A onda de violência no Afeganistão, que já deixou mais de 160 mortos em uma semana
Ataques suicidas evidenciam crise de segurança em país asiático, às voltas com o Talebã e crescimento do Estado Islâmico.
Mais de 150 pessoas morreram na semana passada em um ataque suicida em Cabul, a capital do Afeganistão. Trata-se do maior ataque no país asiático desde 2001, ano em que uma coalizão internacional removeu do poder o regime fundamentalista islâmico do Talebã.
Anteriormente, a estimativa das autoridades do país asiático eram de que 90 pessoas tinham morrido, mas a correção nas estatísticas foi apresentada nesta terça-feira pelo presidente afegão, Ashraf Ghani, na abertura de uma conferência com 23 nações, entre elas os Estados Unidos, Rússia e a China, para discutir possíveis soluções para trazer segurança e estabilidade ao país.
O governo de Ghani tem sido alvo de protestos por conta da crise de segurança evidenciada pelos sangrentos eventos de semana passada, e o presidente adotou um tom pouco conciliador com os militantes muçulmanos ao dizer que "é hora de o Talebã aceitar a paz ou enfrentar as consequências".
Mas mesmo durante o encontro houve um lembrete de como a situação está se deteriorando até em Cabul, há até pouco tempo considerada uma espécie de "ilha" de segurança no país: um foguete atingiu uma quadra de tênis nas cercanias da embaixada da Índia. Segundo a polícia, não houve feridos.
O ataque a bomba de semana passada, o mais mortífero desde que o Talebã foi tirado do poder por forças lideradas pelos EUA, em 2001, deu origem a protestos violentos contra o governo, em que quatro pessoas morreram. A polícia usou bombas de efeito moral e tiros para o alto para tentar conter as multidões.
No fim de semana, o enterro de um dos mortos no protesto foi alvo de três ataques suicidas, que deixaram o menos sete mortos.
De acordo com as estatísticas mais recentes da ONU, houve 715 mortes de civis nos primeiros três meses de 2017, com quase 1,5 mil feridos. O total para o ano de 2016 foi de quase 3,5 mortos e cerca de 8 mil feridos. A maioria das fatalidades ocorreu em decorrência de incidentes com extremistas e bombardeios aéreos.
Ainda não se sabe quem foram os autores dos atentados de semana passada. O Talebã negou ter participado, mas o governo afegão acusa um grupo afiliado, o Haqqani, de ter realizado as atrocidades, com apoio do Paquistão. O país vizinho rejeita as acusações.
No início do ano, um comandante militar dos EUA defendeu abertamente o envio de mais tropas internacionais para o Afeganistão como forma de resolver o que ele chamou de "impasse" na luta contra o Talebã, cujos miliantes controlam mais de um terço do território afegão.
O país tem importância estratégica para uma série de outras nações, mais especificamente por fazer fronteira com o Irã e o Turcomenistão, donos, respectivamente, da segunda e quarta maiores reservas de gás natural do mundo. Isso faz do Afeganistão um importante ponto de passagem para gasodutos presentes e futuras.
E é palco de uma luta por influência regional entre grandes potências como EUA, Rússia e China. Some-se a isso a conturbada relação com o vizinho Paquistão, acusado de ser o principal patrocinador do Talebã. E, mais recentemente, o surgimento do braço afegão do grupo radical autodenominado Estado Islâmico.