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As crescentes mortes e lesões em tentativas de pular 'muro de Trump' para entrar nos EUA

Casos de fraturas e ferimentos graves, alguns fatais, aumentaram cinco vezes nos últimos três anos na Califórnia, onde uma cerca de metal de 9 metros foi erguida durante o governo de Donald Trump.

12 mai 2022 - 08h13
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Pessoas tentam escalar muro
Pessoas tentam escalar muro
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quando Héctor Almeida Gil estava no alto da cerca da fronteira entre os Estados Unidos e o México, de repente ele avistou diversas pessoas tentando subir, desesperadas.

O dentista cubano de 33 anos estava com um grupo de imigrantes tentando pular uma das barreiras de 9 metros de altura que separam o México e os EUA no Estado da Califórnia.

A cerca é a mais alta da fronteira erguida durante o governo de Donald Trump, que dizia que esse "belo muro" que ele mandou construir seria "intransponível".

Mas muitos migrantes tentam pular a cerca quase todos os dias. Alguns conseguem. Outros ficam presos nela e um número preocupante de pessoas fica gravemente ferida ao tentar.

Almeida Gil escalou a cerca no final de abril com ajuda de uma escada usada comumente por traficantes de migrantes.

Quando a polícia mexicana se aproximou do local, várias pessoas subiram correndo as escadas e o cubano só conseguiu se segurar nas barras para evitar uma queda mais forte.

Ele teve um pouco de "sorte", porque "só" quebrou uma perna. Mas ele viu uma mulher cair e quebrar os dois membros, e outro homem sofrer um grave ferimento na cabeça.

Amy Liepert tratou Hector Almeida em um hospital universitário em San Diego
Amy Liepert tratou Hector Almeida em um hospital universitário em San Diego
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Almeida foi internado em um hospital da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), cidade que possui dois condados que fazem fronteira com o México, onde foram registrados 375 feridos e 16 mortes de 2019 a 2021, a maioria vítimas de quedas do muro.

Isso é cinco vezes mais do que o registrado entre 2016 e 2018, e coincide com a instalação da cerca de 9 metros, que é mais perigosa de escalar do que as que existiam antes, de 3 a 5 metros, segundo um estudo liderado por Amy Liepert, da UCSD.

"As lesões mais comuns são as fraturas nas extremidades, principalmente nas pernas. Em geral, são fraturas bastante graves, não uma simples quebra de uma parte do osso", explica ela à BBC News Mundo.

O muro "impenetrável"

A partir da década de 1990, o governo dos EUA começou a construir vários tipos de barreiras em sua fronteira com o México.

Uma das mais comuns é uma cerca metálica de barras verticais instaladas em áreas urbanas e algumas áreas montanhosas ou desérticas, nos Estados da Califórnia, Arizona, Novo México e Texas.

Algumas cercas são reforçadas com arame farpado, principalmente em áreas urbanas
Algumas cercas são reforçadas com arame farpado, principalmente em áreas urbanas
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Mas há pontos sem qualquer barreira, algo que Donald Trump prometeu mudar com um muro mais alto do que qualquer outro: "É praticamente intransponível", disse ele, na época que autorizou a construção.

Um dos modelos escolhidos foi uma cerca metálica de 9 metros com placas metálicas no topo, que foi instalada nos Estados da Califórnia e Arizona.

Embora não tenha se provado intransponível para os migrantes, que usam escadas de mais de 9 metros, a barreira mostrou-se perigosa.

"O que descobrimos quando comparamos um período de seis anos é que houve uma grande diferença de 2016, 2017, 2018 em relação a 2019, 2020, 2021. Nesses primeiros três anos, tivemos 67 pacientes com lesões traumáticas por causa do muro", explica Liepert. "No segundo triênio, foram 375 pacientes."

Trump afirmou que seu muro na fronteira seria "instraponível"
Trump afirmou que seu muro na fronteira seria "instraponível"
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Nos últimos três anos, 16 pessoas perderam a vida na fronteira da Califórnia, de acordo com o estudo de Liepert. E no Arizona, em abril passado, um migrante morreu asfixiado depois de ficar pendurado de cabeça para baixo por horas.

Nos três anos anteriores, não houve mortes.

Lesões graves

Liepert explica que as lesões observadas nos últimos anos não são leves e correspondem a quedas graves.

"Os ossos que estamos vendo quebrados costumam estar em vários lugares, com muitas lesões nos tecidos moles, o que é mais condizente com uma queda de grande altura", explica o médico.

"Mas também vimos fraturas no crânio e lesões cerebrais traumáticas, fraturas faciais, fraturas pélvicas", continua ele.

Além dos feridos, 16 pessoas morreram nos últimos três anos
Além dos feridos, 16 pessoas morreram nos últimos três anos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Sua investigação é sobre a Califórnia, mas Liepert diz que ouviu falar de casos semelhantes em outros Estados da fronteira dos EUA. "Alguns dados estão começando a sair de outros centros de trauma. Nada disso foi publicado até agora", aponta.

Do lado mexicano, não houve pesquisa como a publicada no final de abril por Liepert e seus colegas na revista científica JAMA Surgery.

Quando consultada, a Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) dos EUA não deu uma resposta.

De acordo com o jornal The Washington Post, o CBP não tem um registro do número de pessoas feridas na tentativa de cruzar a cerca da fronteira.

Mas o número de apreensões de migrantes sem visto atingiu níveis recordes no final de 2020 e nos primeiros nove meses de 2021, o que geralmente serve de indicação de uma onda de migrantes tentando chegar aos EUA.

No ano fiscal de 2021, mais de 1,7 milhão de pessoas foram detidas após cruzar a fronteira, provenientes de 160 países. A maioria eram migrantes da Guatemala, Honduras, El Salvador e México.

Muitos dos que tentam pular a cerca são pessoas que não têm condições físicas para fazê-lo
Muitos dos que tentam pular a cerca são pessoas que não têm condições físicas para fazê-lo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Para hospitais como o da UCSD, o tratamento de migrantes em áreas de trauma também se tornou uma despesa crescente pela qual eles não são reembolsados.

"Eles não têm plano de saúde e muitos deles não têm nenhum tipo de autofinanciamento. E, portanto, eles não têm nenhum seguro. Então eu entendo que muitos cuidados não são compensados", diz a médica.

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