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Auschwitz: como campo de extermínio se tornou centro do Holocausto nazista

Em 27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas chegaram para libertar o campo de extermínio nazista na Polônia.

22 jan 2025 - 10h57
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Um grupo de crianças sobreviventes atrás de uma cerca de arame farpado no campo de concentração nazista de Auschwitz
Um grupo de crianças sobreviventes atrás de uma cerca de arame farpado no campo de concentração nazista de Auschwitz
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Há 80 anos as tropas soviéticas libertaram o campo de extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau. E, na próxima segunda-feira (27/1), alguns dos últimos sobreviventes vão se juntar a líderes mundiais em memória das 1,1 milhão de pessoas assassinadas no local.

Os sobreviventes restantes estão agora, em sua maioria, na casa dos 90 anos — e este pode ser o último ano em que algum deles vai poder comparecer.

Em pouco mais de quatro anos e meio, a Alemanha nazista executou sistematicamente pelo menos 1,1 milhão de pessoas no campo de Auschwitz, construído no sul da Polônia ocupada, perto da cidade de Oswiecim.

Auschwitz estava no centro da campanha nazista para erradicar a população judaica da Europa, e quase um milhão dos que morreram lá eram judeus.

Entre os outros que perderam suas vidas, estavam poloneses, ciganos e prisioneiros de guerra russos.

Quando o Exército Vermelho entrou cautelosamente em Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945, restavam apenas cerca de 7 mil prisioneiros. Dezenas de milhares de outros já haviam sido forçados a sair a pé nas chamadas "marchas da morte" enquanto os nazistas se retiravam para o oeste.

O prisioneiro italiano Primo Levi estava num hospital do campo com escarlatina quando os libertadores soviéticos chegaram.

Os homens lançavam "olhares trespassados por um estranho embaraço, para observar os cadáveres decompostos, os barracões arruinados, e os poucos vivos", ele escreveria mais tarde em seu livro de memórias sobre o Holocausto, A Trégua.

"Não acenavam, não sorriam; pareciam sufocados, não somente por piedade, mas por uma confusa reserva, que selava suas bocas e subjugava os seus olhos ante o cenário funesto."

"Vimos pessoas magras, torturadas e depauperadas", disse o soldado Ivan Martynushkin sobre a libertação do campo de extermínio.

"Pudemos ver em seus olhos que eles estavam felizes por terem sido salvos desse inferno."

O que foi o Holocausto?

Quando os nazistas chegaram ao poder na Alemanha, em 1933, começaram a tirar dos judeus todas as propriedades, liberdades e direitos perante a lei.

Após a invasão e ocupação alemã da Polônia em 1939, os nazistas começaram a deportar os judeus do Terceiro Reich para partes da Polônia onde criaram guetos para separá-los do restante da população.

Em 1941, durante a invasão alemã da União Soviética, os nazistas começaram sua campanha de extermínio para valer. Os nazistas falavam da invasão como uma guerra racial entre a Alemanha e o povo judeu, assim como a população eslava e os ciganos.

Os guardas usavam pastilhas de Zyklon B para executar as pessoas nas câmaras de gás
Os guardas usavam pastilhas de Zyklon B para executar as pessoas nas câmaras de gás
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Grupos de soldados alemães chamados de Einsatzgruppen saíram pelas terras recém-conquistadas na Europa Oriental para massacrar civis. No fim de 1941, eles haviam matado 500 mil pessoas e, em 1945, cerca de 2 milhões — dos quais 1,3 milhão eram judeus.

Nos bastidores, os comandantes nazistas estavam experimentando formas de assassinato em massa. Eles temiam que atirar nas pessoas fosse muito estressante para seus soldados e, por isso, criaram meios mais eficientes de extermínio.

Vans experimentais de gás haviam sido usadas para matar pessoas com deficiência mental na Polônia já em 1939. Gases venenosos eram bombeados no compartimento fechado para matar quem estava lá dentro. No inverno de 1941, os nazistas haviam construído sua primeira câmara de gás e crematório em Auschwitz.

Os líderes nazistas se reuniram em janeiro de 1942 na Conferência de Wannsee para coordenar o massacre em escala industrial — o que eles chamaram de "solução final para a questão do povo judeu": matar toda a população judaica na Europa, 11 milhões de pessoas, por meio do extermínio e do trabalho forçado.

O que era Auschwitz?

O lema infame Arbeit Macht Frei — 'o trabalho liberta' — permanece até hoje inscrito no portão de entrada do campo de Auschwitz 1
O lema infame Arbeit Macht Frei — 'o trabalho liberta' — permanece até hoje inscrito no portão de entrada do campo de Auschwitz 1
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Auschwitz era originalmente uma instalação militar do Exército polonês no sul da Polônia. A Alemanha nazista invadiu e ocupou a Polônia em setembro de 1939 e, em maio de 1940, transformou o local em uma prisão para presos políticos.

O oficial nazista designado comandante do campo de concentração, Rudolf Höss, levou o lema Arbeit Macht Frei — "o trabalho liberta" — de outro campo onde havia trabalhado, em Dachau, na Alemanha.

Essa mentira infame permanece lá até hoje, inscrita acima do portão de entrada do campo que ficou conhecido como Auschwitz 1.

À medida que a guerra e o Holocausto avançavam, o regime nazista expandiu bastante o local.

As primeiras pessoas a serem mortas com gás foram um grupo de prisioneiros poloneses e soviéticos em setembro de 1941.

