dos candidatos democratas ao Congresso são mulheres negras.

Em 2012, segundo ela, eram 7%. Já no lado dos republicanos, a porcentagem atual é de 3%, segundo ela. Os dados sobre raça com relação a candidatos não são divulgados por todos os Estados, mas o diretório de dados Black Women in Politics aponta para um total de 468 candidatas negras em todas as disputas em jogo na eleição.

Voto dos jovens

O voto dos jovens é apontado como um dos fatores para a mudança da cara do Congresso. A pesquisa divulgada pela CNN após as eleições também apontou que 16% dos eleitores votaram pela primeira vez.

A intensa polarização nos EUA em torno da possibilidade de dar um sinal de apoio ou de rejeição ao presidente Donald Trump mobilizou o eleitorado. Nem o tempo chuvoso, em locais próximos a Washington, desestimulou o comparecimento nas urnas.

"Comparado com 2016 eu diria que houve maior comparecimento, foram mais de mil nas primeiras horas do dia. Os eleitores estão motivados", afirmou Stephanie Sanders, chefe de uma zona de votação em Arlington, na Virgínia, região majoritariamente democrata.

"Meu principal voto foi para mudar o comando da Câmara dos Deputados, essa é minha esperança. Com a maioria, os democratas farão um verdadeiro contrapeso a tudo o que Donald Trump tem encampado. Até agora os republicanos apenas deixam que Trump siga com o que quer fazer", disse Russel Crutcher, em Arlington, após votar em democratas.

A campanha foi marcada por violentos acontecimentos: o envio de pacotes com explosivos a importantes líderes opositores e o massacre em uma sinagoga em Pittsburgh, onde 11 pessoas morreram. A polarização da sociedade chegou a patamares nunca vistos e, quando o presidente foi prestar homenagem às vítimas, uma manifestação com cerca de 1.000 pessoas foi a seu encontro.

"Melhor economia da história"

Para os democratas, esta é uma oportunidade de frear o poder de um presidente que acusam de provocações racistas e de atiçar as divisões na sociedade para ganhar votos.

Há quase dois anos no governo desde a sua surpreendente vitória em 2016, o caótico e imprevisível Trump tem contado com a maioria na Câmara e no Senado, mas nesta eleição de meio mandato o equilíbrio de poderes no Congresso pode mudar.

Em uma reportagem exibida na segunda-feira pela Fox News, Trump disse que os Estados Unidos "têm a melhor economia de sua história e que a esperança finalmente voltou às cidades" do país.

Nessas eleições estão em jogo todos os 435 assentos da Câmara, 35 cadeiras do Senado, 36 governos de Estados americanos, além de vários cargos locais, como prefeitos, juízes e xerifes.

Nas primeiras eleições de meio mandato, os presidentes costumam perder espaço no Congresso, mas Trump, que durante seu governo levou o desemprego a um mínimo de 3,7%, pode romper este precedente.

Para consternação de muitos de seus correligionários republicanos, na última semana Trump - em vez de destacar suas conquistas - preferiu se concentrar em um duro discurso - que alguns classificam de racista - no qual denunciou a imigração ilegal como uma "invasão".

Dias antes da votação, Trump enviou mais de 4.800 soldados à fronteira com o México e sugeriu que caso os migrantes centro-americanos que marchavam em caravanas para os Estados Unidos atirassem pedras nos agentes, eles poderiam responder com tiros. Depois o presidente se retratou.

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Estadão
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