Coreia do Norte saúda reunião com Sul como 'feito imortal'
Jornais do regime dedicaram ampla cobertura para encontro entre ditador norte-coreano e o presidente Moon Jae-in
Os veículos de imprensa da Coreia do Norte dedicaram neste sábado (28) espaço para uma grande cobertura da cúpula entre as duas Coreias realizada na sexta-feira. O encontro foi classificado como "histórico" e um "feito imortal" do ditador Kim Jong-um "que vai figurar de maneira brilhante na história da unificação da Coreia".
O principal jornal do país, Rodong Sinmun, publicou na sua capa 15 fotografias de diversos momentos da histórica cúpula e outras 20 na segunda página.
Nas imagens podem ver os cumprimentos, o instante em que Kim Jong-un pisou no lado do Sul, as conversas a sós entre os dois líderes, ou o simbólico momento onde juntos plantaram uma árvore. Kim se tornou na sexta-feira o primeiro chefe de Estado da Coreia do Norte a pisar no território do Sul desde que o fim dos combates entre os dois países em 1953. Até hoje nenhum acordo de paz foi assinado.
Além disso, o jornal publicou na íntegra o texto da chamada "declaração de Panmunjom", assinada ontem durante o encontro entre Kim o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in.
A imprensa norte-coreana, que ontem simplesmente mencionou que o líder tinha viajado para o Sul com o objetivo de se reunir com o presidente sul-coreano, voltou-se para a cobertura hoje, sem esquecer questões tão espinhosas quanto a desnuclearização do regime.
Neste sentido, a agência estatal KCNA também publica a declaração literal assinada pelos dois líderes onde se menciona "o objetivo comum de conseguir a desnuclearização da península coreana".
A agência, porta-voz do regime, classifica a cúpula de "histórico encontro que abre uma nova era de reconciliação e de paz e prosperidade", incluindo um relato detalhado de tudo que aconteceu na véspera.
"Durante as conversas, foram trocadas opiniões francas e honestas sobre as relações Norte-Sul, como a paz e a desnuclearização da península da Coreia, e outros assuntos de interesse comum", aponta o texto.
A menção da mídia de Pyongyang ao compromisso pela desnuclearização é inédita em um país onde a propaganda oficial sempre vendeu o programa atômico como um motivo de orgulho para seus cidadãos, bem como a peça fundamental para garantir a sobrevivência do regime.
Segundo os analistas, nas anteriores cúpulas intercoreanas de 2000 e 2007, os meios evitaram os compromissos adotados neste sentido por Pyongyang, e que o regime finalmente não respeitou.
Reação mais cautelosa no Sul
Já os jornais sul-coreanos divulgaram no sábado uma visão cautelosamente otimista da cúpula coreana.
O jornal conservador Chosun, em editorial, saudou a reaproximação entre as duas Coréias, mas também disse que a cúpula deixou muito a desejar em termos de desnuclearização. Segundo o jornal, a declaração de Panmunjom está "um passo atrás do que foi acordado em 2005" - quando o Norte prometeu abandonar o desenvolvimento de armas nucleares e permitir que inspetores externos fizessem verificações.
"Mesmo que se chegue a um acordo sobre a desnuclearização do Norte na próxima cúpula EUA-Coréia do Norte, vai demorar um pouco para demolir instalações nucleares, armas e materiais físseis", disse o editorial da Chosun. "Para garantir que o Norte não volte a recuar como ocorreu nos últimos 25 anos são necessárias sanções contínuas e pressão."
Da mesma forma, o Joongang Daily disse que o acordo é "um ponto de partida para uma longa jornada em direção à desnuclearização. O jornal também disse que Kim ainda precisa revelar "como e quando a desnuclearização será realizada".
O Korean Heral, por sua vez, mostrou uma visão muito mais positiva sobre a cúpula, dizendo que o encontro "desempenhou o papel com bastante sucesso" como "um trampolim para a cúpula entre Washington e Pyongyang".
Na China, o jornal China Daily, comentou que, embora a desnuclearização possa "inaugurar uma nova era de desenvolvimento", nenhum plano para atingir a meta foi apresentado. "A desnuclearização da península, citada na Declaração de Panmunjom, é apenas uma perspectiva sem plano específico", apontou o China Daily. "Isso é porque tais detalhes só podem ser alcançados entre os EUA e a Coréia do Norte. A Coréia do Sul tem autoridade limitada para negociar."
JPS/efe/lusa