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As principais revelações de relatório que pode selar o futuro de Boris Johnson como premiê

Investigação da servidora Sue Gray considerou que fato de festas terem sido realizadas na sede do governo britânico durante períodos de lockdown para a população consiste em um "fracasso de liderança".

31 jan 2022 - 15h54
(atualizado às 17h29)
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Relatório recém-publicado diz que houve um "fracasso de liderança" diante de festas que ocorreram durante o lockdown
Relatório recém-publicado diz que houve um "fracasso de liderança" diante de festas que ocorreram durante o lockdown
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Foi tornada pública nesta segunda-feira (31/1) a investigação civil em torno das confraternizações promovidas na sede do governo do Reino Unido em um período em que a população do país estava em lockdown. Os desdobramentos desse relatório podem selar o futuro de Boris Johnson como premiê, embora até o momento ele tenha resistido à pressão para renunciar.

O chamado relatório Sue Gray atribuiu a um "fracasso de liderança e de julgamento" o fato de festas terem sido promovidas em Downing Street nos momentos mais rígidos de restrição ao distanciamento social.

A servidora pública Sue Gray investigou as circunstâncias de 16 eventos - dos quais três ainda não tinham chegado ao conhecimento do público - entre maio de 2020 e abril de 2021. Todas aconteceram em Downing Street ou nos gabinetes ministeriais, além de uma que ocorreu dentro do Departamento de Educação.

Esses eventos incluem um encontro com drinques no jardim de Downing Street - ao qual Johnson compareceu - em 20 de maio de 2020 e também uma comemoração do aniversário de Johnson, no chamado Cabinet Room (sala de reuniões ministeriais), em 19 de junho de 2020.

Desse total, 12 estão sendo agora apurados criminalmente pela Polícia de Londres. Nos demais quatro casos, a conclusão é de que não há motivo para investigação criminal.

Diante do Parlamento, o premiê voltou a se desculpar pelos episódios. "Peço desculpas pelas coisas em que não acertamos e pelo modo como o assunto tem sido lidado. Não adianta dizer que as coisas foram feitas dentro das regras e não adianta dizer que as pessoas (de Downing Street) estavam trabalhando duro. Esta pandemia tem sido difícil para todos. Pedimos às pessoas que fizessem sacrifícios extraordinários e entendo a raiva do público. Mas não basta pedir desculpas. Temos de nos olhar no espelho e aprender. (...) Aceito as descobertas feitas por Sue Gray por completo e sua recomendação de que aprendamos e ajamos agora".

"Estamos fazendo mudanças na forma como Downing Street e os gabinetes ministeriais funcionam, para que possamos seguir com o trabalho a que fui eleito a fazer", concluiu.

Em resposta, o líder da oposição, Keir Starmer, liderou o pedido - apoiado por alguns membros do próprio partido de Johnson - para que ele renuncie.

"O primeiro-ministro nos tratou como tolos", afirmou Starmer, acrescentando que ele é "um homem que não tem vergonha" por não ter oferecido sua renúncia e dizendo que Johnson estaria "se escondendo atrás" da investigação policial em curso.

O Partido Trabalhista (oposição) também afirmou que "não há dúvidas de que o primeiro-ministro é alvo de uma investigação criminal", uma vez que as evidências apontam que ele esteve presente em ao menos três dos eventos que estão na mira da polícia (Johnson se recusou a dizer se estava presente a um quarto evento, que teria ocorrido em seu apartamento).

Johnson reagiu dizendo que "o relatório não tem absolutamente nada que embase a bobagem que ele (Starmer) acabou de falar".

Além de relatório de Sue Gray (acima), há uma investigação criminal em andamento na polícia
Além de relatório de Sue Gray (acima), há uma investigação criminal em andamento na polícia
Foto: PA Media / BBC News Brasil

"Tenho total confiança na polícia e espero que eles concluam seu trabalho", acrescentou o premiê.

As críticas do relatório

"Sob o contexto da pandemia, quando o governo pedia que cidadãos aceitassem restrições amplas em suas vidas, alguns dos comportamentos ao redor desses encontros são difíceis de serem justificados", escreveu Sue Gray em seu relatório.

