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Ásia

Ativistas lutam por afegã estuprada por líder religioso

Menina de 10 anos está desaparecida desde que foi devolvida aos familiares depois de ser violentada pelo líder religioso

29 jul 2014 - 10h38
(atualizado às 10h46)
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Após ser estuprada por um mulá em uma mesquita de uma região remota do Afeganistão, Berishna, de 10 anos, foi amparada por um grupo de mulheres ativistas diante da intenção de sua família de matá-la para "limpar a vergonha com sangue".

A menina viveu durante quase um mês em um abrigo, mas há dias a polícia devolveu à menina a sua família após ameaças de milícias locais, e agora se teme por sua vida.

Desde então, não há notícias de Berishna e ativistas e a organização Human Rights Watch temem por sua vida.

O líder religioso Mohammed Amin pediu à menina que ficasse para limpar o local após estudar o Corão na mesquita da remota cidade de Alti Gumbad, na província de Kunduz em 15 de maio.

"O mulá levou a menina à área de reza, amarou suas mãos e a estuprou", contou à Agência Efe Hasina Sarwari, pediatra que dirige um centro de amparo para mulheres.

"Depois, a libertou e a ameaçou de morte se contasse a alguém", acrescentou Hasina.

Quando Berishna voltou para casa, a mãe, assustada com a quantidade de sangue levou a filha a um hospital.

"O relatório médico revelou que o estupro tinha sido tão violento que lhe causou uma fístula entre a vagina e o reto", descreveu Sarwari.

A menina ficou internada no hospital por 22 dias, tempo durante o qual a polícia, os médicos e Sarwari protegeram a Berishna de sua família.

Seus familiares queriam levá-la e falaram "claramente em matá-la e jogá-la no rio", segundo a ativista.

"Mas a tia da menina não concordava e me avisou", afirmou Sarwari, acrescentando que "graças a isso pudemos protegê-la e evitar o 'crime de honra'".

Os crimes de honra são frequentes no Afeganistão, especialmente em casos de relações extra ou pré-matrimoniais, nas quais as mulheres costumam ser culpadas e castigadas com maior dureza que os homens, apesar de ser alvo de estupros ou relações forçosas.

Apesar dos avanços sociais que a queda do regime talibã revelou há 13 anos, os direitos das mulheres no Afeganistão seguem sendo vulnerados e os analistas acreditam que sua situação piorará com a retirada das tropas da Otan em dezembro.

Os habitantes do povoado capturaram o mulá, lhe deram uma surra e o entregaram à polícia.

O líder religioso admitiu na prisão a relação sexual, assegurou que foi consentida e que pensava que a menina tinha 17 anos.

Além disso, se ofereceu a receber 20 chicotadas como castigo e a casar-se com Berishna em dois anos, oferta que a família rejeitou.

Assim que a menina recebeu alta, a pediatra Sarwari a levou a um centro de crianças, o que lhe rendeu ameaças de mulás e de milícias armadas.

"Começaram a me ameaçar para evitar que o caso se tornasse público. Os mulás e os líderes religiosos são muito respeitados e queriam evitar que o estupro viesse a público. Queriam que denunciasse a outra pessoa por isso", declarou Sarwari.

O marido da pediatra foi agredido por milícias locais, e a chefe do Escritório da Mulher em Kunduz, Naderah Geyah, renunciou após receber ameaças de morte.

Finalmente, após 25 dias no centro de amparada, a polícia entregou à menina a sua família depois que assegurassem que não sofreria nenhum dano.

"Estamos em contato com o chefe de polícia de Kunduz, que assegura que a menina está bem", disse à Efe a coordenadora de Assuntos de Mulher da Human Rights Watch no Afeganistão, Latifa Sultani.

"Mas a família não responde nossas ligações e não voltamos a ver a menina", assegurou Sultani, ressaltando que na realidade não sabem nem se a criança continua viva.

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EFE   
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