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Ásia

Índia importa "jeitinho brasileiro" para favelas de Mumbai

3 abr 2012 - 06h48
(atualizado às 08h59)
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Um grupo de arquitetos da Índia quer levar algumas lições aprendidas nas favelas brasileiras para Mumbai para melhorar as condições de moradia em regiões pobres da cidade indiana. Arquitetos e urbanistas do Institute of Urbanology - uma fundação dedicada à pesquisa e difusão de ideias de urbanismo, com sede em Mumbai - acreditam que várias iniciativas do governo indiano de reconstruir conjuntos habitacionais acabaram produzindo apenas corrupção, prédios decrépitos e vizinhanças miseráveis.

Autoridades de Mumbai querem fazer como no Brasil e dar um "jeitinho" nos casebres das favelas da cidade
Autoridades de Mumbai querem fazer como no Brasil e dar um "jeitinho" nos casebres das favelas da cidade
Foto: Urbz / BBC Brasil

Em alguns casos, as condições de vida dos moradores nos novos blocos até mesmo piorou quando eles trocaram seus casebres nas favelas por esses novos apartamentos. Os arquitetos indianos visitaram a favela de Paraisópolis, em São Paulo, este ano e ficaram empolgados com o que viram. Em vez de destruir casebres e construir conjuntos habitacionais novos, a maioria dos moradores da favela deu um "jeitinho" na sua própria casa. Segundo os profissionais do Institute of Urbanology, isso é muito mais eficaz para melhorar as condições de moradia do que simplesmente destruir favelas inteiras.

"Casas-ferramentas"

Matias Echanove, que participa do coletivo acadêmico de urbanismo Urbz, envolvido na viagem a Paraisópolis, aponta quatro problemas na construção de novos conjuntos habitacionais para substituição de favelas. Primeiro, para que os apartamentos tenham preços acessíveis, os construtores precisam reduzir muito o custo da obra, o que compromete a qualidade do material usado.

Outro problema é que os conjuntos habitacionais acabam com o que Echanove chama de "casas-ferramentas" - moradias que são usadas também como estabelecimentos comerciais. "Quando as pessoas perdem as suas casas nas comunidades, elas também perdem os seus negócios. Para a economia local, isso pode ser uma coisa ruim", disse Echanove à BBC Brasil.

O terceiro fator é o convívio social, que fica comprometido, pois as pessoas em prédios habitacionais interagem menos do que em comunidades como favelas. "(Em conjuntos habitacionais) é possível se sentir ainda mais inseguro do que em favelas. As favelas e comunidades de Mumbai têm algo que os urbanistas chamam de 'olho na rua', ou seja, sempre tem alguém circulando pelas ruas", diz o urbanista.

"Uma coisa que nos chamou a atenção em Paraisópolis é que em partes da favela nós tínhamos uma sensação maior de segurança do que em outros pontos de São Paulo, como no Centro da cidade, onde havia vários traficantes e usuários de drogas. Nas favelas, há mais famílias e trabalhadores circulando, o que torna o ambiente bem mais agradável".

Por fim, o urbanista acredita que a construção de prédios leva à corrupção. "O setor de construção é sempre um dos mais corruptos da economia. Em geral, são sempre os mesmos agentes que ganham os contratos públicos."

Vantagem
Outra vantagem observada pelos urbanistas em sua visita a Paraisópolis é o que os profissionais chamam de "desenvolvimento incremental" - moradores que usam suas rendas para melhorar as próprias moradias, construindo mais andares em uma casa e "puxadinhos". "Nós vimos casos bem curiosos em Paraisópolis, como um morador que havia melhorado sua casa ao longo de 18 anos. Isso forma um ciclo muito mais rico de desenvolvimento urbano e econômico."

Ele reconhece que há também problemas graves nas favelas, sobretudo quando o poder público não provê boas ruas, saneamento e energia elétrica. Outra falha é que favelas sem nenhum tipo de planejamento urbanístico - sobretudo as construídas em áreas de risco - são mais vulneráveis em eventos como enchentes. Para Echanove, no entanto, isso pode ser resolvido com obras por parte das autoridades, e não com a remoção das favelas.

As lições podem ser aproveitadas em lugares como Dharavi, uma das cinco maiores favelas do mundo, cuja população total é estimada entre 600 mil e 1 milhão de pessoas.

Escola Dharavi-Paraisópolis

O Institute of Urbanology pretende realizar uma série de oficinas e debates em junho de 2013 sobre as experiências de arquitetura na Índia e no Brasil. Com apoio da Prefeitura de São Paulo e da multinacional de cimento Lafarge, profissionais da área passarão duas semanas em Dharavi e duas semanas em Paraisópolis para o evento que foi batizado de Escola de Urbanologia Dharavi-Paraisópolis.

"Pedreiros e moradores das favelas vão ensinar urbanistas, arquitetos e políticos algumas de suas técnicas. Nós queremos reverter a hierarquia tradicional de autoridade pública e mostrar que temos coisas a aprender como profissionais", diz o diretor da Urbz. Este ano, a entidade indiana levou estudantes da prestigiosa faculdade Sir JJ College of Architecture, de Mumbai, para o Brasil, onde eles passaram horas observando as técnicas desenvolvidas pelos pedreiros das favelas brasileiras. Esta semana foi lançada uma exposição com fotos tiradas da favela em São Paulo.

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