Os dois territórios disputados por China e Índia que estremecem as relações entre os dois gigantes
História marcada por rivalidade e disputas territoriais voltou a registrar tensão, quando Pequim acusou Nova Déli de incursão em seu território.
São dois gigantes da Ásia, dois vizinhos com as maiores populações do planeta e duas das maiores economias do mundo. Mas unidos em uma relação complicada.
A história da China e da Índia é caracterizada por várias disputas territoriais que resultaram em três conflitos militares: em 1962, 1967 e 1987.
Apesar de as duas potências asiáticas terem conseguido restaurar e ampliar laços diplomáticos e econômicos, elas mantêm uma relação que parece cada vez mais complicada.
China e Índia estão separadas pela cordilheira do Himalaia e compartilham fronteiras com Nepal e Butão.
Ao longo da fronteira há dois territórios em disputa.
Na região da Caxemira - disputada por Índia e Paquistão -, está Aksai Chin, região administrada pela China.
Em seus mapas, o governo do Paquistão mostra Aksai Chin como uma região dentro da China e cataloga seus limites como "fronteira não definida".
A Índia, por sua vez, diz que Aksai Chin está ilegalmente ocupada pela China.
China e Índia também disputam grande parte de Arunachal Pradesh, região localizada no noroeste da Índia. A China reivindica o controle sobre esse território porque o considera parte da região autônoma do Tibete.
'Incidente sério'
Na terça-feira passada, surgiu uma nova disputa quando a chancelaria da China acusou a Índia de inspecionar seu território entre a Província indiana de Sikkim e a região do Tibete, na China, área conhecida como a travessia de Nathu La, no Himalaia.
Pequim disse que guardas de fronteira indianos haviam obstruído as "atividades normais" no lado chinês e pediu à Índia para retirá-los imediatamente.
Uma declaração publicada pelo Ministério da Defesa da China disse que o incidente "havia colocado gravemente em perigo a paz e a tranquilidade nas áreas fronteiriças", mas não deu detalhes sobre o suposto incidente.
A Índia também acusou recentemente soldados chineses de fazer uma incursão em seu território.
A travessia de Nathu La é utilizada por indianos que fazem peregrinações a localidades hindus e budistas no Tibete.
Em aparente represália aos incidentes recentes, a China bloqueou por "preocupações de segurança" a entrada de peregrinos indianos que tentavam cruzar a fronteira, segundo informou a chancelaria chinesa.
"Para as ações seguintes dependeremos do que o lado indiano faça. Eles precisam tomar medidas para melhorar a situação de segurança", afirmou o órgão.
A região em questão foi cenário, em setembro de 1967, de uma série de enfrentamentos militares entre os países, que deixou um número grande de vítimas dos dois lados.
Desde então, as tensões se elevaram em várias ocasiões.
Mas, como afirma o editor de assuntos do Sudeste Asiático da BBC, Ethirajan Anbarasan, o último incidente parece ser um dos mais sérios dos últimos anos.
Os vizinhos, ambos potências nucleares, se confrontaram também em outra guerra curta em 1962 pelo estado indiano de Arunachal Pradesh, outra disputa territorial que segue vigente.
Fronteira não reconhecida
As disputas fronteiriças começaram em 1914, quando o Reino Unido, que controlava a Índia, fez um acordo com o Tibete estabelecendo a chamada linha McMahon, um limite fronteiriço entre China e Índia que foi rejeitado por ambos tibetanos e chineses.
Até hoje, o status legal dessa fronteira não é reconhecido pelo governo chinês.
Em maio do ano passado, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, durante uma visita oficial à China, concordou com o presidente chinês Xi Jinping em buscar uma "resolução justa" para as disputas fronteiriças.
Os países também firmaram 24 acordos no valor de US$ 10 milhões para cooperação em educação, ferrovias e investigações científicas.
Análise
Martin Patience, correspondente da BBC em Pequim
Esses dois gigantes asiáticos falam sobre a necessidade de ter uma cooperação maior depois de décadas de desconfiança. E a economia é uma área em que podem estar de acordo.
Mas apesar de todas as conversas sobre cooperação, China e Índia continuam sendo rivais ferozes.
Não há qualquer indício de uma solução para a disputa fronteiriça de décadas.
E há cada vez mais rivalidade entre as duas nações que disputam a influência regional, o que pode levar a uma nova onda de tensões.
Tibete
Além da contínua briga fronteiriça, outros assuntos também provocam divisões entre China e Índia.
Os laços próximos que a China mantém com o Paquistão, o velho rival da Índia, com quem está desenvolvendo enormes projetos de infraestrutura, também têm sido uma fonte de tensão.
Outro assunto espinhoso é o Tibete e tudo vinculado a essa região anexada pela China nos anos 1950 e que agora é governada por Pequim como região autônoma.
O líder espiritual tibetano, o dalai-lama, viveu em exílio na Índia desde 1959, quando fugiu de Lhasa após um fracassado levante tibetano contra o regime chinês.
O dalai-lama é alvo de críticas de Pequim, que o considera uma ameaça para o controle da região.
Em abril passado, estouraram as tensões entre os dois países sobre a disputa da região de Arunachal Pradesh, no noroeste da Índia e que Pequim diz ser sua.
A China anunciou que mudaria o nome de seis localidades ao longo do território para "uniformizar" a região.
A medida foi interpretada como represália à visita recente que o dalai-lama fez a Arunachal Pradesh.
E também foi considerada uma ação de Pequim para exigir direitos sobre essa zona, que ficou sob controle da Índia após uma série de acordos no século 19 que a China nunca reconheceu.