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As 5 táticas usadas pela Rússia para tentar influenciar eleição dos EUA

Os EUA acusaram a Rússia de interferir na eleição presidencial de 2024 — e anunciaram sanções contra executivos dos meios de comunicação estatais do país.

10 set 2024 - 05h05
(atualizado às 07h44)
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Vladimir Putin ao lado de Margarita Simonyan, editora-chefe da emissora estatal russa RT, que foi alvo de sanção dos EUA
Vladimir Putin ao lado de Margarita Simonyan, editora-chefe da emissora estatal russa RT, que foi alvo de sanção dos EUA
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A recente revelação da Casa Branca sobre as tentativas da Rússia de influenciar a eleição presidencial deste ano nos EUA não surpreende ninguém que tenha acompanhado as táticas de desinformação durante a última eleição americana.

Ao longo da campanha de 2020, o Kremlin usou meios de comunicação patrocinados pelo Estado — como o canal de televisão internacional RT e o site de notícias e estação de rádio Sputnik — para divulgar uma série de conteúdos questionando a legitimidade do processo democrático dos EUA.

Descobriu-se também que redes de bots (robôs) e trolls (perfis, geralmente falsos, que ofendem, atacam e provocam outros pela internet), patrocinadas pela Rússia, também estavam promovendo desinformação polarizada e teorias da conspiração em redes online.

Desta vez, os EUA apreenderam uma rede de domínios de internet administrados por russos, e anunciaram sanções contra dez pessoas, incluindo Margarita Simonyan, editora-chefe da RT (ex-Russia Today), por "atividades que visam minar a confiança pública em nossas instituições".

As sanções incluem o congelamento de qualquer propriedade ou ativo nos EUA e, potencialmente, restrições a qualquer cidadão ou empresa dos EUA que trabalhe com eles.

Os EUA também acusaram dois gerentes da RT baseados em Moscou, Kostiantyn Kalashnikov e Elena Afanasyeva, sob a lei de combate à lavagem de dinheiro, de pagar criadores de conteúdo dos EUA para divulgar "propaganda e desinformação pró-Rússia" em território americano.

O procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, disse que a Rússia estava tentando emplacar seu "resultado preferido" na próxima eleição presidencial — e minar o apoio dos EUA à Ucrânia na guerra.

As práticas alegadas pelo Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) dos EUA coincidem com o que eu e meus coautores identificamos em nosso novo livro Russia, Disinformation and the Liberal Order ("Rússia, Desinformação e a Ordem Liberal", em tradução livre), como tendo se tornado uma prática padrão nas tentativas russas de influenciar o público internacional.

A seguir, estão cinco das principais táticas russas de manipulação da informação que identificamos — e que podem ajudar a entender o mais recente escândalo de interferência eleitoral.

1. Usar influenciadores locais

O DOJ acusa os funcionários da RT de terem pago a uma empresa sediada no Estado americano do Tennessee cerca de US$ 10 milhões (R$ 55,7 milhões) para produzir conteúdo de rede social alinhado com os interesses russos, sem revelar que o financiamento veio do Estado russo.

Vários influenciadores conectados à empresa do Tennessee disseram desde então que tinham controle editorial sobre seu conteúdo, e negaram conhecimento de qualquer ligação com a Rússia. Mas isso se encaixa nos padrões identificados na nossa pesquisa.

Primeiro, a RT trabalha há muito tempo com o espaço da mídia populista de direita — e muitas vezes imita o estilo e as práticas da mídia populista de direita dos EUA. Ela frequentemente coloca links para seus artigos em seu site, promove personalidades da mídia de direita e distribui seus programas, além de apresentá-los em suas próprias plataformas.

Com base nisso, a RT tem oferecido com frequência plataforma, financiamento e carta branca a personalidades da mídia dos Estados que têm como alvo, cujas crenças genuínas atendem aos interesses da Rússia. Afinal, as pesquisas confirmam que as pessoas são mais propensas a acreditar em alegações que ouvem repetidamente, sejam essas alegações verdadeiras ou não.

