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Ásia

Filha de ditador africano lança livro sobre exílio na Coreia do Norte

Monique Macias cresceu e foi educada em meio à elite norte-coreana após seu pai ser executado na Guiné Equatorial

4 out 2013 - 11h35
(atualizado às 11h39)
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Monique Macias passou 15 anos de sua vida crescendo como uma exilada em Pyongyang e seus dias escolares disparando rifles Kalashnikov na mesma prestigiada academia militar em que Kim Jong-il foi preparado para se tornar o herdeiro do regime norte-coreano. 

"Todas as memórias da minha infância começam quando eu cheguei naquele avião em Pyongyang", disse à agência Reuters Macias, a filha mais nova de um presidente transformado em ditador da Guiné Equatorial. "Eu sei como coreanos pensam e como falar com eles porque eles me ensinaram. Eles me fizeram". 

Agora na casa dos 40 anos, Macias publicou em coreano o livro de Memórias "Eu sou Monique, de Pyongyang", em que fala sobre o destino decidio por seu pai, Francisco Macias Nguema, cuja ditadura em Guiné Equatorial terminou com seu julgamento e execução no final dos anos 1970. Pouco antes de morrer, Macias Nguema procurou ajuda da Coreia do Norte para enviar sua mulher e seus filhos para Pyongyang, onde eles viriam passar a próxima década e meia. 

Ser uma das raras pessoas negras em Pyongyang e viver em um país estranho ensinaram Macias a ter uma visão totalmente diferente do mundo. E isso, ela diz, a inspirou a publicar o seu livro de memórias agora, em um momento em que as tensões entre o Sul e o Norte da Península Coreana estão no alto e as relações em baixa. "Apesar do Norte e do Sul dizerem que querem a unificação, eles não se conhecem de verdade como pessoas", diz. "Se queremos a unificação, precisamos enterrar os preconceitos". 

Nesta semana, a mídia estatal da Coreia do Norte criticou um relatório de um centro de estudos dos Estados Unidos sobre cenários para o colapso do reclusivo regime da família Kim, um cenário que Macias acredita ser improvável. "Há pessoas na Coreia do Norte que sabem que esse não é o jeito certo de viver", disse Macias. No entanto, ela diz não acreditar que o regime desmoronará facilmente. "Ele pode abrir como a China, mas muito, muito devagar". 

Atirando, escalando e correndo

Macias, que deixou a Coreia do Norte em 1994 e atualmente vive com a família na Espanha, ainda fala coreano como sua língua materna após ter passado seus anos formativos sendo educada ao lado dos filhos da elite norte-coreana. Ela conta que, em ocasiões sociais, Kim Il-sung, o líder fundador da Coreia do Norte, a cobrava para estudar mais, o que o fazia parecer como um "típico avô norte-coreano". 

Na Escola Revolucionária Mangyongdar, Macias e seus irmãos utilizavam um uniforme militar com uma brilhante estrela vermelha estampada. Sua educação, da qual fala muito bem, foi permeada por cursos e exercícios de sobrevivência. "Na primeira semana, todos nós estávamos tão famintos após atirar, escalar e correr todo o dia que comíamos nossa ração semanal em três dias. Nos pássavamos fome nos outros quatro dias", diz. "Mas nós aprendemos. Aprendemos a nos organizar". 

A escola tradicionalmente aceitava apenas meninos, mas Macias disse que uma classe de meninas foi formada para que ela e sua irmã pudessem estudar juntas. Cada menina recebia um rifle Kalashnikov para treinar e para aprender como desmontá-los e remontá-los.  "A maioria das pessoas sabia atirar com 18 ou 19 anos. Mas, porque eu fui colocada na única classe com garotas da idade da minha irmã, eu sabia atirar quando tinha 14. Eu provavelmente ainda conseguiria, mas não lembro como desmontar a arma". 

Macias lembra que, em 1989, os rumores sobre o movimento por democracia e o subsequente massacre da Paz Celestial em Pequim chegaram aos corredores das faculdades norte-coreanas. "Eu senti que estudantes universitários em Pyongyang também pensavam sobre mudanças na época", disse. "Apesar deles (a mídia norte-coreana) não reportarem, muitas pessoas sabiam sobre aquilo".

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