Ataques em Paris: quais as consequências para a Europa?
Desde que aconteceram os ataques em Paris, sentimento de vulnerabilidade na Europa vem crescendo
Pegando o trem na noite da última sexta-feira de Paris para Bruxelas, tive um sentimento ruim ─ como também tiveram as pessoas que embarcavam comigo.
Siga Terra Notícias no Twitter
Eu pude ver nos olhos deles o nervosismo na medida em que buscavam seus assentos e, ao mesmo tempo, olhavam para os lados de maneira tímida e desconfiada. Como poderíamos saber quem ali poderia ser suspeito?
Aqueles que buscavam espalhar o medo e a desconfiança, abalar a segurança e a estabilidade da Europa ─ que, em geral, nós tomamos como certa – conseguiram o que queriam.
Desde que aconteceram os ataques em Paris ─ todos em locais comuns, que frequentamos no dia a dia ─ em um restaurante, em um show e perto de um estádio de futebol, existe um sentimento de "vulnerabilidade" na Europa: entre pais com crianças pequenas em ônibus cheios, entre casais apaixonados indo ao cinema.
Roma está instalando detectores de metal no Coliseu depois que o FBI alertou à cidade que monumentos italianos poderiam ser "alvos do terrorismo".
Bruxelas cancelou um festival anual de estudantes no centro da cidade por causa de preocupações com a segurança. No sábado, a capital belga elevou o alerta de terror para o nível máximo.
O aeroporto de Copenhague teve um de seus terminais fechados depois de um alerta sobre um "pacote suspeito".
A Suécia elevou o estado de alerta nacional depois de receber informações sobre um ataque planejado ─ mesmo motivo pelo qual o amistoso entre Alemanha e Holanda foi cancelado às pressas em Hannover no meio da semana.
Há guardas armados no metrô e soldados em estações de trem.
Há operações militares acontecendo em áreas residenciais em Paris e Bruxelas, e a busca por homens armados e outros suspeitos ligados aos ataques na capital francesa continua.
As pessoas que acompanham notícias estão acostumadas a ver esse tipo de imagem perturbadora no Oriente Médio. Mas agora elas temem que o caos e o derramamento de sangue tenha chegado "à porta de casa".
Unidos contra o EI?
O presidente francês, François Hollande, que normalmente não costuma falar muito, já proclamou uma "guerra" contra o grupo que se autodenomina "Estado Islâmico" nesta semana.
Concorde ou não com ele, essas palavras têm consequências enormes ─ para a política externa francesa no Oriente Médio, para as liberdades civis na França e para a Europa, como um todo.
A indignação pública que tomou conta do mundo após os ataques em Paris uniu os países europeus (pelo menos de maneira superficial) ─ depois de um período de divergências sobre o fluxo de imigrantes e a crise do euro.
E os ataques em Paris podem também "catalisar" um movimento para trazer a Rússia para perto de novo.
A França declarou que quer destruir o EI após o grupo extremista ter assumido a autoria dos atentados na capital francesa. Mas a França não pode fazer isso sozinha. A Rússia é a principal candidata a ajudá-la nessa tarefa ─ e Moscou quer aproveitar o momento para acabar com as sanções impostas ao país após a anexação da Península da Crimeia.
A recente reunião do G20 na Turquia teve cenas que seriam consideradas pouco prováveis até então: o presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversando com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e com o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.
Ainda é cedo para falar em uma grande "coalizão anti-EI", mas há rumores de que ela possa surgir em breve.
Acordo de Schengen
O momento também é crítico para questões de segurança na Europa.
O ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, repreendeu seus colegas ministros por terem "perdido muito tempo" na luta contra o terrorismo e pediu atitudes concretas.
Agora o debate está sendo direcionado para o Acordo de Schengen, firmado em 1997, que selou a livre circulação de pessoas em 26 países da União Europeia.
O acordo é considerado uma das maiores conquistas da União Europeia, mas agora tem sido alvo de críticas porque acabou permitindo também a livre circulação de terroristas ─ um dos mentores dos ataques, por exemplo, Abdelhamid Abaaoud, nascido na Bélgica, viajou da Síria para a França sem ser identificado.
A França agora está pedindo um uso mais efetivo do Sistema de Informação de Schengen, uma base de dados que permitiria às forças de segurança fazerem alertas a respeito de indivíduos, objetos e veículos.
O país também quer facilitar o compartilhamento de informações sobre passageiros que viajam de avião e defende a criação de uma verdadeira agência europeia para policiar as fronteiras externas ─ algo a que alguns ministros já se opuseram.
Promessas
As promessas políticas costumam se multiplicar depois de atrocidades como as cometidas em Paris, mas um conselheiro de segurança britânico me disse que os serviços secretos gostam de manter suas informações, bem, secretas.
Infelizmente, a Europa foi alvo de vários ataques terroristas recentemente.
Depois de Madri em 2004, Londres em 2005, e do ataque ao semanário satírico francês Charlie Hebdo, foram feitas promessas de uma "cooperação além das fronteiras".
Mas isso acabou virando, na verdade, uma "disputa entre as fronteiras".
Talvez agora aconteça de maneira diferente.
Existe um senso de urgência maior, com uma perspectiva crescente de novos ataques.
Os seguidores dos Le Pen na França, os fãs de Wilders na Holanda, e os de Salvini na Itália querem que a Europa crie uma ponte com os imigrantes, mas os ataques em Paris levantaram o problema de jihadistas crescendo dentro de casa.
Os atentados a inocentes em Paris estão tendo um impacto enorme na Europa como um todo.
Os debates sobre imigrantes, fronteiras, o acordo de Schengen, as liberdades civis, Assad, o Estado Islâmico e etc estão fervendo.
Mas uma vez que as coisas forem se ajeitando, quais propostas e discussões vão se transformar em ações concretas?