2. Veículos de notícias falsas

Como parte deste caso, os EUA apreenderam uma rede de domínios de internet supostamente usados para promover informações falsas direcionadas a subgrupos específicos da população dos EUA. Disfarçados de sites locais, seu conteúdo tende a explorar as preocupações e controvérsias sociais específicas que repercutem entre determinados grupos-alvo, além de amplificar os principais pontos de discussão russos.

Vimos isso no passado, quando a Agência de Pesquisa da Internet, apoiada pelo Kremlin, criou um site de notícias de esquerda falso — e enganou freelancers desavisados a contribuir com conteúdo para operações de informação russas. As atividades anteriores da RT mostram que a emissora não tem escrúpulos em camuflar deliberadamente seus vínculos com outras operações e grupos de mídia.

Sabemos pela nossa pesquisa que estes sites não só costumam fazer referências cruzadas entre si, como também frequentemente fazem referências cruzadas com outros sites autointitulados contra o mainstream para aumentar sua credibilidade com determinados grupos demográficos online.

3. Botar lenha na fogueira

Outra tática comum para manter a credibilidade do conteúdo é vinculá-lo aos medos e preocupações que já são importantes em qualquer sociedade. Por exemplo, a Rússia não levou a guerra cultural para os EUA, mas aproveitou habilmente as ansiedades da sociedade americana em relação ao tema. As operações da mídia russa fizeram isso vir à tona sem se envolver com elas de forma significativa.

Da mesma forma, quando os sites russos se disfarçam de fontes locais, eles priorizam temas que são familiares aos seus públicos-alvo. Normalmente, porém, tópicos controversos são floreados com uma colcha de retalhos de informações reais e fabricadas. O público acha difícil separá-las, e suas suposições iniciais significam que, muitas vezes, não estão motivados a tentar.

Cabine de votação nos EUA
Cabine de votação nos EUA
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

4. Inverter a situação

Moscou negou repetidamente qualquer envolvimento em campanhas de influência, assim como fez em 2018, quando o Reino Unido acusou o Estado russo de uma série de envenenamentos com novichok na cidade de Salisbury. Naquela época, os políticos e a mídia russa promoveram uma complexa rede de teorias da conspiração que espelhavam de volta as acusações sobre os serviços de segurança do Reino Unido e dos EUA.

Desta vez, vimos novamente esta tentativa de "virar o jogo", invertendo a situação, por parte das autoridades da Rússia. O embaixador de Moscou em Washington, Anatoly Antonov, rejeitou as alegações dos EUA como um produto da "russofobia" — o mesmo termo usado pela embaixada russa após os envenenamentos de Salisbury.

E a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, repetiu seu argumento favorito dos últimos anos, acusando os EUA de se tornarem uma "ditadura neoliberal totalitária". Isso pode parecer risível vindo da representante de um Estado que criminalizou as críticas à sua invasão da Ucrânia. No entanto, mentiras descaradas e desmentidos bem-humorados costumam andar juntos nas operações de informação da Rússia.

5. Humor

O Estado russo usa rotineiramente o humor estrategicamente, e a RT surgiu como uma espécie de pioneira no uso do humor para legitimar as ações da Rússia ou neutralizar críticas.

Mas a rede não usa apenas o humor para informar sobre política internacional. Sua abordagem de marca registrada é incluir-se conscientemente como parte da piada. Várias campanhas publicitárias da RT usaram críticas estrangeiras como argumento.

O mesmo espírito ficou claro na resposta sarcástica de Simonyan às últimas acusações. Em comentários postados no Telegram e reproduzidos espirituosamente pela RT, a editora-chefe rejeitou as acusações como alarmismo dos EUA "sobre a todo-poderosa RT". Suas palavras são um exemplo perfeito de como a RT se deleita com seu status de "pária populista".

A Rússia continua a refinar a maneira como tenta influenciar pautas além de suas fronteiras, e não há nenhum indício de que isto vai parar tão cedo.

*Precious Chatterje-Doody é professora de política e estudos internacionais na The Open University, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).

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