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Ásia

Afeganistão: atletas cadeirantes querem esquecer guerra

O solo afegão é hoje um dos mais minados do mundo; dezenas de pessoas são mutiladas ou mortas por mês

30 out 2014 - 09h40
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Jogadoras de basquete no Afeganistão tentam retomar a vida e esquecer guerra
Jogadoras de basquete no Afeganistão tentam retomar a vida e esquecer guerra
Foto: SHAH MARAI / AFP

Minas, explosões de morteiro, pólio... As jovens jogadoras de basquete afegãs para cadeirantes exibem as marcas de 35 anos de conflitos na região, mas não aceitam posar de vítimas.

As cadeiras de rodas vão e voltam na quadra em movimentos rápidos e os torcedores aplaudem com vontade quando a bola entra na cesta. Era uma quarta-feira em Cabul, durante a final do terceiro torneio anual de basquete feminino para deficientes físicos, organizado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Após 40 minutos de jogo, a equipe de Mazar-e-Sharif ficou com o título ao derrotar a de Cabul por 26 a 9, mas, para muitas dessas atletas, o simples fato de ter a chance de estar em quadra é uma enorme vitória sobre a adversidade.

Azima Ahmadi tinha apenas seis anos de idade quando sua casa foi atingida por um morteiro dos talibãs, que tomaram a capital em 1996.

A explosão acabou atingindo a perna esquerda da menina, rasgando nervos e paralisando o pé de maneira irreversível.

Azima teve que desistir do sonho de se tornar uma jogadora de futebol, mas o basquete devolveu a ela a motivação e o instinto competitivo.

"Minha mensagem é que os deficientes físicos não devem se sentir desfavorecidos. Seja qual for o seu objetivo na vida, lute para alcançá-lo", disse a jovem de 23 anos, vestindo o uniforme rosa da equipe de Cabul e usando um véu preto na cabeça.

"Meu sonho é jogar em países europeus, como Itália, Alemanha e França", disse com um sorriso.

Mariam Samimi, da equipe vencedora, também tinha seis anos quando pisou em uma mina terrestre na província de Balkh, no norte do país. Ela perdeu todos os dedos do pé.

O incidente ocorreu em 1996, em plena guerra civil afegã, quando poucos serviços médicos estavam disponíveis para tratar esse tipo de ferimento.

Hoje com 23 anos, a jovem, que é assistente social e uma atleta popular, também tem uma mensagem positiva para quem está passando pelo que ela passou: "Não percam as esperanças, e nunca digam 'não sou capaz', sempre tenham confiança".

Nos anos 1990, os serviços de saúde do Afeganistão também eram precários na prevenção da poliomelite.

Por causa da paralisia infantil, Kamila Rahimi, atleta do Mazar-e-Sharif de 19 anos, perdeu os movimentos. Mas dentro de quadra ela esquece a deficiência.

"Eu me sinto feliz em poder jogar basquete, porque adoro jogar com minhas companheiras. Quando rio, elas riem comigo, e quando choro, elas choram comigo", explica emocionada.

O torneio foi disputado em dois dias com a participação também da equipe da cidade de Herat. As melhores jogadoras serão escolhidas para integrar a seleção nacional afegã, explicou à AFP Alberto Cairo, responsável pelo programa ortopédico do CICV no Afeganistão.

O Afeganistão vive a guerra em seu cotidiano desde a invasão soviética de 1979, que pretendia manter o país sob controle comunista, em plena Guerra Fria.

Após a saída do Exército Vermelho e uma guerra civil devastadora, os talibãs tomaram o poder em 1996, antes de serem expulsos por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

O solo afegão é hoje um dos mais minados do mundo. Dezenas de pessoas são mutiladas ou mortas por mês.

A situação continua sendo volátil, no momento em que as forças da Otan prometem sair do país até final de dezembro deste ano, deixando 12.500 homens encarregados de manter a paz e de formar um Exército afegão.

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