Confronto entre exército e guerrilha atinge civis no Sri Lanka
O exército do Sri Lanka segue atacando a guerrilha Tâmil, após tomar seu último enclave no norte, com bombardeios que feriram dezenas de civis nas "zonas seguras", delimitadas pelas autoridades em território rebelde para os que fogem dos combates, disse o porta-voz da ONU no país, Gordon Weiss.
Por telefone, Weiss acrescentou que equipes da ONU se encontravam na área atingida pelos bombardeios, embora não tenham se ferido. O porta-voz estimou entre 200 mil e 300 mil o número de civis que permanecem em território controlado pelos Tigres de Libertação da Pátria Tâmil (LTTE) no norte cingalês, onde rebeldes e militares travam intensos combates diariamente.
No domingo passado, o Exército anunciou a conquista do último reduto rebelde no norte do Sri Lanka, a cidade de Mullaitivu, e afirmou que o poder dos LTTE já se limita a pequenos povoados e áreas selvagens. A guerrilha anunciou que continuará a luta. Os choques na entrada de Mullaitivu continuam abertos e ontem deixaram "um número grande de vítimas" nas fileiras da guerrilha, embora as tropas só tenham encontrado três cadáveres, disse hoje à agência Efe uma fonte militar.
Os confrontos, que duraram cinco horas, também causaram "danos menores" entre os membros do Exército, acrescentou a fonte, que não pôde confirmar se a ofensiva chegou à área de segurança criada na semana passada pelo Governo para facilitar o movimento de civis do território tâmil aos locais sob controle governamental.
O ministro cingalês de Educação, Susil Premajayantha, citado pelo jornal Daily Mirror em sua edição digital, disse hoje que todo o território rebelde será "liberado" antes da celebração da independência do Sri Lanka, em 4 de fevereiro. Ontem, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pediu que se garanta a segurança dos civis encurralados pelos combates e pediu às partes que cheguem a um acordo para dar prioridade ao bem-estar e à segurança da população.
A guerrilha tâmil fez coro com as afirmações da ONU. O chefe político dos Tigres, B. Nadesan, declarou ontem à noite que o governo do Sri Lanka "está cometendo crimes de guerra contra os civis de etnia tâmil" que se refugiaram em "zonas seguras". O site Tamilnet, ligado à guerrilha, afirmou que o Exército fez "um açougue", com 300 mortos civis e centenas de feridos nos ataques das 24 horas anteriores contra as "zonas seguras", sem que haja confirmação oficial do número de mortos.
Nadesan afirmou que essas áreas carecem de infraestrutura para atender e abrigar os civis e negou que os LTTE estejam utilizando aos civis como escudos ou que os impeça abandonar o território sob seu controle, como afirma o governo. "Sabemos que os civis que fugiram das zonas de guerra e que estão nas mãos dos militares foram submetidos a humilhações e sofrimentos indizíveis. Não há mecanismos para garantir a dignidade humana deles", disse Nadesan, citado pelo site.
Ele pediu ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a outras agências humanitárias internacionais que dêem fim à guerra e a ajudem os civis. O ministro indiano de Relações Exteriores, Pranab Mukerjee, viaja hoje a Colombo para se reunir com o presidente cingalês, Mahinda Rajapaksa, e interceder pelos civis tâmeis.
Mukherjee, cujo país tem uma grande população tâmil no sul, disse que seu governo não sente "compaixão" pela guerrilha, mas também que os civis não podem se transformar em "vítimas" do conflito e devem ser protegidos, segundo as agências indianas PTI e Ians.
As tropas do Sri Lanka conseguiram tomar este mês a capital "de fato" do território sob domínio dos LTTE, Kilinochi, assim como o estratégico Passo do Elefante, que une a ilha com a península de Jaffna, e, finalmente, Mullaitivu. A guerrilha luta há 25 anos para proclamar um Estado independente no norte e no leste do Sri Lanka, onde predomina a etnia tâmil, enquanto os cingaleses formam a maioria no resto do país.