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As más notícias da vitória de Trump para Lula, segundo Ian Bremmer

Proximidade de Elon Musk com Trump e suas críticas ao brasileiro poderão ter influência negativa na relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos, acredita fundador da consultoria de risco Eurasia.

6 nov 2024 - 15h24
(atualizado às 15h48)
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Contas do Twitter de Trump e Elon Musk
Contas do Twitter de Trump e Elon Musk
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A vitória de Donald Trump na eleição americana traz dores de cabeça para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o cientista político americano e fundador da consultoria de risco Eurasia, Ian Bremmer.

A proximidade do bilionário Elon Musk com Trump e suas críticas ao brasileiro poderão ter influência negativa na relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos, acredita Bremmer.

Trump também sofrerá influência do ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ao lidar em suas relações com o país.

"Existe uma relação [de Trump] com Bolsonaro que continuou com visitas a Mar-A-Lago. Existe uma 'anti-relação' de Elon Musk com o Supremo Tribunal Federal e a disputa envolvendo o X, que foi suspenso por um tempo e multado. Essas duas coisas são más notícias para Lula", disse Ian Bremmer, em resposta a pergunta da BBC News Brasil durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira (6/11).

A Eurasia está presente em dezenas de países no mundo — inclusive no Brasil — e produz relatórios sobre riscos de países para clientes dos setores público e privado.

"Claramente haverá mais pontos negativos na relação bilateral, dado o histórico de Trump, a experiência do Brasil em 8 de janeiro [de 2023], a experiência de Trump em 6 de janeiro [de 2021] e os esforços dos brasileiros, sobretudo do Supremo, de impedir que Bolsonaro possa concorrer de novo."

"Além disso há diferenças sobre mudanças climáticas. Eu espero que quando Trump vá se encontrar com Lula, Bolsonaro estará fazendo bastante barulho, como seu filho e todas as pessoas a seu redor. E acho que Trump vai acabar minando a relação bilateral entre Brasil e EUA. E Lula vai tentar manter tudo estável."

Ian Bremmer é cientista político e fundador do grupo Eurasia
Ian Bremmer é cientista político e fundador do grupo Eurasia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

No entanto, Bremmer aponta que há pessoas dentro dos governos de Brasil e EUA que poderão estabelecer relações mais serenas e produtivas entre os dois países. No lado brasileiro, ele cita o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim.

"Nos bastidores, Amorim será um interlocutor plausível com o secretário de Estado que for apontado, ou com o Assessor para Segurança Nacional".

Bremmer acredita que o mais cotado para assumir o cargo de secretário de Estado de Trump é Bill Haggerty, senador republicano pelo Estado do Tennessee. Durante o primeiro mandato de Trumo, Haggerty serviu como embaixador americano no Japão.

Haggerty é membro do comitê de relações exteriores do Senado americano. Em fevereiro, ele escreveu uma carta ao presidente Joe Biden criticando a falta de sanções do governo americano contra Lula e o Brasil, entre outros governantes e governos latino americanos.

"No Brasil, você falhou em aplicar as sanções de não proliferação dos EUA quando o presidente [Lula] da Silva permitiu que dois navios de guerra iranianos sancionados pelos EUA atracassem no porto do Rio de Janeiro em fevereiro de 2023", escreveu.

No entanto, Bremmer acredita que Haggerty é um político que "vai querer ter uma relação de negócios com o Brasil".

Bremmer analisa que a aproximação entre Musk e Trump pode ser maior do que apenas no campo político. Ela poderia também extrapolar para o campo dos negócios. O cientista político especula que o X, de Elon Musk, pode vir a comprar a rede social criada por Trump, a Truth Social.

"Se isso acontecer, o papel de Elon em promover a transformação da política externa em memes contra indivíduos com quem ele tem problemas — como o primeiro-ministro do Reino Unido [Keir Starmer], por exemplo, ou o presidente do Brasil ou juízes do Supremo no Brasil, vai se tornar um braço importante de política externa do governo Trump", afirma.

"Isso não existia no primeiro mandato de Trump. Não havia esse ecossistema ou um segundo ator. Agora existe isso, e acho que é importante considerarmos."

Apesar de todas essas previsões, Bremmer não acredita que o Brasil estará entre as prioridades do novo presidente.

"A América do Sul e Latina — tirando o México — não é uma grande prioridade para Trump, tirando os assuntos de imigração."

Eleição legítima

Bremmer diz que não ficou surpreso com a vitória de Trump — e que ela segue um padrão já observado recentemente em pleitos no mundo, como no Reino Unido.

"Parte do que estamos vendo é o fato de que estruturalmente ao redor do mundo existe desconfiança com o establishment", diz Bremmer.

"Quase todas as eleições recentes no mundo foram contra quem está no poder, mostrando que as pessoas não estão contentes com seus líderes, com seu país e querem algo diferente."

Ele prevê mudanças semelhantes em eleições que ocorrerão em países como Japão, Alemanha e Canadá.

Para ele, a candidata derrotada Kamala Harris não soube se distanciar do presidente Joe Biden — algo que teria sido crucial para conquistar mais eleitores.

Bremmer também ressalta que a legitimidade de Trump é incontestável diante da vitória expressiva que teve, conquistando inclusive a maioria no voto popular.

Para ele, a magnitude da vitória deve ser encarada dentro dos EUA e no mundo como um alinhamento da população americana com as políticas propostas por Trump no comércio, assuntos de segurança e temas sociais.

"Esta é uma vitória esmagadora, não importa o que se diga. E isso significa que todos na América têm que dizer: 'este é o nosso presidente dos Estados Unidos'."

A primeira grande questão internacional envolvendo Trump, segundo Bremmer, será a guerra na Ucrânia. Muitos acreditam que o republicano vai diminuir substancialmente seu apoio militar ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky — fortalecendo a Rússia, de Vladimir Putin.

Se isso acontecer, Bremmer prevê uma reação dos países europeus da aliança militar Otan, que cobram dos EUA uma liderança em favor da Ucrânia. Tudo isso, segundo o analista da Eurasia, é uma amostra de como no segundo mandato de Trump haverá "muito mais em jogo do que no primeiro".

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