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Ásia

Líderes questionam versão saudita sobre caso Khashoggi

Após explicação sobre morte de jornalista em Istambul, UE e Anistia Internacional pedem investigação independente

20 out 2018 - 14h17
(atualizado às 14h39)
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Após a Arábia Saudita ter confirmado a morte do jornalista Jamal Khashoggi no consulado do país em Istambul, ministra do Exterior da Áustria, país que está à frente da presidência rotativa da União Europeia (UE), disse neste sábado (20/10) que "um incidente tão grave" deverá ter consequências nas relações entre Bruxelas e Riad.

Para Karin Kneissl, o fato de a Arábia Saudita ter reconhecido que o repórter morreu no seu consulado, "não altera a necessidade de uma investigação exaustiva, credível e independente", advertiu a ministra em comunicado.

A nota assinada pela ministra austríaca apontou ainda a "deterioração massiva da situação dos direitos humanos" no reino saudita durante "os últimos dois anos", principalmente com um "forte aumento do número de presos políticos", incluindo de "numerosas mulheres", que foram presas em junho e "cujo único crime foi participar em congressos".

Jamal Khashoggi morreu dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul
Jamal Khashoggi morreu dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul
Foto: DW / Deutsche Welle

Também o ministério das Relações Exteriores britânico está analisando o relatório saudita que confirma a morte do jornalista, reiterando que os responsáveis devem ser responsabilizados. Em declaração, o ministério britânico revelou neste sábado que também estão sendo ponderados "os próximos passos".

As autoridades do reino saudita reconheceram que o jornalista morreu durante uma briga no consulado do país em Istambul. A atividade do consulado foi suspensa depois da morte de Khashoggi.

Jamal Khashoggi

O jornalista saudita se tornou conhecido por seus artigos publicados em veículos em inglês sobre o mundo árabe e, especialmente, sobre a Arábia Saudita. No país árabe, Khashoggi trabalhou como jornalista durante muito tempo e chegou a ser assessor de um ex-chefe do serviço secreto, o príncipe Turki al-Faisal.

Devido às críticas à família real e ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o jornalista temia ser preso e, no ano passado, se mudou para os Estados Unidos, onde escreveu artigos de opinião e colunas para o Washington Post.

No dia 2 de outubro, Khashoggi foi ao consulado da Arábia Saudita em Istambul para providenciar a documentação necessária para seu casamento com a turca Hatice Cengiz. Após sete horas e meia sem notícias de seu noivo, Cengiz informou a polícia turca. Os investigadores analisaram vídeos filmados no entorno do prédio do consulado e abriram uma investigação oficial.

Fontes turcas afirmaram temer que agentes sauditas de um comando especial que se deslocou a Istambul teriam assassinado e esquartejado Khashoggi, que teria ainda sido alvo de tortura.

Policiais turcos disseram à agência Reuters que 15 agentes sauditas chegaram a Istambul em dois aviões no dia em que Khashoggi foi ao consulado. Segundo o jornal turco conservador e pró-governo Yeni Safak, eles visitaram o consulado enquanto o jornalista ainda estava dentro do edifício, e deixaram o país pouco tempo depois de seu desaparecimento.

Versões contrastantes

O caso gerou repercussão internacional e elevou as tensões entre a Arábia Saudita e o Ocidente. Na madrugada deste sábado, Riad anunciou a morte de Khashoggi. Segundo a Procuradoria Geral do reino árabe, o jornalista morreu numa "briga" que aconteceu devido a conversas que manteve no interior do consulado com indivíduos que ainda não foram identificados pelas autoridades.

A Procuradoria Geral garantiu que as investigações continuam e que 18 pessoas de nacionalidade saudita estão detidas por relação com o caso.

A versão saudita contrasta com a dos veículos de imprensa turcos e americanos, que, com base em supostas provas que estariam em posse das autoridades turcas, indicam uma execução brutal e planejada de Khashoggi, executada por agentes sauditas próximos do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que viajaram para Istambul no mesmo dia 2 de outubro.

As autoridades turcas, no entanto, não confirmaram oficialmente as informações que circularam na imprensa até agora. Neste sábado, Ancara anunciou, porém, que vai continuar com suas investigações sobre o caso e que revelará as suas próprias conclusões.

"Estamos fazendo nossa investigação independente. Revelaremos as nossas conclusões. Esta é a vontade do presidente", afirmou neste sábado em Istambul Ömer Çelik, porta-voz do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, segundo o jornal Hürriyet.

O porta-voz acrescentou que vai esperar as conclusões da investigação turca para avaliar a explicação dos fatos apresentada pelas autoridades sauditas. Por outro lado, a deputada do AKP Leyla Sahin Usta criticou a explicação de Riad, que, segundo ela, chegou muito tarde.

"Teria sido conveniente que os sauditas anunciassem os detalhes deste incidente com maior antecipação. Isto é uma grande vergonha para a Arábia Saudita e para todo o mundo", disse a legisladora. "Como resultado da investigação das autoridades turcas, o Ministério Público da Turquia tem algumas provas" que "serão reveladas em breve", acrescentou a deputada.

Em um primeiro momento, Riad havia afirmado que o jornalista tinha saído vivo da sede diplomática em Istambul, rejeitando as acusações de que ele teria sido assassinado dentro do recinto.

Pedido por investigações independentes

Aliados da Arábia Saudita, como o Egito, manifestaram apoio a Riad depois que admitiu a morte do jornalista Jamal Khashoggi no interior do consulado saudita em Istambul, mais de duas semanas depois de seu desaparecimento.

O Ministério das Relações Exteriores do Egito louvou em comunicado os resultados preliminares das investigações informados pela Procuradoria Geral saudita e considerou que tal passo mostra "o compromisso da Arábia Saudita para chegar à verdade sobre este incidente e para tomar as medidas legais contra as pessoas envolvidas no mesmo".

A Amnistia Internacional questionou neste sábado "a imparcialidade" das declarações sauditas e defendeu uma investigação independente.

A responsável da Anistia Rawya Rageh sublinhou que os grupos de direitos humanos e outras organizações deixam claro que é necessária uma "investigação imparcial e independente pelas Nações Unidas para se apurar o que aconteceu e se garantir justiça" para Khashoggi.

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