Arábia Saudita permite mulheres frequentar arenas esportivas
Decisão faz parte de plano comandado por príncipe saudita para modernizar a sociedade e impulsionar a economia do país que viu suas receitas reduzirem à metade com a queda do preço do petróleo.
Depois de alcançarem o direito de dirigir, as mulheres na Arábia Saudita também poderão, pela primeira vez, frequentar arenas esportivas.
As mulheres serão autorizadas a entrar com suas famílias em estádios em Riyadh, Jeddah e Dammam, as três maiores cidades do país, a partir do próximo ano.
Como as arenas esportivas sauditas são lugares frequentados apenas por homens, os três estádios vão ser, segundo autoridades locais, adaptados "para poderem acomodar famílias no início de 2018". Estão sendo instalados cafés, telas de monitoramento e banheiros femininos.
A Arábia Saudita é um dos países mais rígidos do mundo em termos de segregação de gênero e há muitas atividades cotidianas que mulheres simplesmente não podem fazer ou precisam de autorização do pai ou marido. Por exemplo, precisam de permissão de um homem para tirar um passaporte ou sair do país.
Essas restrições se devem ao sistema político e religioso vigente. O wahabismo, uma interpretação mais rígida de lei islâmica, é a fé dominante na Arábia Saudita há dois séculos.
Depois da tomada da Grande Mesquita - um violento incidente comandado por extremistas islâmicos que invadiram a mesquita Masjid al-Haram, em Meca, para tirá-la do controle da família real em 1979 -, as regras islâmicas foram reforçadas de modo ainda mais rigoroso pelo governo, acarretando numa tutela ainda maior das mulheres, com aumento generalizado de proibições e perda de liberdades individuais.
Por isso, a decisão de autorizar a entrada de mulheres em arenas esportivas é vista como mais um passo das autoridades sauditas para garantir liberdade às mulheres.
À frente dessas mudanças está o príncipe Mohammed bin Salman, de 32 anos, que tenta modernizar a sociedade e impulsionar a economia da Arábia Saudita por meio de um plano chamado de "Vision 2030" (Visão 2030) que almeja reformar o país hoje dependente da produção de petróleo.
A correspondente da BBC Lyse Doucet afirma que as mudanças são motivadas, principalmente, pela queda no preço do barril de petróleo, que reduziu à metade as receitas do país e agora molda difíceis escolhas e mudanças.
Alinhado ao plano anunciado pelo príncipe e elaborado com a ajuda de consultores internacionais, um decreto real já havia garantido, no mês passado, o direito de mulheres poderem dirigir - uma conquista classificada como histórica. O país também voltou a ter shows musicais e os cinemas devem ser reabertos em breve.
Na quarta-feira, o príncipe disse que a volta do "Islã moderado" é a chave para modernizar o país. Bin Salman disse que 70% da população saudita tem menos de 30 anos de idade e quer uma vida "na qual a religião represente tolerância".
Mas analistas avaliam que o plano do príncipe é arriscado e atrai resistência, em especial dos mais conservadores.
No mês passado, por exemplo, o reino saudita enfrentou forte reação nas redes sociais depois de ter autorizado mulheres a participarem da celebração do Dia Nacional num estádio esportivo em Riyadh pela primeira vez.