Famílias rohingyas sofrem de longe com violência em Mianmar
Em um abrigo em ruínas no sul da Índia, cercada de sujeira, Alakamma Bibi liga para sua casa em Mianmar praticamente de hora em hora. O telefone só chama, sem ninguém atender.
Nas duas semanas desde que ouviu sobre o surto de violência em Mianmar, ela tem passado incontáveis horas tentando entrar em contato com seus pais e irmãos, desesperada para ouvir suas vozes.
"Eu não consigo mais dormir", disse, debruçada sobre uma panela de arroz. "Meus pais podem estar mortos. Eles ficaram para trás porque era nossa casa. Agora, de repente, não há mais nenhum lugar para chamar de casa".
Bibi está entre as centenas de milhares de muçulmanos rohingyas que fugiram do Estado de Rakhine, em Mianmar, país de maioria budista, desde 2012, para outros países, incluindo Malásia, Paquistão, Índia, Bangladesh, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
Apenas na última quinzena, mais de 300 mil muçulmanos rohingyas atravessaram a fronteira para Bangladesh, fugindo de um surto de violência.
O governo de Mianmar considera os aproximadamente 1 milhão de rohingyas como imigrantes ilegais do vizinho Bangladesh e lhes nega a cidadania, embora muitas famílias rohingyas tenham vivido no país há gerações.
Em retaliação por ataques de insurgentes rohingyas contra postos de polícia e uma base militar, o Exército de Mianmar e vigilantes budistas conduziram uma campanha de incêndio criminoso para expulsar o grupo, segundo monitores de direitos humanos e rohingyas que conseguiram fugir. O governo de Mianmar nega a acusação.
Bolsões de comunidades rohingyas estão espalhados pelo sul da Ásia, com exilados ansiosos por notícias de seus familiares que ainda estão em Mianmar.
Em um beco no bairro de Hundred Quarters, em Karachi, Hamida, que nasceu na cidade paquistanesa, mas é fluente em birmanês e fala um pouco do idioma urdu, tem lido versos do Alcorão, rezando por um fim à perseguição de seus familiares muçulmanos em Mianmar.
"Meus primos que estão fugindo de seus vilarejos nos disseram que muitos dos nossos parentes foram esquartejados, até pequenos bebês", disse Hamida, que tem cerca de 40 anos.
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