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Ásia

Sem recursos, Camboja não retira bombas dos EUA lançadas na Guerra do Vietnã

14 fev 2017 - 10h02
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O Camboja interrompeu a retirada das bombas lançadas pelo exército dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã até conseguir mais doações internacionais para desativar os restos de 500 mil toneladas de explosivos que caíram em seu território durante o conflito.

No remoto povoado de Kokir, na província de Svay Rieng e perto da fronteira com o Vietnã, em uma região que fazia parte da rota de fornecimento do exército norte-vietnamita através de Laos e Camboja, dois barris repletos de gás lacrimogêneo permanecem enterrados.

Os trabalhos de retirada das bombas químicas estavam programados para fevereiro; no entanto, o secretário-geral da Autoridade Nacional para a Proibição de Armas Químicas, Nucleares e Radiológicas, Chey Sun, disse recentemente que os artefatos permanecerão enterrados até que se consigam mais fundos.

"Precisamos de dinheiro para os grupos de trabalho, trajes protetores e substâncias para limpar o local. Precisamos de gente para limpá-lo e de dinheiro. Não é tão fácil como ir aos campos de arroz e pegar rãs e caranguejos," disse Sun ao jornal local "Cambodia Daily".

Sun espera contar com o apoio dos países que já contribuíram em maior medida com os trabalhos de retiradas de minas e de outros restos da guerra, como Estados Unidos, Japão e Austrália.

"Não há dinheiro suficiente dos Estados Unidos", destacou Chey Sun ao jornal, ao prever uma despesa de US$ 3 mil para a retirada dos barris cuja substância não é letal.

Em contrapartida, a embaixada americana em Phnom Penh ressaltou que nas duas últimas décadas contribuiu com mais de US$ 114 milhões para eliminar "restos mortais da guerra".

"Nosso foco primário é remediar as ameaças mais perigosas, como minas e artefatos sem detonar", disse à Agência Efe o porta-voz da embaixada dos EUA em Phnom Penh, Jay Raman, em um e-mail.

Raman também declarou que, entre 2015 e 2016, o Departamento de Defesa dos EUA realizou um treinamento com as forças armadas cambojanas para identificar e inutilizar contêineres de gás CS e para poder neutralizar vazamentos químicos.

A controvérsia por causa dos fundos adicionais aconteceu depois que o primeiro-ministro, Hun Sen, pediu em vários discursos públicos recentes ao novo governo dos EUA que perdoe a dívida que o Camboja tem com Washington desde os anos 70 e que chega a US$ 500 milhões.

O embaixador dos EUA no Camboja, William Heidt, argumentou recentemente à imprensa local que "não é do interesse do Camboja olhar para o passado, mas somente resolver isto (a dívida), porque é importante para o futuro do Camboja".

Quase 20 mil pessoas morreram por causa de minas e bombas sem detonar desde 1979 no Camboja, segundo dados oficiais, embora o número anual tenha caído drasticamente de milhares de mortos ao ano na década de 90 para menos de cem em 2016.

Mesmo assim ainda restam cerca de 1.950 quilômetros quadrados a serem limpos de minas e bombas "adormecidas", sobretudo nas províncias do oeste, a região com maior densidade de minas por causa da guerra civil cambojana.

Em Kokir, os dois barris com produtos químicos estão sob a terra perto de uma escola no interior de um pagode budista, onde estudam duas centenas de crianças.

Perto das bombas, construtores perfuram os alicerces para construir um novo setor dentro do pagode, enquanto nenhuma placa alerta da presença do gás lacrimogêneo.

"Decidimos fazer este ano (a retirada das bombas) porque queremos usar este refeitório como lugar para realizar cerimônias. Os anciãos do povoado nos contaram que em 1972 os americanos lançaram bombas químicas no pagode", disse um dos membros do conselho municipal, Chhun Sakun.

Ao serem consultadas, várias famílias da região negaram efeitos visíveis em sua saúde por causa dos barris e não mostraram interesse na responsabilidade dos EUA.

No entanto, Dom Somhon, chefe de Kokir de 75 anos, considera que os EUA deveriam "ajudar o povo cambojano, pelo que fez no passado no Camboja".

EFE   
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