Após indulto, separatistas catalães são libertados
Decisão de perdoar independentistas provoca polêmica na Espanha
Os separatistas da Catalunha perdoados pelo governo da Espanha deixaram a cadeia nesta quarta-feira (23), após mais de três anos na prisão em função de uma tentativa frustrada de declaração de independência.
A libertação acontece um dia depois de o primeiro-ministro Pedro Sánchez ter confirmado um indulto parcial a nove separatistas presos, decisão que está longe de ser unanimidade no país.
Sete deles, incluindo o ex-vice-presidente catalão Oriol Junqueras, deixaram a penitenciária de Lledoners, a cerca de 70 quilômetros de Barcelona, e foram recebidos por dezenas de apoiadores aos gritos de "independência!". Outras duas pessoas também foram libertadas de cadeias distintas nesta quarta.
A clemência prevê o perdão dos crimes de sedição e apropriação indébita pelos quais os catalães foram condenados, porém o indulto é "reversível", ou seja, poderá ser revogado em caso de reincidência.
Além disso, os nove independentistas continuarão impedidos de ocupar cargos públicos. Em pronunciamento na terça-feira (22), Sánchez disse que o indulto foi aprovado devido à "necessidade de restabelecer a convivência e a concórdia".
"O governo da Espanha trabalha e vai seguir trabalhando pelo entendimento, e nunca pelo enfrentamento. Pretendemos abrir um novo tempo de diálogo, ter pontes de concórdia e de convivência entre pessoas que estão muito distantes na política", afirmou.
Os nove indultados haviam sido condenados pelo Tribunal Supremo da Espanha a sentenças de nove a 13 anos de prisão pela organização de um plebiscito separatista considerado ilegítimo pelo governo e pela subsequente declaração unilateral de independência da Catalunha.
A pena mais alta foi imposta ao ex-vice-presidente Oriol Junqueras, líder do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que hoje governa a região em uma coalizão de legendas separatistas.
Entre os outros condenados também estão a ex-presidente do Parlamento catalão Carme Forcadell, sentenciada a 11 anos e seis meses de cadeia, além de ex-secretários regionais e representantes da sociedade civil. Três ex-dirigentes ainda foram condenados ao pagamento de multas, mas não a penas de prisão.
A decisão de perdoar os separatistas enfrenta resistência no restante do país e nos partidos de oposição ao governo Sánchez. A capital Madri já foi palco de um protesto contra o indulto em 13 de junho, e uma pesquisa recente do instituto Ipsos aponta que 53% dos espanhóis são contrários à clemência.
O líder do conservador Partido Popular (PP), Pablo Casado, discursou no Parlamento nesta quarta e pediu a renúncia do premiê socialista. "Você se colocou do lado errado da história, que não o absolverá. Se lhe resta um mínimo de dignidade, você deveria renunciar hoje mesmo e submeter essa decisão ao julgamento dos espanhóis", afirmou o opositor.
Conservadores afirmam que o premiê socialista decidiu perdoar os independentistas para garantir a sobrevivência do governo, que depende dos votos de partidos catalães para aprovar seus projetos no Parlamento.
Mas o indulto parcial também é criticado pelos separatistas da Catalunha, que exigem uma anistia total para os condenados. "É hora de acabar com a repressão. É hora de um plebiscito acordado com aval internacional, como deseja a maioria da população da Catalunha. Anistia e autodeterminação. Liberdade e democracia", escreveu no Twitter o atual presidente catalão, Pere Aragonès.