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Às vésperas de calote, 'guerra retórica' entre Grécia e credores atinge nível máximo

29 jun 2015 - 19h50
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Às vésperas de um possível calote, a guerra retórica entre a Grécia e os credores atingiu o nível máximo, impulsionada por temores de que o país possa vir a abandonar o euro.

Com aproximação de calote, bolsas do mundo inteiro registraram perdas
Com aproximação de calote, bolsas do mundo inteiro registraram perdas
Foto: (EPA)

Nesta terça-feira, vence o prazo para que o governo grego pague a última parcela de um empréstimo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) no valor de 1,6 bilhão de euros (R$ 5,6 bilhões). No mesmo dia, também expira o pacote de socorro financeiro ao país.

Desde a semana passada, tentativas de solucionar o impasse sobre a dívida grega fracassaram. Sem um acordo, o governo grego, liderado pelo partido de esquerda Syriza, convocou um plebiscito para o próximo domingo por meio do qual caberá à população decidir se aceita ou não as condições exigidas pelos credores, incluindo novos cortes em salários e benefícios sociais.

O governo grego alega que não tem mais espaço de manobra, já que quase metade da população do país vive abaixo da linha da pobreza.

Por sua vez, os credores culpam o governo de esquerda pela paralisia nas negociações.

Bancos fechados

Nesta segunda-feira, os bancos gregos amanheceram fechados para impedir uma corrida dos cidadãos para sacar seu dinheiro.

Os líderes europeus alertaram os gregos que rejeitar as propostas dos credores no referendo significará o abandono do euro.

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou que a votação seria "sim ou não para a zona do euro".

Já o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, defendeu que os gregos votem contra o acordo com os credores, mas diz querer que o país permaneça no bloco de moeda única.

Na noite desta segunda-feira (tarde no Brasil), milhares de gregos, insatisfeitos com os efeitos do ajuste fiscal que já dura mais de cinco anos se reuniram na capital do país, Atenas, para demonstrar apoio ao governo.

As negociações entre a Grécia e os credores fracassaram na semana passada, levando os bancos gregos a fechar as portas nesta semana.

Os temores de um calote grego contagiaram as principais bolsas do mundo, que registraram perdas. A Bolsa brasileira, a Bovespa, fechou o pregão com queda de 1,86%.

O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, afirmou que os gregos escolheriam entre o "euro e o dracma", enquanto o presidente francês, François Hollande, afirmou que "o que está em jogo é... saber se a Grécia quer permanecer ou não na zona do euro".

Plebiscito

Em entrevista de mais de uma hora à TV grega na noite desta segunda-feira, Tsipras defendeu que os gregos votassem contra o acordo com os credores. Segundo ele, uma eventual vitória do "não" daria ao governo maior força para retomar as negociações.

Tsipras disse que seu governo tinha um mandato "estar dentro do arcabouço europeu, mas com mais justiça".

"Eles não vão nos expulsar da zona do euro, porque o custo é imenso", disse ele.

O premiê grego também afirmou que a intenção dos credores não é "se livrar da Grécia, mas de mim".

O ministro das finanças britânico, George Osborne, afirmou que a saída da Grécia do euro seria "traumática" e que o Reino Unido não deveria minimizar seus efeitos.

Mais cedo, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou ter se sentido "traído" pelo "egocentrismo" demonstrado pela Grécia no fracasso das negociações.

Juncker afirmou que as propostas da Grécia estavam "atrasadas" ou "deliberadamente alteradas", mas acrescentou que a porta ainda estava aberta às negociações.

Apesar da guerra retórica pública, um funcionário do alto escalão do governo grego afirmou que Tsipras havia conversado com Juncker na sexta-feira, pedindo a extensão do socorro financeiro à Grécia até o plebiscito.

Juncker afirmou ainda acreditar que a saída da Grécia do euro não era uma opção e reforçou que a última proposta dos credores significaria maior 'adequação social'.

Negociação fracassada

No último sábado, o BCE (Banco Central Europeu) decidiu não estender o socorro financeiro aos bancos gregos, depois do colapso das negociações sobre o acordo da dívida grega.

O atual teto do financiamento de emergência do ECB é de 89 bilhões de euros (R$ 311,5 bilhões). Porém, todo o dinheiro já foi desembolsado.

Após o anúncio do ECB, a Grécia afirmou que os bancos permaneceriam fechados até o dia 6 de julho. Os caixas eletrônicos voltaram a funcionar, mas clientes só podem sacar quantidades limitadas de dinheiro.

O ministro de Transportes grego, Christos Spirtzis, anunciou que o transporte público permanecerá gratuito na região da capital do país, Atenas, durante a semana em que os bancos ficarão fechados.

O euro caiu 2% frente ao dólar nesta segunda-feira antes de recuperar parte das perdas.

Já os custos dos empréstimos a governos da Itália e Espanha, outras duas economias da zona do euro fortemente afetadas pela crise financeira, subiram em meio aos temores do calote grego.

A Bolsa de Valores de Atenas está fechada como parte das medidas emergenciais.

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