À ONU, Coreia do Norte diz que desertor era um "criminoso"
País negou manter campos de concentração e afirmou que Shin Dong-hyuk - tema do best-seller "Fuga do Campo 14" - era um "criminoso que fugiu depois de estuprar uma menina"
A Coreia do Norte lançou uma campanha agressiva tentando desacreditar um relatório da Organização das Nações Unidas sobre violações dos direitos humanos no país, depois da notícia de que um desertor proeminente havia desmentido parte de seu depoimento.
Shin Dong-hyuk, tema do best-seller "Fuga do Campo 14", é um conhecido desertor norte-coreano que testemunhou em um relatório da ONU, no qual fez acusações graves sobre violações de direitos na Coreia do Norte. No domingo, Shin admitiu em um post em sua página no Facebook ter mudado partes de sua história.
"Ele é um vigarista que apareceu com nome e carreira falsos, e não passa de um parasita", afirmou o embaixador da Coreia do Norte nas Nações Unidas em Nova York, Ja Song Nam, em uma carta vista pela Reuters.
A carta foi enviada à Assembleia Geral das Nações Unidas e ao secretário-geral, Ban Ki-moon, e os norte-coreanos pediram que fosse considerada como um documento oficial.
O texto repete a posição de longa data da Coreia do Norte, de que não mantém campos de prisioneiros políticos e diz que Shin era um "criminoso que fugiu depois de estuprar uma menina menor de idade, de apenas 13 anos".
A Coreia do Norte já acusara Shin de estupro no passado. Em uma entrevista em outubro à Reuters, Shin disse que a acusação de agressão sexual era uma invenção que ele já havia ouvido antes.
Shin, que inicialmente disse ter nascido e sido criado dentro do notório Campo 14 da Coreia do Norte, fugiu do país em 2005, mas agora diz que foi transferido para um campo menos brutal, o 18, no início da vida, e que fugiu uma primeira vez para a China, em 2002.
A carta da Coreia do Norte afirma que "todas as 'resoluções' sobre a situação dos direitos humanos na (Coreia do Norte) aprovadas à força pela Assembleia Geral, com base em tais documentos falsos, não têm validade".
O parágrafo 760 do relatório, que detalha a tortura de crianças, cita Shin dizendo que foi torturado com a idade de 14, tendo o dedo cortado por deixar cair uma máquina de costura.
Em um comunicado em seu site, o autor de "Fuga do Campo 14", Blaine Harden, diz que Shin agora afirma que foi torturado aos 20 anos, e os danos ao seu dedo foram causado por guardas depois de seu retorno da China em 2002.
Michael Kirby, um juiz australiano que comandou a investigação da ONU, afirmou que as mudanças na parte de Shin não afetam as contatações da comissão.
"É parte do depoimento de uma testemunha, cujas declarações são citadas em uma página de um relatório de 350 páginas que inclui o testemunho de centenas de outras pessoas, portanto, isso tem de ser considerado na sua proporção", disse ele.