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Ataque de Israel mata 7 funcionários de ONG em Gaza: o local mais perigoso do mundo para trabalhadores humanitários

Não é a primeira vez que trabalhadores humanitários são mortos durante a guerra entre Israel e o Hamas em Gaza, que começou há quase seis meses.

2 abr 2024 - 13h45
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Funcionários da World Central Kitchen estavam em um comboio de ajuda humanitária que foi atacado
Funcionários da World Central Kitchen estavam em um comboio de ajuda humanitária que foi atacado
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Sete funcionários da ONG World Central Kitchen (WCK) foram mortos na segunda-feira (1/4) em um ataque aéreo israelense na Faixa de Gaza — eles distribuíam alimentos no território palestino, desempenhando um papel fundamental para conter a onda de fome iminente na região.

Israel admitiu nesta terça-feira o ataque "não intencional", afirmando que suas forças atingiram "pessoas inocentes".

Infelizmente, no entanto, estes não são os primeiros trabalhadores humanitários mortos durante a guerra entre Israel e o Hamas em Gaza, que começou há quase seis meses.

"Em nenhum outro lugar foram mortos tantos trabalhadores humanitários. Precisa haver um cessar-fogo imediato. Agora chega", escreveu Jan Egeland, chefe do Conselho Norueguês para Refugiados e ex-chefe de assuntos humanitários da ONU, após o ataque aéreo mortal de segunda-feira.

Antes do incidente, pelo menos 196 trabalhadores humanitários tinham sido mortos nos territórios palestinos desde o início da guerra, de acordo com a contagem feita pela Base de Dados de Segurança dos Trabalhadores de Ajuda Humanitária (AWSD, na sigla em inglês), que registra grandes incidentes de violência contra equipes de ajuda humanitária.

Ano passado — quando 161 trabalhadores humanitários foram mortos — foi o mais letal já registrado, de acordo com a AWSD.

A maioria dos mortos durante a guerra trabalhava para a agência da ONU que presta assistência a refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), que comanda a maior operação de ajuda humanitária em Gaza.

A UNRWA afirmou em um relatório na segunda-feira que 173 de seus funcionários haviam sido mortos, inclusive enquanto cumpriam seu dever. E acrescentou que 353 "incidentes que afetaram as instalações da UNRWA, e as pessoas dentro delas" foram registrados durante a guerra, incluindo "pelo menos 52 incidentes de uso militar e/ou interferência nas instalações da UNRWA".

Ataque 'não intencional'

Palestinos ao lado de um dos veículos atingidos
Palestinos ao lado de um dos veículos atingidos
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, admitiu nesta terça-feira (2/4) que um ataque israelense "não intencional" matou "pessoas inocentes" em Gaza.

A declaração foi feita no dia seguinte à morte de sete trabalhadores humanitários da ONG World Central Kitchen.

Em uma mensagem gravada em vídeo, ele disse: "Infelizmente, nas últimas 24 horas houve um caso trágico em que as nossas forças atingiram sem querer pessoas inocentes na Faixa de Gaza".

"Isso acontece na guerra, verificamos até o fim, estamos em contato com os governos, e faremos de tudo para que isso não aconteça novamente", acrescentou.

A World Central Kitchen, com base nos EUA, informou que os funcionários mortos — de origem australiana, polonesa, britânica e palestina, além de um cidadão com dupla cidadania americana e canadense — estavam em um comboio de ajuda humanitária que foi atingido.

A ONG afirma ter coordenado a movimentação com as forças israelenses, mas o comboio foi atacado após deixar um galpão em Deir al-Balah, "onde a equipe havia descarregado mais de 100 toneladas de ajuda alimentar humanitária enviada a Gaza pela rota marítima".

Ainda de acordo com a ONG, os trabalhadores humanitários estavam em uma "zona sem conflitos, em dois carros blindados com a logo da WCK" e num veículo normal.

ONGs suspendem operação em Gaza

A World Central Kitchen, fundada em 2010 pelo chef com estrela Michelin José Andrés, anunciou que está suspendendo suas operações em Gaza após a morte dos funcionários.

E acrescentou que "tomaria decisões sobre o futuro de [seu] trabalho em breve".

A ONG, que tem como objetivo fornecer refeições na sequência de crises humanitárias e desastres nacionais, afirma ter servido 42 milhões de refeições em 175 dias em Gaza — o que equivale a cerca de 240 mil por dia.

No mês passado, a World Central Kitchen fez parte da primeira missão marítima de envio de ajuda humanitária para Gaza - em cooperação com os Emirados Árabes Unidos.

"Não é apenas um ataque contra a WCK, é um ataque a organizações humanitárias que se apresentam nas situações mais terríveis, em que alimentos são usados como arma de guerra. Isso é imperdoável", declarou Erin Gore, CEO da World Central Kitchen.

A American Near East Refugee Aid (Anera), outra ONG com sede nos EUA, que desempenha um papel fundamental no fornecimento de alimentos aos palestinos, também informou que está suspendendo suas operações em Gaza.

A Anera vinha trabalhado em parceria com a World Central Kitchen nos últimos meses.

"A Anera e a WCK estão interrompendo as operações em Gaza. Juntas, a Anera e a WCK fornecem cerca de 2 milhões de refeições por semana em Gaza", afirmou à BBC Sean Carroll, CEO da Anera.

"Nossos corações partidos estão com nossos amigos da World Central Kitchen hoje e todos os dias", escreveu ele, mais cedo, no X (antigo Twitter).

Questionado sobre o impacto que a decisão de suspender o fornecimento de alimentos teria sobre os habitantes de Gaza — que, segundo a ONU, estão à beira de uma onda de fome provocada pelo homem —, Caroll afirmou:

"A força de ocupação tem a obrigação, no âmbito do direito internacional, de sustentar a população sob ocupação ."

Um relatório global recente alertou para a onda de fome iminente em Gaza, o que levou o mais alto tribunal da ONU a ordenar, na semana passada, que Israel permitisse imediatamente o livre acesso de ajuda humanitária.

Na ocasião, Israel rejeitou tanto o alerta de fome do relatório como a ordem judicial do tribunal da ONU, dizendo que as acusações de que está impedindo a entrada de ajuda humanitária são "totalmente infundadas". E acusou o Hamas de roubar as doações.

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