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Ásia

Malala retratava a vida escolar em meio ao Talibã em diário

Malala começou a contar sua história ao mundo pelo serviço de notícias da BBC em urdu quando tinha apenas 12 anos

11 dez 2014 - 06h11
(atualizado às 14h21)
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Apenas alguns anos antes de se tornar um ícone global e ser premiada com o Nobel da Paz, a jovem paquistanesa Malala Yousafzai era uma estudante no conflagrado vale do Swat, no Paquistão, região ocupada pelo grupo radical Talebã.

Ela sonhava em aprender, justamente numa época em que o Talebã fechava escolas de meninas por se opor à educação feminina.

Malala começou a levar sua história ao mundo pelo serviço de notícias da BBC em urdu (língua oficial do Paquistão), que em 2009 pediu à menina que escrevesse um diário de sua vida escolar no noroeste do Paquistão.

Foto: Reuters

Malala ganhou fama mundial ao defender educação de meninasFoto: Reuters

"Quando li o diário de Malala pela primeira vez ficou muito óbvio que ela tinha algo a dizer", diz Aamer Ahmed Khan, editor da BBC Urdu.

"Sua linguagem era muito simples, o que tornava sua narrativa ainda mais poderosa. Na época, ela tinha apenas 12 anos, então tinha a inocência de uma criança, mas era muito apaixonada e comprometida com a educação. Era incrível a forma como ela falava dos próprios medos e dos de suas amigas."

Malala escrevia seu diário com o pseudônimo de Gul Makai, nome de uma heroína de um folclore local.

"Tive um pesadelo terrível com o Talebã. Tenho tido pesadelos desde a invasão do Swat", escreveu Malala certa vez. "No caminho da escola para casa, ouvi um homem dizer que me mataria."

Em janeiro de 2009, quando sua escola estava entrando em recesso de inverno, ela escreveu que suas colegas não estavam muito contentes com as férias.

"Elas sabiam que, se o Talebã implementasse seu decreto (vetando a educação feminina), elas não poderiam voltar à escola. Eu opino que a escola vai reabrir algum dia, mas, ao ir embora hoje, olhei para o prédio (da escola) como se não fosse mais voltar", diz outro trecho do diário.

Diversas de suas amigas começaram a abandonar os estudos com medo de serem alvejadas por militantes ou abandonaram os uniformes escolares, para não chamar atenção.

'Voz de saída'

A experiência de Malala começou a ser escutada no Paquistão.

"Mantivemos a identidade dela em segredo para protegê-la, porque praticamente tudo o que publicamos na página do serviço urdu da BBC era rapidamente repercutido pela imprensa local", diz o editor Aamer Ahmed Khan. "Havia um interesse especial por seu diário, por ela ser a única voz saída do vale do Swat."

Foto: BBC News Brasil

Malala foi alvejada pelo Talebã em 2012; sua fama, que era local, tornou-se mundial/ Foto: BBC

Quando o Exército paquistanês fez uma incursão no local para tentar expulsar o Talebã, Malala e sua família, bem como outros milhares de residentes, fugiram do Swat. Foi quando ela decidiu se revelar como autora do diário.

A partir disso, Malala começou a fazer ativismo público pela educação feminina, tornando-se bastante conhecida no Paquistão.

Em 2012, a fama da menina ganhou o mundo depois que levou um tiro na cabeça, em um ataque conduzido por um militante do Talebã. Sua história, então restrita, amplificou-se e alcançou o planeta.

A bala acertou o lado direito de sua face, mas, em vez de penetrar o crânio, passou por baixo de sua pele, lateralmente. Ante a comoção despertada pelo caso, ela foi transportada à Grã-Bretanha para receber tratamento médico. Uma placa de titânio foi implantada em seu crânio.

Ativismo

Depois da recuperação, em 2013, ela passou a cursar o ensino médio em Birmingham, e seu pai virou empregado do consulado paquistanês na cidade.

Desde então, Malala ampliou seu ativismo para além do Paquistão, criou-se uma grande estrutura ao seu redor para promover sua causa (e também sua premiação ao Nobel) e ela já sonha com o cargo de premiê em seu país.

Foto: BBC / Reprodução

Seu diário foi publicado anonimamente pelo serviçu em urdu da BBC/ Foto: Reprodução BBC

Para Ahmed Khan, a jovem se tornou "um símbolo para muitas meninas anônimas no Paquistão, tão comprometidas quanto ela com a educação, mas que temem por seu futuro ante a falta de oportunidades e o conservadorismo".

Um fundo foi criado em seu nome para promover a educação infantil ao redor do mundo. Malala viajou para países como a Nigéria, onde se encontrou com o presidente Goodluck Jonathan para pressionar por ações para libertar as cerca de 200 jovens sequestradas pelo grupo radical Boko Haram.

Na quarta-feira, ao receber o Nobel da Paz junto com o ativista indiano Kailash Satyarthi - também um defensor de direitos das crianças -, Malala se disse honrada por ser a primeira pessoa da etnia pashtun paquistanesa a vencer o prêmio.

Ela é, também, a pessoa mais jovem já laureada com o Nobel.

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