No mês seguinte, começaram as obras para construção de um novo campo, Auschwitz 2-Birkenau. Esse campo se tornou o local das enormes câmaras de gás, onde centenas de milhares de pessoas foram assassinadas até novembro de 1944, e dos crematórios, onde seus corpos foram incinerados.

Birkenau se tornaria o maior dos seis campos de extermínio nazistas. Três outros, em Belzec, Sobibor e Treblinka, também foram concluídos em 1942.

Os primeiros judeus enviados para Auschwitz 2-Birkenau foram 999 mulheres e meninas da Eslováquia, em março de 1942. Logo na sequência, foram realizadas deportações da França e, mais tarde, da Holanda e da Bélgica. Em 1944, 12 mil judeus estavam sendo assassinados todos os dias.

A empresa química alemã IG Farben construiu e operou uma fábrica de borracha sintética em Auschwitz 3-Monowitz. Outras empresas privadas, como a Krupp e a Siemens-Schuckert, também tinham fábricas nas proximidades, para usar os prisioneiros como mão de obra escravizada.

Tanto Primo Levi quanto o ganhador do Prêmio Nobel Elie Wiesel sobreviveram ao campo de concentração de Monowitz.

Quando Auschwitz foi finalmente libertado, tinha mais de 40 campos e subcampos.

Como Auschwitz funcionava?

Pessoas de toda a Europa foram amontoadas em vagões de trem para transporte de gado sem janelas, banheiros, assentos ou comida e transportadas para Auschwitz.

Lá, elas eram separadas entre aquelas que estavam aptas a trabalhar e aquelas que deveriam ser mortas imediatamente.

O último grupo recebia ordens para se despir e era enviado aos chuveiros para "desinfecção" — eufemismo que era usado para as câmaras de gás.

Em seguida, os guardas do chamado "Instituto de Higiene" lançavam pastilhas de gás Zyklon-B nas câmaras fechadas, e esperavam as pessoas morrerem. Isso levava cerca de 20 minutos. As paredes espessas não eram capazes de abafar os gritos dos que estavam sufocando lá dentro.

Depois, os chamados Sonderkommandos — outros prisioneiros, geralmente judeus forçados a trabalhar para os guardas ou serem mortos — removiam as próteses, óculos, cabelos e dentes antes de arrastar os cadáveres para os incineradores. As cinzas dos corpos eram enterradas ou usadas como fertilizante.

Os pertences dos mortos e dos que eram enviados para trabalhar eram levados para triagem em uma parte do campo conhecida como "Canadá" — assim chamada porque o país era visto como uma terra de abundância.

Quem eram as vítimas?

Os guardas da SS tentaram esconder seus crimes quando as tropas soviéticas se aproximaram, e tentaram destruir seus extensos registros de prisioneiros — o que dificultou a quantificação total do número de vítimas.

Desde então, estudos acadêmicos concordam que, no total, cerca de 1,3 milhão de pessoas chegaram a Auschwitz — e que 1,1 milhão delas morreram lá.

Judeus de toda a Europa controlada pelos nazistas constituíam a grande maioria das vítimas. Quase um milhão de judeus foram assassinados em Auschwitz.

Um exemplo específico foi a população judaica da Hungria. Em apenas dois meses, entre maio e julho de 1944, a Hungria transportou 420 mil dos 437 mil judeus que enviou para Auschwitz.

Tantos judeus húngaros foram mortos em tão pouco tempo que os corpos das vítimas foram jogados em valas perto do campo e incinerados
Tantos judeus húngaros foram mortos em tão pouco tempo que os corpos das vítimas foram jogados em valas perto do campo e incinerados
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Dezenas de milhares de judeus húngaros eram enviados para Auschwitz todos os dias. Três quartos deles foram mortos na chegada.

Cerca de 75 mil civis poloneses, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos, 25 mil ciganos dos grupos Rom e Sinti, assim como testemunhas de Jeová, homossexuais e presos políticos também foram assassinados pelo Estado alemão no complexo de Auschwitz.

O que aconteceu quando Auschwitz foi libertado?

As autoridades alemãs ordenaram a interrupção das execuções e a destruição das câmaras de gás e crematórios no fim de 1944, quando as tropas soviéticas avançaram para o oeste. O estoque de objetos de valor roubados que estavam no setor Canadá foi enviado para a Alemanha logo depois.

Determinados a apagar as evidências de seus crimes, os nazistas ordenaram que 56 mil prisioneiros restantes marchassem para o oeste, para outros campos de concentração, como Bergen-Belsen, Dachau e Sachsenhausen. Aqueles que estavam doentes demais para caminhar foram deixados para trás; quem não conseguia acompanhar a marcha era morto.

As forças soviéticas encontraram apenas alguns milhares de sobreviventes quando entraram no campo em 27 de janeiro de 1945, junto a centenas de milhares de roupas e várias toneladas de cabelo humano. Mais tarde, os soldados lembraram que tiveram que convencer alguns sobreviventes de que os nazistas haviam realmente ido embora.

Em um discurso para marcar o 50º aniversário da libertação do campo, Elie Wiesel disse que os crimes nazistas em Auschwitz "produziram uma mutação em escala cósmica, afetando os sonhos e os esforços do ser humano".

"Depois de Auschwitz, a condição humana não é mais a mesma. Depois de Auschwitz, nada mais será igual."

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