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Ásia

Zhou Qunfei, a chinesa que saiu da pobreza e se tornou a mulher não-herdeira mais rica do mundo

Empresária chinesa acumulou o equivalente a R$ 25 bilhões e lidera a lista feminina da Forbes de pessoas que não receberam heranças dos pais - ela trabalhou criando porcos e patos na juventude

6 mai 2018 - 16h54
(atualizado às 18h25)
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A fortuna de Zhou Qunfei é estimada em US$ 7,1 bilhões
A fortuna de Zhou Qunfei é estimada em US$ 7,1 bilhões
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Muitos milionários do mundo chegaram a essa condição recebendo heranças. Não é o caso de Zhou Qunfei, a mulher mais rica do mundo no ranking daqueles que conquistaram sua própria fortuna sem receber heranças, compilado pela revista norte-americana Forbes.

Qunfei é o que os americanos chamam de "self-made woman", ou seja, uma mulher que conquistou sua fortuna por conta própria.

Com um patrimônio estimado em US$ 7,1 bilhões (cerca de R$ 24,8 bilhões), Qunfei é a fundadora e diretora executiva da empresa Lens Technology, uma companhia que desenvolve, fabrica e vende as telas de vidro utilizadas em celulares, tablets e computadores. Entre as clientes da Lens estão gigantes como a Apple e a Samsung.

Aos 48 anos, Qunfei comanda um império que movimenta cifras bilionárias. Segundo as projeções de mercado, a fortuna deve continuar crescendo.

Caçula de uma família de três filhos, Zhou Qunfei nasceu em um povoado agrícola da província de Hunan, no sul da China. A infância não foi nada fácil: ela perdeu a mãe aos cinco anos de idade, e o pai ficou quase cego após um acidente de trabalho quando ela ainda era criança.

Ajudando na criação de porcos e patos numa granja, Qunfei teve de aprender a sobreviver em condições duríssimas. Aos 16 anos, deixou a escola para trabalhar em tempo integral.

É possível que você esteja lendo esta notícia em uma tela fabricada pela empresa de Qunfei
É possível que você esteja lendo esta notícia em uma tela fabricada pela empresa de Qunfei
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Ela então trocou a zona rural pela metrópole de Shenzhen (hoje com 12,5 milhões de habitantes, população equivalente à de São Paulo). O primeiro emprego foi numa fábrica de vidros para relógios, onde ela ganhava US$ 1 por dia.

Qunfei cresceu rapidamente na empresa e logo chegou a um cargo de chefia. Depois de algum tempo na posição, aos 22 anos, ela decidiu que iria montar seu próprio negócio.

A ligação da Motorola

Com suas economias e com a ajuda de parentes, ela instalou uma fabriqueta no apartamento de três quartos onde vivia. Junto com a família, Qunfei começou a fabricar vidros para relógios - o nicho no qual tinha se especializado.

Qunfei dedicou um bom tempo a melhorar as complexas técnicas necessárias para obter as telinhas de reduzida espessura e alta qualidade empregadas nos aparelhos.

A Lens Technology hoje fornece para gigantes como Apple e Samsung
A Lens Technology hoje fornece para gigantes como Apple e Samsung
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Esta era a atividade de Qunfei quando ela recebeu uma ligação da fabricante Motorola, perguntando se ela estaria disposta a ajudar no desenvolvimento de uma tela de vidro para celulares.

Naquela altura, no começo dos anos 2000, a tela da maioria dos celulares era de plástico - a Motorola queria produzir algo mais resistente e de melhor qualidade.

"Meu maior desafio foi vencer meus rivais e conseguir o contrato com a Motorola", relembra a empresária, em uma entrevista a jornalistas.

Pouco depois, em 2007, a Apple lançaria a primeira versão do smartphone que popularizou o conceito no mundo, o iPhone. E a Lens Technology foi escolhida para fornecer as telas.

A empresa de Qunfei tinha acabado de chegar à "primeira divisão".

Do Vale do Silício a Seul

"No período de rápido crescimento da China, o país estava cheio de oportunidades para empreendedores, inclusive mulheres", disse Qunfei ao jornal australiano The Australian Financial Review.

A analista Huang Yasheng, do Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT, na sigla em inglês), lembra que a história de Qunfei se passa no contexto de toda uma geração de empreendedoras que começaram de baixo.

A geração de Qunfei soube aproveitar as oportunidades que surgiram na China
A geração de Qunfei soube aproveitar as oportunidades que surgiram na China
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O Partido Comunista chinês nunca colocou obstáculos para as mulheres prosperarem quando o capitalismo começou a se disseminar na China, nos anos 1990, diz Yasheng.

Ao invés disso, o país estimulava a criação de novas empresas, e Qunfei tinha as melhores credenciais para comandar uma delas. Num momento simbólico, a empresária foi a anfitriã do presidente chinês Xi Jinping quando ele visitou a sede da companhia, recentemente.

Zhou é vista no país como uma representação do esforço e da dedicação dos chineses ao trabalho.

"Meu pai tinha perdido a visão. Então, se deixássemos alguma coisa em algum lugar, tinha de ser o local correto, exato, ou poderia haver um acidente", conta ela. "É esta atenção aos detalhes que eu exijo no trabalho", diz Qunfei.

Principais clientes de Qunfei hoje são as gigantes de Seul e da Califórnia
Principais clientes de Qunfei hoje são as gigantes de Seul e da Califórnia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Atualmente, os principais clientes da Lens Technology são a americana Apple e a sul-coreana Samsung. Isto faz com que Qunfei viaje continuamente para o Vale do Silício, na Califórnia (EUA), e para Seul, na Coreia do Sul. E ela usa seu jato particular para as viagens.

Nem o avião particular ou as viagens estavam em mente quando ela criou a empresa no apartamento de três quartos, aos 22 anos.

Agora que a China se prepara para entrar na disputa tecnológica, Qunfei parece ser o tipo de empreendedor de que o país precisa para competir no mercado global.

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