"Ao menos alguns dos encontros em questão representam um sério fracasso em se observarem não apenas os altos padrões esperados de quem trabalha no coração do governo, mas também os padrões esperados de toda a população britânica naquela época."

Ela também concluiu que "parece que se pensou muito pouco a respeito do que estava acontecendo no país ao se avaliar se essas confraternizações eram apropriadas, (quanto ao) risco que representavam à saúde pública e como elas poderiam ser vistas pelo público".

A conclusão mais forte é que "houve fracassos de liderança e julgamento por diferentes partes do Número 10 (uma forma de se referir à sede do governo) e pelos gabinetes ministeriais em diferentes momentos. Alguns desses eventos não deveriam ter podido acontecer. Outros não deveriam ter podido evoluir como evoluíram."

Gray também apontou que o consumo excessivo de álcool em algumas das confraternizações "não é apropriado em um ambiente profissional em momento algum".

A investigação

Sue Gray e sua equipe entrevistaram 70 indivíduos, mas nenhum deles teve seu nome divulgado.

A investigação também examinou e-mails, mensagens de WhatsApp e de SMS, fotografias e registros de entrada e saída nos gabinetes e escritórios.

O relatório não detalha quanto a se eventos individuais (entre os 12 destacados) estiveram dentro das regras estipuladas do lockdown, uma vez que os episódios ainda estão sendo investigados pela polícia. É possível que mais detalhes sejam tornados públicos posteriormente.

Boris Johnson no chamado Cabinet Room, em foto de 29 de julho de 2019, quando assumiu o poder; ali teria acontecido uma festa de aniversário para o premiê durante a pandemia
Boris Johnson no chamado Cabinet Room, em foto de 29 de julho de 2019, quando assumiu o poder; ali teria acontecido uma festa de aniversário para o premiê durante a pandemia
Foto: UK Government / BBC News Brasil

Nas entrevistas, Gray afirmou ter descoberto que membros da equipe governamental queriam ter podido levantar críticas aos comportamentos que presenciaram, mas se sentiram incapazes de "desafiar essas má condutas".

Ela também apontou que muitas pessoas estavam tendo de trabalhar presencialmente, apesar de o governo ter feito um apelo para que a população trabalhasse de casa durante os meses de lockdown.

Sob a Lei do Coronavírus imposta pelo governo, más condutas são passíveis de multa no Reino Unido.

O que vai acontecer com Johnson?

Antes da fala do premiê nesta segunda-feira, um porta-voz do mandatário afirmou que Johnson não acha que desrespeitou a lei.

Johnson também tem deixado claro que não pretende renunciar.

Mas se a pressão do escândalo crescer, é possível que parlamentares de seu próprio partido, o Conservador, tentem removê-lo, especialmente se a investigação policial se mostrar muito danosa.

Antes mesmo do relatório desta segunda, diversos membros de alto escalão do Partido Conservador haviam pedido a remoção de Johnson - o que pode levar eventualmente a um voto de não confiança no premiê.

Numa votação desse tipo, Johnson precisaria de uma maioria simples de votos de seu partido para permanecer no poder.

Essa votação pode ser requisitada se ao menos de 15% dos parlamentares conservadores eleitos escreverem uma carta dizendo que não têm mais confiança no premiê.

Considerando que há atualmente 359 conservadores no Parlamento, seria necessário que 54 deles assinassem o pedido.

Na noite desta segunda-feira (horário local), após reuniões com o Partido Conservador, um parlamentar ouvido pela BBC afirmou que ainda se está distante dessas 54 assinaturas.

A BBC apurou que Johnson prometeu aos correligionários relações muito mais próximas entre o governo e os parlamentares do partido e de que publicaria o teor completo do relatório de Sue Gray (uma vez que, por conta da investigação policial, apenas uma parte das descobertas foram reveladas). Um parlamentar afirmou considerar que que Boris Johnson está, no momento, em "liberdade condicional".

A antecessora de Johnson, Theresa May, sobreviveu a uma votação de não confiança em dezembro de 2018, mas acabou renunciando seis meses depois.

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