Tsai Ing-wen quer ser a 1ª presidente de Taiwan e renovar a política local
Após uma derrota por pouco em 2012, a líder opositora Tsai Ing-wen é a favorita unânime para se tornar a primeira mulher a governar Taiwan e, assim, agitar os alicerces tradicionais da política local e de seus laços com a China.
Capacitada, pragmática e capaz de administrar vontades, Tsai ganhou um amplo apoio popular (com 20 pontos de vantagem sobre seu principal adversária, Eric Chu), após ter revitalizado o independentista Partido Democrata Progressista (PDP) depois das duas derrotas eleitorais de 2008 e 2012. No entanto, seu maior trunfo para a vitória é o desejo de mudança e o descontentamento popular com a gestão econômica do atual governo, unido ao mal-estar de parte da população pela aproximação com a China e as divisões no partido governista.
Com doutorado na prestigiada Escola de Economia de Londres e experiência docente e governamental desde 1993, Tsai escalou, em seus 59 anos, a complexa cúpula política de Taiwan, com um perfil moderado e profissional, longe de extremismos. Na década de 90, participou das negociações para a adesão de Taiwan à Organização Mundial do Comércio e foi membro do Conselho de Segurança Nacional com o presidente Lee Teng-hui, artífice da democratização da ilha.
Tsai foi uma das criadoras da política "sem pressa e com paciência" de Lee na abertura econômica à China e da controversa doutrina de relações "especiais de Estado a Estado", que em 2007 despertou a ira do governo chinês. Durante o mandato do independentista Chen Shui-bian (2000-2008), foi vice-primeira-ministra e titular do Conselho de Assuntos da China Continental, sem ser membro do PDP até 2004.
Em apenas quatro anos desde sua entrada no partido independentista, ela alcançou o topo e se tornou a candidata presidencial no pleito de 2012, quando perdeu para Ma Ying-jeou. Após sua renúncia à presidência do PDP em 2012, Tsai voltou à frente do partido em 2014, decretando a paz entre as diferentes alas e impulsionando a moderação das relações com a China, o que lhe rendeu a fama de moderada e que os Estados Unidos não se opusessem às suas políticas.
Seu estilo pragmático e suave não esconde um rosto renovador, que quer acabar com o poderio político do governante Partido Kuomintang (KMT) o obrigando a abrir mão de suas propriedades e recursos, e também com um sistema de aposentadoria que privilegia os funcionários públicos com relação aos demais taiuaneses. Tsai quer trazer à ilha maior transparência política, prestação de contas e controle popular por meio de uma reforma do parlamento e a expansão das leis de referendo.
Com relação à China, ela defende a "manutenção do atual status quo" e da "paz e estabilidade no Estreito de Formosa" (também conhecido como Estreito de Taiwan), mas se nega a aceitar que a ilha seja parte desse país e o chamado "Consenso de 1992" ("Uma China com duas interpretações"). Tsai obteve a consideração dos Estados Unidos (ao contrário de 2012) sobre sua política chinesa durante uma bem-sucedida viagem a esse país, mas Pequim insiste que ela deve rejeitar explicitamente a "independência" e aceitar o "Consenso de 1992" se não quiser que os laços se deteriorem ou inclusive se rompam.
Tsai se afastou das políticas independentistas radicais do presidente Chen Shui-bian, também do DPP, que desencadeou fortes tensões com a China, mas seu partido ainda mantém uma postura independentista e se opõe firmemente ao controle chinês na economia, na imprensa e na política taiuanesas. Em economia, ela defende políticas de distribuição de renda, apoio ao bem-estar social e aumento de salários e mostra certo receio ante as grandes empresas, sobretudo as que tem interesses na China.